Fábio Valeta 29/04/2020
“O Homem que quer manter-se fiel à justiça, deve tornar-se incessantemente infiel às injustiças, sempre inesgotavelmente presentes.”
Charles Péguy, citado na abertura do livro.
Poucas seriam as pessoas que não considerariam o problema da fome uma tragédia mundial e urgente. Apesar de ser um problema sério, muito discursos são feitos enquanto poucas ações são tomadas. Esse livro nada mais é do que uma grande denúncia contra aqueles poderiam agir contra o problema e não o fazem principalmente por interesses financeiros.
Ziegler, sociólogo e político suíço, foi Relator da ONU para o direito de Alimentação entre os anos de 2000-2008. Viajou o mundo todo analisando a questão alimentar e suas causas. Tentando elaborar possíveis soluções. Este livro, mais do que uma análise sobre o problema, também se torna um livro de memórias. Memórias das viagens que fez, das pessoas e países que conheceu e das tragédias e mortes provocadas pela falta de alimentação.
A tese do autor é simples (e bastante óbvia). A fome existe no mundo não por não haver comida suficiente ou mesmo meios de transportá-la. O mercado de alimentos é controlado por grandes conglomerados que enriquecem um grupo pequeno de pessoas enquanto deixa a maioria à beira de inanição. A situação piorou quando especuladores começaram a negociar nas bolsas de valores sobre a produção agropecuária, provocando um aumento nos preços e consequentemente, na miséria. A fome de muitos é consequência direta dos imensos lucros de alguns.
O livro é uma grande crítica. Seja contra os países ricos, que por séculos exploraram (e ainda exploram) os países menos desenvolvidos, seja contra os governantes desses países subdesenvolvidos que permitem a exploração muitas vezes em troca de ganhos pessoais. Até mesmo críticas a ONU, conhecida por ter boas propostas, e nunca ter força ou competência para colocá-las em movimento. Devido a forma como a ONU funciona, ela está submetida aos interesses dos mais poderosos entre os países membros, em especial ao Conselho de Segurança com seu poder de veto.
Mas além de memórias (e críticas) o livro também apresenta dados e estudos sobre a questão da fome. Personalidades que também trataram do problema são constantemente citadas. Uma em especial, um brasileiro chamado Josué de Castro: médico pernambucano, que exerceu a presidência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), principal órgão da ONU sobre a questão da Fome. O subtítulo deste livro, “Geopolítica da Fome” é uma homenagem ao mais famoso livro de Castro.
Destruição em Massa está longe de ser uma leitura fácil. Não por sua escrita, mas sim por seu tema. Para quem quiser conhecer sobre o assunto, acredito que o livro possa ser um bom início.