Luan 27/01/2017
Com foco, Praga volta a dar relevância a uma série boa mas com problemas
Diferente dos dois volumes anteriores, Praga pareceu ter foco e objetivo, por isso é possível dizer de antemão que ele é sim um dos melhores da série, perdendo apenas, possivelmente, para o primeiro, Gone, que também dá nome à saga. Eu tenho uma certa relação complicada com esses livros. Gosto, tenho um carinho especial, mas ao mesmo tempo tenho algumas ressalvas sérias. Mas no conjunto da obra, será sempre uma série que vou procurar indicar, principalmente se o próximo volume for tão bom quanto este – e tá prometendo mesmo.
No quarto livro da saga, as crianças de Praia Perdida já estão vivendo reclusas no LGAR, separadas do restante do mundo por uma barreira misteriosa, há quase um ano. Os problemas só aumentam, é claro. E como em uma sociedade normal eles vão se ajustando e juntando responsabilidades para conseguirem sobreviver. Desta vez, o principal desafio para os moradores é, além da Escuridão, que, de alguma forma ou outra, sempre é responsável pelas vilanias da história, uma doença estranha que está acometendo grande parte dos habitantes. Daí, o nome Praga, para quem não entendeu.
A estrutura do livro é muito parecida com os anteriores – e esta é uma das minhas sérias reclamações, mas é assunto para depois -, onde os personagens que já conhecemos, com o acréscimo de alguns novos, vão precisar lidar com os problemas – que vão de fome, passando por doenças, até os vilões da história. Vai ter uma aventura com revelações, vai ter briga entre os bons e os ruins, vai ter a batalha final. Mas o que o tornou diferente foi o acréscimo a algumas situações envolvendo, por exemplo, o Pequeno Pete, e revelações possíveis sobre o que está acontecendo. Parece que, finalmente, o autor resolveu fazer a história andar de verdade.
Mas então falemos dessas ressalvas. Acho que é fato para todo o leitor da série que a história não parece andar para muitos lugares. A estrutura, como já disse, é sempre muito parecida. O livro começa mostrando como estão os moradores depois de algum tempo, aí começam a aparecer os problemas e as confusões, chega um momento que parece que tudo está perdido, até que chega o grand finale e tudo volta a ficar quase bem. Talvez esse tenha sido o motivo que me fez achar Mentiras tão chato. Foi uma mistura tão grande de vários temas e acontecimentos e parece não andar a lugar algum. Já em Praga, apesar de manter um esquema parecido, o autor pareceu se focar muito mais na "praga" e em menos, mas grandes, problemas. E por isso a história toda funcionou.
O que me incomodava ainda na série era um fato que também me atraia nela. O livro, mais do que tratar do mistério que é barreira que separa os habitantes do restante do mundo e do sumiço dos adultos, retrata como crianças de até 15 anos lidam com problemas, mostrando que, desafiadas pelos problemas, elas são capazes de montar uma sociedade à nossa semelhança, com as nossas preocupações e os nossos problemas. Ótimo, grande ponto para Michael Grant em utilizar tão bem uma premissa que pode ser tão complicada. Mas, em compensação, me irritava o fato de não aparecer muitos indícios do que significava a barreiras, de mais mistérios ou revelações envolvendo aquele mundo ignorado do mundo. E isso também pareceu ser superado nesse livro, por isso gostei dele.
Pode não ter ligação, no fim das contas. Mas o autor lançou novas pistas e fatos em relação ao que aconteceu que deu uma nova perspectiva ao livro e abriu várias portas para a história poder caminhar de forma diferente. Muito mais do que simplesmente narrar o dia a dia de uma sociedade formada por crianças e adolescentes, Praga nos fez pensar sobre o grande mote que atraiu tantos leitores: afinal, o que aconteceu em Praia Perdida? Além disso, sim, foi muito divertido também acompanhar a o mistério da praga que assolava os moradores e de novos seres, espécies de insetos, capazes de devorar os humanos.
Além de tudo isso, continuou muito atraente acompanhar personagens tão bem construídos que estão evoluindo e isso é notório e ponto positivo para o autor. Quase um ano lá dentro e conforme os livros avançam, mostraram novos traços nas personalidades de todos. Talvez, acima de tudo, de Astrid, que é responsável por um dos principais acontecimentos de toda a série até agora, e de Caine, que, apesar de ainda ser o grande antagonista, precisou dar o braço a torcer perante a sociedade. O livro traz ainda aquela narrativa forte de Grant, com descrições nojentas e sangrentas que marcam toda a saga. Sem deixar de citar, claro, muitas mortes, novamente, para aumentar ainda mais o cemitério da praça.
Praga ainda se sobressai aos demais no que diz respeito à leitura. Não sei se me esqueci pelo tempo que faz que li o anterior (cerca de um ano), mas a agilidade para ler esse livro foi convidativa. Foi muito rápido lê-lo. Os acontecimentos ajudavam, claro, mas o texto bem feito aliado ao bom ritmo empregado pelo autor foram determinantes. Em relação à diagramação e revisão, segue o mesmo dos livros anteriores. Letra em tamanho bastante bom, espaçamentos que favorecem a leitura, mas uma capa que ainda está aquém do que merece, e não lembro de palavras com erros. Em um primeiro momento, até considerei dar cinco para o livro, mas ainda espero que chegue o volume ideal para dar a nota máxima. Para Praga, por enquanto, quatro e a nomeação de que é um dos melhores da saga até agora.