Lauraa Machado 13/10/2017
Poderia ter sido muito melhor
Muitas vezes quando eu vou escrever uma resenha, me pergunto o que faz um livro ser bom, o que me leva a escolher quantas estrelas dar para ele. Uma das partes mais importantes é se ele entrega aquilo que prometeu, mas a escrita também é válida. Os personagens, ainda que muitas vezes não façam tanta diferença para outras pessoas, são essenciais para mim. E, em relação a tudo isso, eu poderia dizer que esse livro talvez mereça cinco estrelas.
Mas eu simplesmente não gostei muito dele. A escrita da Laini Taylor é realmente ótima, porque ela explora emoções na narração, ao mesmo tempo que "brinca" com a ordem das palavras e dos acontecimentos sem se perder em nada. Isso é muito raro e muito incrível. O único problema é que às vezes ela explora as cenas demais. No primeiro livro, já senti que ela tinha feito isso algumas vezes, mas era só estilo e não chegou a roubar o ritmo da história. Nesse, infelizmente, não caiu tão bem.
A versão que eu li em inglês tinha 513 páginas, mas toda a história dele poderia ter sido escrita em 300 se a autora não tivesse perdido tanto tempo explorando personagens e acontecimentos desnecessários. É interessante ver o lado de uma quimera simples e no meio do nada, que não deveria ter nada a ver com a guerra? Claro. Mas quando chega no quinto capítulo dessa personagem - que no final das contas nem importa por razão alguma além de curiosidade, - fica chato. Teve um outro personagem que apareceu na história por um só capítulo, mas até esse poderia ter sido menor. Entendo a intenção dela de querer mostrar detalhes da vida de outra pessoa rapidamente, de uma pessoa que poderia ter passado despercebida, mas não funcionou para mim (como funcionou, por exemplo, no livro da Leigh Bardugo, Six of Crows).
Até cheguei a pensar que ela deixou muito a desejar na explicação de dois lados da mesma guerra, uma coisa que a Kiersten White fez maravilhosamente bem na continuação do livro Filha das Trevas. Talvez ter lido livros tão bons antes tenha me feito sentir a diferença entre eles e esse mais do que o normal.
Quem dera se essa fosse a única enrolação do livro. Até mesmo a história da Karou foi arrastada completamente. Eu imaginaria que em um livro com mais de quinhentas páginas, as coisas fossem mudar drasticamente comparando o começo ao fim, mas não. Até o primeiro livro, cem páginas menor, teve reviravoltas mais inesperadas e interessantes que esse. Aliás, se eu pudesse resumir esse livro, diria que ele é uma grande espera.
E, não, eu não quero ter que ler um livro inteiro desse tamanho para ter só acontecimentos realmente essenciais em uns três capítulos nas últimas cinquenta páginas. Não quero ter que passar por todas as páginas sentindo que não estou saindo do lugar.
E não foi nem questão de demorar para ler, já que eu terminei o livro em dois dias, em duas "sentadas". Ele continua sendo mais rápido e fácil de ler do que eu esperava, só foi chato mesmo.
O desenvolvimento dos personagens é muito bom ainda, principalmente da Karou, mas ele poderia ter sido feito em menos de cem páginas, principalmente porque, apesar do rancor dela e da culpa, eu senti quase o tempo todo que ela estava ignorando a mensagem que o Brimstone tinha passado para ela durante a vida inteira (não quero ser específica, mas né). Até entendo que ela precisava de um catalisador mais potente, mas me incomodei em ter que esperar mais da metade do livro para ele aparecer. Antes disso, ela ficou presa em uma vida sofrida e cativa que ela mesma cavou para si. E talvez essa seja a única incoerência para mim, como ela odeia quem já amou, mas se alia sem pensar a quem só a quer morta. Sem contar com o tempo todo que ela passa querendo se redimir sem pensar em paz. Se o Brimstone estava certo há dezoito anos atrás, ela não deveria ser do tipo de pessoa que aceita isso tão fácil assim, principalmente depois de tudo que viveu.
Mas cada pessoa reage a luto à sua maneira, então nem me incomodei tanto com o que ela sentiu, só com o tempo exagerado que a autora demorou para desenvolver isso, toda a situação dela. Com o Akiva, apesar de ele não ter saído muito do lugar também, foi bem mais rápido e lógico.
O final do livro tem suas cenas mais emocionantes e que realmente têm consequências diferentes para os mundos, mas nem consegui me animar muito, depois de ter passado tanto tempo esperando por qualquer cena mais interessante. Vou ler o terceiro em seguida, mas não porque estou animada, só por medo de desistir dessa trilogia se parar agora. Porque, realmente, o primeiro livro foi bom demais para a caída desse.
Aliás, aqui vai minha apreciação pela Zuzana e pelo Mik, oásis - quase literais, - nessa história toda. E, também, pela Liraz e pelo Hazael.