z..... 30/06/2018
Pensei que o livro fosse sobre curiosidades e relatos engraçados numa valorização folclórica, como as frases famosas do presidente corintiano Vicente Matheus. Nada disso! É de análise histórica no futebol, apresentando textos que surpreendem de maneira positiva ou não e, em ambas situações, desmistificando muita coisa que se estabeleceu. Entre as informações: a de que Charles Miller, em termos práticos, não ser o introdutor do futebol no Brasil (o que não diminui sua representatividade e importância); Zagallo com reconhecimento de destaque como técnico da seleção de 70 (inovador e organizador fundamental, o que costuma ficar à sombra dos craques); um paralelo interessante entre o futebol "feio" do tetra de 94 e o "bonito" do título espanhol em 2010; correlação também entre futebol e política na Espanha; polêmicas nacionais e mundiais (como o título da Copa União de 1987, escândalos nos clubes, na CBF e na FIFA).
O que mais curti foram as abordagens sobre as copas em fatos que nem imaginava. Por exemplo, na de 70 o Brasil fez quase todos os gols em contra-ataque, o que sugestiona uma série de táticas ovacionadas (que não vou relatar), porém, criticadas na seleção do tetra. Na de 82 oportunizou-se análise que pode ser estendida à presença brasileira em todas: contrariando o termo complexo vira-lata, cunhado por Nelson Rodrigues, o país futebolisticamente tem é complexo pitbull, que seria um sentimento de superioridade que o leva a sempre buscar desculpa qualquer para as derrotas, desqualificando o desenrolar tático que se apresentou. Muito interessante isso, que parece se estender à cultura brasileira em querer sempre dar um jeitinho em tudo (ou uma desculpa ilusória para tudo).
A parte chata, não pelo texto e sim para o que se revela, está nos escândalos. Quem diria! Até o Pelé, que posa como defensor das crianças, tem histórias de negociações escusas e vergonhosas para o posicionamento que defende. E olha que nem citaram a questão da filha que nunca reconheceu, mesmo provando-se (quantos lembram disso?). O texto tem também coisas escusas ao tratar de torcidas organizadas.
A parte que faz prognóstico sobre a arbitragem eletrônica, em paralelo ao que vemos hoje na copa da Rússia, só mostra que futebol não é ciência exata. o texto desqualifica algumas metas, como o chip eletrônico na bola, quando hoje todos gostariam de ter essa tecnologia nos campeonatos, que tem se mostrado de grande eficácia. A questão do "tira-teima" (VAR hoje), descrito com temor de parar muito o jogo e até mesmo estragar, também não se estabeleceu no prognóstico do livro.
Gostei bastante. Não entendo bulufas de análise tática em futebol (falso nove, 4-3-2-sei lá o quê, nó tático e por aí), mas aprecio história futebolística. Por isso o livro foi muito instigante. Deixa estar! Vai me servir paras as discussões bestas (mas com meus amigos divertida) em torno do mundo da bola. Ih! Conheço uns cabras super fanáticos que gostam de ter razão pra tudo no desprestígio a outros clubes (incluindo o meu, que tem histórias sujas e vergonhosas também). Vai ser dessas coisas bestas, em discussões inúteis, bancar o sabido para meticulosamente dar aquela "pisada" contando de onde veio a palavra "tapetão" nas maracutaias dos times que gostam de avacalhar. Veio do time deles. Deixa estar!
Por tudo isso e muito mais, foi leitura legal. Senti falta de relatos sobre o Garrincha e seria interessante ver pareceres sobre a copa de 2014 (obras superfaturadas ou inacabadas, com estratégias em que muitas não trouxeram benefícios como prometido; a frase equivocada do Ronaldo sobre "não se fazer copa construindo hospitais"; a cara dos petistas, principalmente da presidente, com insucessos no que planejaram para alavancá-los com a copa e, claro, o 7 a 1). Ressalte-se que a obra é anterior a esse ano, mas creio que seria enriquecida nessa abordagem.