Julia G 11/03/2015Silo“[...] As coisas estavam mal, de alto a baixo.
Um grande conjunto de engrenagens tinha saído do lugar.
Dava para ouvir o barulho da semana anterior, as batidas e o clangor,
a máquina saindo com um ronco de seus suportes e deixando mortos em seu rastro.
E Juliette era a única que ouvia o barulho.
Era a única que sabia do problema, mas não sabia em quem
podia confiar para ajudá-la a resolvê-lo.” (p. 187)
O futuro distópico descrito em Silo, escrito por Hugh Howey, é apresentado aos poucos aos leitores, que descobrem os elementos mais importantes no decorrer da história, junto com os personagens. Essa formatação, quase como uma ampulheta, foi uma contribuição positiva para a narrativa, por ditar o ritmo da leitura e, principalmente, por mostrar informações para que déssemos um sentido para elas e, no momento seguinte, percebermos que estávamos errados. Construído entremeado por essas reviravoltas, o livro atiça a curiosidade e instiga a descobrir em que está dissimulada a verdadeira natureza do Silo, cuja realidade se mostra um pouco mais a cada capítulo. É fascinante descobri-la assim, aos poucos, mas frustrante ao mesmo tempo, por termos que desfazer todas as conclusões a que chegamos quase sempre, porque o autor simplesmente desviou o foco e nos fez chegar às conclusões erradas.
Os personagens criados por Howey são complexos, inteiros, humanos. Eles são inconstantes e nos fazem ter opiniões conflitantes sobre eles. Ainda assim, é difícil não se envolver por cada um, não compreender suas atitudes, sejam elas certas ou erradas. Nem um deles é bom ou mau, apenas age certo ou errado em alguns momentos. Podemos conhecê-los inteiramente pela divisão criada por Howey: há diversos núcleos, que aparecem mais ou menos conforme a divisão do próprio livro, que é separado em partes. A narrativa é sempre em terceira pessoa, mas sempre pelo ponto de vista de um único personagem.
"Melhor se unir a um fantasma do que se assombrado por ele.
Melhor não ter vida do que ter uma vida vazia..." (p. 112)
O único problema a ser citado na obra, que advém dessa mesma estrutura do texto, é que a escrita é detalhista ao extremo, fazendo comparações e descrevendo os mínimos detalhes de qualquer ação realizada pelos personagens, o que torna o texto extenso e, por vezes, cansativo. Não que seja chato, pois a linguagem utilizada pelo autor permite filosofar sobre as coisas mais simples; apenas desnecessário: não era preciso mais de um parágrafo ou dois para contar sobre subidas e descidas pelas escadas do Silo, por exemplo, mas o autor se prende nas minúcias. O livro, por isso, se torna demasiado longo para não muitos acontecimentos.
Ainda assim, a obra tem sua originalidade e não peca nas explicações. Ela dá as que são essenciais, apenas para tornar o funcionamento do Silo e a vida dos envolvidos crível, sem se aprofundar muito. Acredito que seja porque o próximo volume, aparentemente, contará como tudo teve início, esclarecendo o que ficou em suspenso em Silo.
site:
http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2014/06/silo-hugh-howey.html