hellen 04/06/2024
E quando estranho a vida, aí é que começa a vida.
Não parece ser o fim dele, mas só um novo começo de devaneios e atravessamentos, com certeza pede muitas releituras com o tempo. Clarice tem esse dom de colocar em palavras afetos, antes até mesmo desconhecidos, que nos atravessam.
Água viva foi/é uma experiência diferente, a personagem narradora não tem uma identidade fixa ou exposta (e isso que faz ela ser tão surpreendente, parece que estamos mais ligados por isso), narra pensamentos corridos, curiosos, reflexivos, entra em dilemas entre presente, passado e futuro, focando nesse instante que se perde, nesse instante inalcançável. O instante é tudo e deve ser lembrado - "...pergunto se você aguenta que o tempo seja hoje e agora e já."
A dita liberdade e solidão, junto com a sua busca por um lugar no mundo, um sentido de viver. Assim, os dilemas com Deus tambem estao presentes por interrogações e questionamentos sobre vida, morte e propósito.
Nessa obra a arte da pintura é colocada como uma forma de abstração do pensamento e tenta-se passar para a palavra esse sentir, parece ser um objetivo da narradora. Ela conversa com a gente, faz perguntas e pausas necessárias (mesmo q não seja dividido em capítulos).
Esse livro significou muito pra mim, espero revisitar essas anotações e trazer mais e mais sentidos.
"Agora é um instante. Você sente? eu sinto."
"Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar..."