elemzinha 01/04/2013
A Religião: jogos de guerra, poder e sedução
A pergunta é: Por que este livro não se tornou uma serie de tv épica? Ou um filme incrível? Confesso que os primeiros capítulos pecam em excesso de informação e tendem a se tornar cansativos... maaaaaas... tudo acaba fazendo sentido e a adrenalina do restante do livro compensa a introdução arrastada.
A Religião trata do Cerco Malta o século XVI, a terrível guerra entre turcos e cristãos onde o confronto vai além do combate físico e se desdobra pelos melindrosos terrenos da fé, amizade, amor, política, história e economia. É o século da Inquisição, do intenso comércio pelo Mediterrâneo, do Grande Turco, do pecado e, acima de tudo, do sangue.
Em meio a ficção, a cultura cristã e a islãmica são exaustivamente exploradas neste romance cheio de referências a personagens reais, relatos históricos e dados geográficos. Nunca li um livro em que as descrições da sociedade em guerra parecesse tão próxima e desesperadora.
É neste contexto que Matthias Tanhauser, o herói perfeito (independente, encantador, genial, e BRUTO), alemão e ex-integrante da elite dos Leões do Islã, é contratado pela nobre Carla de la Penautier para acompanhá-la no resgate do seu bastardo perdido.
A presença de Tanhauser em Malta é, antes de mais nada, de interesse da Igreja Católica, uma vez que seus conhecimentos e experiência podem se mostrar úteis aos Cavaleiros de São João (chamados de A Religião, daí o título), nobres guerreiros defensores da Ilha. E em se tratando de interesses católicos, tudo é possível e levado aos extremos, o que é revelado na teia de intrigas e jogos de poder e politicagem que se desenrolam durante a narrativa do cerco.
Matthias é um oportunista, aventureiro, matador; um homem construído a partir do misto de culturas que presenciou, sem fé definida, sem lar, sem família. Um gigante que conta com a amizade de outro: Bors de Carlisle, o brutamontes leal que acompanhará Tanhauser nos campos de batalha e em quaisquer outras empresas.
Carla é culta, nobre, cristã, devota, perturbada por um passado em que pecou por amor (amor que voltará a cruzar violentamente seu caminho na figura do vilão da história, vestindo batina e proclamando a dignidade da Inquisição). Sua fiel companheira é a estranha, simples e sensual jovem espanhola chamada Amparo, uma garota de olhos coloridos que lê mãos, recebe supostas visitas de anjos e tem reveladoras (e pertubadoras) visões. Entre Carla, Amparo e Tannhauser se forma um triângulo amoroso que é apenas um detalhe se comparado aos desafios que enfrentarão em Malta.
Encontrar uma criança desconhecida na Ilha de seria tarefa difícil. Quando a Ilha é o coração da pior guerra santa de que se tem notícia, o desafio se encontra nos limites do impossível e leva os protagonistas para o cenário mais terrível e improvável que se poderia imaginar. Por isso mesmo, A Religião é um livro que pinga sangue. Um livro com descrições podres, realistas, fantásticas.