Sâmella Raissa 11/05/2020Resenha original para o ig @sonhandoaosvinteDesde os tempos de blog, eu sofria para resenhar os livros da Kristin Hannah. Quem já leu algo dela sabe que a intensidade de suas histórias estão em um nível tão único que é difícil colocar em palavras o que sentimos com a leitura. Foi assim com o primeiro que li dela, O Caminho para Casa, e voltou a se repetir nos demais, como no caso de Amigas para Sempre agora. A diferença é que, dessa vez, talvez esse tenha vindo a se tornar o meu menos favorito da autora, o que, porém, não diminui em nada o quão arrebatadora, envolvente e marcante é essa leitura.
Como é característico da autora, Amigas para Sempre vai abordar muito desde temas de amizade, família, amor e maternidade. O grande bônus desse livro, que quase se equipara com meu favorito dela que é Jardim de Inverno, é o fato da história atravessar várias décadas e podermos não só conhecer a fundo os personagens, como nos apegarmos à eles de forma orgânica enquanto os acompanhamos crescerem e mudarem ao longo dos anos.
Eu gostei da forma despretensiosa e simples com que Tully e Katie se tornaram amigas. Seus dramas familiares aprofundam isso de tal forma a me fazer sentir parte de suas vidas, e a forma com que Kristin desenvolveu tudo só me fez apegar ainda mais à elas, em especial à Katie. De longe minha personagem favorita, não por alguma característica excepcional, mas por ser o retrato da garota simples e clichê de sua época, doce e humilde, que por vezes se vê perdida do que fazer de sua vida e que ainda está tentando se encontrar.
Tully, por outro lado, é mais vibrante e ativa, o que me cativou muito em vários momentos e impressionou por sua força de vontade e determinação, mas em outros me irritou bastante. Não por ela ir atrás do que quer ou por não se calar, mas por sua energia por vezes apagar e até fazê-la ignorar a Katie e o que ela passa, sente e pensa em certas situações. Nesse ponto a narrativa se desdobra a contar quase uma história do que são as amizades na vida real, que bem sabemos que nem sempre são flores e que podem, mesmo sem a intenção, soarem abusivas sem que se perceba.
Assim, mais do que os outros livros e como o próprio título dá a entender, Amigas para Sempre acaba focando bem mais na amizade e suas nuances na vida das personagens, a forma como a relação que começou aos 13, 14 anos vai se modificando ao longo de suas vidas, à medida que as novas batalhas da vida real adentram as vidas de Tully e Katie e as fazem mudarem não só com respeito à elas mesmas mas, também, sobre como enxergam uma outra, o quão elas estão dispostas a respeitarem o espaço, desejos, ideias, opiniões e decisões uma da outra e como cada pequena mudança irá impactar na relação delas.
Por vezes me vi tentada a entrar na história e dar uma sacudida nas duas ou nos demais ao seu redor; ora queria que elas se reconciliassem por qualquer que fosse o motivo, ora pensava que a amizade delas não fazia mais sentido. Foi uma gama de pensamentos diversas que me acompanharam ao longo da leitura, até vê-la colocada à prova na derradeira traição que a sinopse do livro cita. Sendo sincera com vocês, eu temi que essa traição tomasse determinados e fatídicos rumos e já estava cogitando pausar a leitura, com medo de me decepcionar com uma coisa x, mas quando aconteceu, foi por vezes menor e maior do que eu imaginava. Menor por não ter seguido o rumo que temi, mas maior por ter mexido com as personagens de uma forma tão densa, tão delicada.
Daí em diante, minha reação de imediato foi questionar mais ainda o quão verdadeira era a amizade delas. Por vezes até se uma amizade, por mais sincera e firme que seja por ambas as partes, conseguiria mesmo aguentar tanto tempo, tantas mudanças, tantas coisas, e principalmente algo como aquilo. Antes, tão logo eu me questionava isso, Tully e Katie me faziam ver, aos poucos, que sim, é possível. O segredo é as duas partes quererem que isso aconteça, e é essa a grande questão que vai fechar um livro. Digo à vocês, é um desfecho por vezes agridoce, que tanto me faz duvidar da relação delas quanto admirá-la ao mesmo tempo. É um desfecho por vezes agridoce, que tanto me fez duvidar da relação delas quanto admirá-la ao mesmo tempo, resultando num livro que, ainda que tenha sido menos cativante para mim do que os outros que li dela, não deixa de ser maravilhoso e refletir tanto da autora e de sua habilidade em contar histórias.