Idade Média Tardia

Idade Média Tardia Eric Voegelin




Resenhas - Idade Média Tardia


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Marco 19/09/2016

Obrigatório
"Idade Média Tardia" foi até agora o melhor volume do hercúleo trabalho de Eric Voegelin em "História das Ideias Políticas". Admito não saber responder se tal fato acontece por uma suposta evolução dos próprios conceitos adotados pelo autor do 1º volume até este que aqui resenho, ou se por minha pessoa já estar calejada e, portanto dotada de uma compreensão melhor dos instrumentos da filosofia política do autor.
Seja como for, o período aqui abarcado e caracterizado pela dissolução da noção medieval de império cristão, resultando no surgimento de sentimentos nacionais é explanado com maestria, graças a esses instrumentos citados anteriormente.
Há de se ter em mente que para o autor, Leis e Instituições resultam no fundamento basilar do que seres humanos pensam, como agem e como se sentem com relação a realidade política (cosmion). Implícito e subjacente encontra-se a relação entre homem e religião, e como esta última afeta a política.
O mérito dessa ciência política e seus instrumentos como "ideias evocativas" e "sentimentos" é ter encontrado um sistema de ordenamento que se pode REALMENTE compreender a Ordem Medieval à luz de um sentimento de fato medievo, e não incrustado de preceitos e interesses modernos. Aqui se busca compreender o período como de fato os que ali viviam assim o compreendiam. Como resultado, podemos observar a maneira que as análises sobre a Idade Média são pautadas em nada mais do que ignorância, de forma que ideias como constitucionalismo, autodeterminação, secularismo, etc, possuem sim como precursor o período em questão. Chocante e irrefutável, portanto torna-se a conclusão de Voegelin de que o absolutismo (a escuridão, as Trevas tanto invocadas pelos historiadores modernos) possui sua institucionalidade traçada ao renascimento e a dissolução da visão medieval de mundo (divido em Temporal e Espiritual).
Apenas para dar um exemplo do quão incomparável é o trabalho de Voegelin, posso citar os capítulos concernentes ao surgimento do sentimento nacional dos povos. Durante toda minha vida - ao ler livros de história - fui bombardeado com a informação de que França,Inglaterra, Alemanha, etc. não eram as nações que hoje conhecemos. Tinha sim conhecimento da lealdade ao suserano do feudo local, mas da mesma maneira, os livros insistiam em utilizar termos modernos para descrever uma guerra entre dois reinos que nada diferenciavam de uma "França" e uma "Inglaterra" moderna para mim. Pois bem, Eric Voegelin foi o único escritor a conseguir elucidar esses sentimentos como vivenciados por esses povos. Finalmente pude abarcar em meus conceitos a forma como passaram a autodeterminar-se e assim enxergar-se. Tudo isso acompanhado por detalhes minuciosos e erudição sem igual.
Ademais sua análise sobre a autodeterminação inglesa merece mais destaque do que qualquer outra. Voegelin vai na contramão de todos os historiadores, cientistas políticos e filósofos modernos ao afirmar que a Inglaterra é o país que é hoje (livre mercado, lar dos filósofos morais e da liberdade) não por instituições contínuas e evolutivas que pelo passar do tempo se afrouxaram, mas sim pelo caráter régio centralizador que derivou mutuamente deveres e direitos para com o reino, incluindo a participação de comunas na integração institucional. De cair o queixo.
Eric Voegelin também analisa ao ponto do não mais que necessário, grandes pensadores e suas influências institucionais futuras, ou como conseguem compreender o período como ninguém, sendo suas evocações obras de gênios incomparáveis. Dentre esses, Guilherme de Ockham, Marsílio de Pádua e Nicolau de Cusa foram meus preferidos.
Por fim, resta-me terminar a resenha lamentando o fato de Eric Voegelin não ser leitura obrigatória (como ressalta o título da resenha) em qualquer curso de História, Ciências Políticas e até mesmo Filosofia nas Universidades Brasileiras. Afinal a linguagem do livro é objetiva e fácil de ser entendida. Os argumentos são elucidados minuciosamente mas sem tergiversar, tornando todo o processo muito agradável.
Ansioso para o próximo.
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