Luis 22/06/2014
Nosso mundo desfocado e desatento.
Daniel Goleman entrou para as listas de best sellers em 1996, ao publicar Inteligência Emocional. Desde então, com variações sobre o mesmo tema, o psicólogo e jornalista vem emplacando títulos em sequência que , via de regra, viraram leitura da moda nos círculos corporativos de RH.
Confesso que o tipo de literatura promovido por Daniel, perigosamente próximo da autoajuda, nunca me entusiasmou muito, até que li uma citação favorável de um intelectual que eu respeito e admiro : O bravo Zuenir Ventura. Em sua coluna no Globo, Mestre Zu, discorrendo a respeito das distrações do mundo moderno, mencionava a mais recente obra do americano. Foi o suficiente para aguçar a minha curiosidade.
Foco- A atenção e seu papel fundamental para o sucesso (Objetiva, 2014) cai como uma luva nesses tempos de agitação digital, em que nossa atenção se fragmenta entre smartphones, tablets, laptops, smart TV´s, vídeos games e toda a parafernália que configura a contemporaneidade. É cada vez mais desafiador, sobretudo para as novas gerações, desde cedo imersas nessa lógica, ter momentos verdadeiros de atenção e foco total na atividade em que se está envolvido, seja ela de labor ou diversão. Discutir essa tendência e apontar as fragilidades decorrentes é o propósito de Goleman nesse volume e o autor não decepciona.
Com 21 pequenos capítulos divididos em 7 partes, Foco muitas vezes não foge dos manjados clichês do vocabulário empresarial. Apesar desse senão e de eventuais conselhos que teimam em dar uma aura de manual a boa parte das obras do gênero ( o que, a meu ver, só enfraquece o texto), o debate proposto pelo psicólogo é válido, sobretudo quando se debruça sobre as questões que envolvem o impacto da falta de foco na produtividade e na liderança. Nesse último quesito, o autor não se furta a criticar a avalanche de dados, muitas vezes inúteis, que prejudicam a análise aprofundada de um determinado cenário e levam muitas vezes a erros na tomada de decisão. Para Goleman, o líder, além de todas as suas responsabilidades para com a equipe, clientes, acionistas e sociedade em geral, deve, antes de qualquer coisa, ter a sensibilidade de identificar na selva caótica de informações, aquelas que efetivamente são relevantes para o seu negócio e devotar a atenção devida. Em outras palavras, ter foco. Quem tem um mínimo de experiência no atual ambiente corporativo, há de concordar com a tese.
O livro traz também uma importante desmitificação a respeito do conceito de multitarefa. Segundo Goleman, o fato é que a atenção é monogâmica. Não tem outros parceiros. O que acontece muitas vezes, é que ao alternarmos de uma ação à outra, desviamos o nosso foco de maneira extremamente rápida, mas no momento de cada atividade, a atenção reside unicamente sobre ela. Logo, aquele motorista que dirige enquanto falar ao celular, se realmente estiver falando ao celular, não está pois dirigindo.
A vida social também sofre com as distrações. Não é incomum que, por exemplo, um grande número de pessoas , mesmo na presença de inúmeras outras à mesa, insistam em almoçar dialogando com seus telefones celulares num frenesi de mensagens e atualizações intermitentes, ignorando a presença física de quem quer que seja. O foco no outro, o ouvir na acepção do verbo ( e não simplesmente escutar) são fatores primordiais na construção das relações pessoais em todos os níveis. Suscitar essa reflexão é o grande gol do livro.