spoiler visualizarlahmot 10/06/2024
Inesperadamente, esse foi o livro mais triste que eu li esse ano.
Quando você ouve falar da famosa história do homem que um dia acordou metamorfoseado num inseto, ou pelo menos como foi no meu caso, é como se fosse uma história tão conhecida que você pensa que já sabe como ela deve ser, até mesmo já sabendo como termina, mas acho que nada pode te preparar de fato para a experiência que é ler esse livro.
Uma premissa tão simples, tão sem explicação e repentina, e não é necessário nada mais do que isso. Um tanto absurda, chega a ser cômica a imagem de uma baratona (o que não é o caso, tá? nunca é dito que é uma barata) gigante deitada na cama, até você finalmente ler a obra. Depois disso você não consegue mais ver essa imagem de outra forma.
Ela é narrada em terceira pessoa no ponto de vista de Gregor Samsa e não há nada mais desesperador do que se colocar na situação dele, encontrando-se tão imponente naquele cenário. Não tenho muitas palavras complicadas para descrevê-la - a obra, apenas consigo dizer o quanto ela é triste, tristeza de angústia mesmo, vendo aquela pessoa, que nunca perdeu as esperanças e sua essência humana, ser tão desprezada pela própria família. Eu nem sou tão extrema ao ponto de considerá-los monstros, até compreendo seu lado, mas nada vai apaziguar meu sentimento visto da perspectiva do Gregor.
Existem mil e uma metáforas que podem ser encaixadas nessa história, mas eu particularmente enxerguei a metamorfose como uma metáfora à invalidez. Desde o início é de nosso conhecimento que Gregor não está satisfeito com o trabalho, mas o faz para ajudar em casa, para trazer conforto para a família até que, de um dia para outro, não consegue mais fazer isso. Aquele que somente pensou no bem de todos até o fim, que imaginava e pretendia dar um futuro bom para a irmã, que desejava arcar com as dívidas dos pais, foi rapidamente destratado a partir do momento em que fica impossibilitado de contribuir para a família. Ele vira um empecilho, um encosto que todos suportam por pura obrigação. Ele deixa de ser alguém, e torna-se uma "coisa".
Ao mesmo tempo, é interessante ver que foi a partir desse acontecimento que os membros da família finalmente moveram-se para se sustentar. A "muleta", Gregor, foi embora então é hora de geral arrumar emprego. Não que eu concorde com o pai dele voltar a trabalhar após ter se aposentado, mas honestamente, pela forma que tratou o próprio filho após o incidente, não me sinto mal por ele não. A família seguiu em frente com um novo futuro ao horizonte, mas a sombra de Gregor foi deixada para trás.
É uma leitura fluída e rápida, sem complicações. Um livro curto, daqueles que você de repente ainda se encontra pensando tempos depois de ter terminado. (Nem que seja para ver uma barata no ralo, apontar a ela e dizer: "Olha aí o Gregor!".)