Milena Karla - Mika 09/07/2021
Este é um livro "bem" escrito, mas, percebi depois de chegar lá pela metade, que é esse um dos problemas do livro. Quando você está lendo uma história, e fica pensando constantemente no autor, e em como ele escreve, é porque tem algo errado.
Achei a escrita muito boa. Sutilmente, a autora consegue descrever detalhes de acontecimentos, expressões faciais e linguagem corporal dos personagens. Você tem a sensação de estar assistindo um longo filme. Também gostei das descrições dos quadros, e das reflexões das últimas páginas.
Porém, o livro tem descrições detalhadas exageradas dos personagens quando estão sob influência de drogas, romantizando o uso de drogas e bebidas alcóolicas. Fica evidente no livro como o uso de drogas e bebidas alcóolicas é nocivo, pois os personagens passam por situações horríveis por causa dos seus péssimos hábitos, porém, os próprios personagens se entregam a isso, sem lutar realmente. Achei bem idiota e sem sentido. Um tanto imaturo. O protagonista é adolescente, mas a autora não. Então ter várias descrições desnecessárias sobre ele vomitando, bêbado, e rindo e se sentindo péssimo e como isso de alguma forma fez ele formar uma amizade "verdadeira" com o amigo-má-influência-que-inclusive-agride-mulheres dele, não me convenceu MESMO. Senti como se a autora estivesse se esforçando muito pra tentar me convencer disso, com palavras demais, como alguém contando uma mentira.
A ideia de que fumar, beber e usar drogas faz uma pessoa mais "profunda" não cola comigo. Acredito que quem recorre a essas coisas precisa de ajuda psicológica urgente.
--- Não recomendo esse livro porque:
1) É muito longo e acaba sendo um mal investimento do seu tempo
2) Tem descrições longas e cheias de palavras sobre detalhes, pormenores e momentos inúteis de uso de drogas que não ajudam em nada e são nojentos
3) É negativo e triste
--- Lados positivos:
1) Fala sobre tragédia e morte, e te faz refletir nisso, e sentir empatia. Descreve muito bem a sensação de estar num lugar conhecido e familar versus um lugar desconhecido. Aquela sensação de se perder num supermercado quando criança e as mudanças no ambiente que a morte causa.
2) No final do livro, tem algumas reflexões bem legais sobre arte. Foi o que mais gostei. Falou sobre como a arte é como um sussurro do passado. Achei legal pensar nisso.
3) Tem um toque poético em alguns momentos, especialmente nas últimas páginas.
--- Conclusão
É um livro longo demais, um pouco pretensioso, mas também muito bem escrito. Aprendi bastante como escritora lendo ele. Mas o que mais aprendi foi que não quero escrever assim. A escrita da Donna Tartt soa como os pensamentos soltos e chatos da minha cabeça quando estou tendo um ataque de ansiedade. Palavras demais, preocupação excessiva com detalhes e negatividade.
Gostaria que o livro tivesse costurado melhor o sentido (moral da história) e a conclusão com o meio do livro. Ficou meio... História caótica e negativa e PA, de repente uma reflexão positiva lá no final. Um pouco incoerente.
Não recomendo a leitura, mas não me arrependo inteiramente de ter lido, pois sinto que me conheço um pouco melhor depois de encarar esse livro. Vou evitar esse tipo de leitura daqui pra frente.
--- Alguns trechos do livro (Eu li em inglês, o último trecho eu traduzi)
"Everyone was happy, do you know. He knew everybody wasn’t in the position to come in and buy some big important piece—it was all about matchmaking, finding the right home.”
"And I feel I have something very serious and urgent to say to you, my non-existent reader, and I feel I should say it as urgently as if I were standing in the room with you. That life—whatever else it is—is short."
"Across those unbridgeable distances—between bird and painter, painting and viewer—I hear only too well what’s being said to me, a psst from an alleyway as Hobie put it, across four hundred years of time, and it’s really very personal and specific."
"É uma glória, e um privilégio, amar o que a morte não toca."