Guimarães 01/05/2023
A deterioração da cultura e frivolidades
O autor vai trabalhar com bastante ênfase sobre cultura e o que pode ser repassado de forma errônea, isso porque com o passar do tempo a própria definição de cultura passou a sofrer transformações através do modo de produção existente, a cultura passa então a ser vista como entretenimento e, é por isso que a obra é intitulada "civilização do espetáculo". Com o avanço da informação e entretenimento demasiadamente nos meios de comunicação, a civilização do espetáculo nasce como mecanismo de distração e aparência, visto que, se mostra como alguém culto, é mais relevante do que entender de fato obras literárias, conteúdos artísticos e crítica com seriedade.
A obra tem um caráter polêmico, o autor deixa claro que hoje tudo é cultura e nada é cultura, a distração como parte principal da cultura, abriu espaço para frivolidades e alienação da realidade, tornando-se um verdadeiro espetáculo.
Não se deve confundir cultura com conhecimento. ?Cultura não é apenas a soma de diversas atividades, mas um estilo de vida? (p. 41), uma maneira de ser em que as formas têm tanta importância quanto o conteúdo. O conhecimento tem a ver com a evolução da técnica e das ciências; a cultura é algo anterior ao conhecimento, uma propensão do espírito, uma sensibilidade e um cultivo da forma, que dá sentido e orientação aos conhecimentos.
Nesse trecho o autor explica que cultura e conhecimento não são o mesmo, esse pensamento desenvolvido é importante para não cairmos na narrativa que existe relação entre cultura superior e inferior, haja visto que essa atribuição ela pode ser facilmente construída quando relacionamos cultura com conhecimento, termos esses que se divergem.
Mas afinal o que é cultura? ?
Segundo o Roque Laraia:
?Cultura seria tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar conscientemente e de maneira coerente no contexto de sua sociedade? (LARAIA, 1984, p. 62).
Fica claro, que cultura não é apenas possuir um curso superior e, é isso que o autor da obra a "civilização do espetáculo" busca refutar, a ideia de que cultura surge através de algo específico é errado, uma vez que todo mundo possui cultura, todo indivíduo possui hábitos e costumes. Logo, não existe cultura inferior ou superior, apenas culturas diferentes, elas precisam ser entendidas dentro delas mesmas. A civilização do espetáculo está mais preocupada em parecer culta do que absorver e entender de fato o que lhe é exposto.
A cultura é dinâmica, muda com o tempo e com o espaço, além disso, a cultura é essencialmente humana porque somente o ser humano é capaz de proporcionar significado.
Entende sobre a obra civilização do espetáculo e também entender sobre o capitalismo e seu processo dominante simbólico existe uma forte relação com a luta de classe e como o sistema que cria necessidades supérfluas como moda, comida, produtos para manter um mercado em expansão, gerar capital e explorar ?recursos? naturais.
Surge então a indústria de massa desenvolvida no sistema capitalismo.
Segundo o autor, a intenção da indústria de massa é divertir e dar prazer, possibilitar evasão fácil e acessível para todos, sem necessidade de formação alguma, sem referentes culturais concretos e eruditos. O que as indústrias culturais inventam nada mais é que uma cultura transformada em artigos de consumo de massas? (p. 79).
O surgimento dessa cultura de massa, segundo autor, se deu:
?Pela indústria cinematográfica, sobretudo a partir de Hollywood, ?globaliza? os filmes, levando-os a todos os países, e, em cada país, a todas as camadas sociais, pois, tal como os discos e a televisão, os filmes são acessíveis a todos, não exigindo, para sua fruição, formação intelectual especializada de tipo nenhum. Esse processo se acelerou com a revolução cibernética, a criação das redes sociais e a universalização da internet. Não só a informação rompeu todas as barreiras e ficou ao alcance de todo o mundo, como também praticamente todos os setores da comunicação, da arte, da política, do esporte, da religião, etc. sofreram os efeitos transformadores da telinha. ?O mundo-tela deslocou, dessincronizou e desregulou o espaço-tempo da cultura? (p. 88)?.
A ausência de criticidade da sociedade também influencia para a indústria de culturas das massas decidir o que deve ou não ser considerado relevante. O escritor Guy Debord reforça isso em uma passagem:
O vazio deixado pelo desaparecimento da crítica possibilitou que, insensivelmente, a publicidade o preenchesse e se transformasse atualmente não só em parte constitutiva da vida cultural, como também em seu vetor determinante. A publicidade exerce influência decisiva sobre os gostos, a sensibilidade, a imaginação e os costumes. A função antes desempenhada, nesse âmbito, por sistemas filosóficos, crenças religiosas, ideologias e doutrinas, bem como por aqueles mentores que na França eram conhecidos como os mandarins de uma época, hoje é exercida pelos anônimos ?diretores de criação? das agências publicitárias.
O autor fortalece seu argumento quando o mesmo afirma que:
?Quando uma cultura relega o exercício de pensar ao desvão das coisas fora de moda e substitui ideias por imagens, os produtos literários e artísticos são promovidos, aceitos ou rejeitados pelas técnicas publicitárias e pelos reflexos condicionados de um público que carece de defesas intelectuais e sensíveis para detectar os contrabandos e as extorsões de que é vítima.?
Um ponto interessante a destacar é como o autor deixa evidente que toda a indústria de meio de comunicação acaba sendo influenciada a entrar no jogo da civilização do espetáculo, isso porque os estímulos de diversão e prazer é mais fácil tanto de distraí-los como também de ocultar os problemas severos da sociedade.
Para reforçar o meu pensamento eu tirei o trecho da obra na qual o autor explicar como se dá esse processo:
Transformar informação em instrumento de diversão é abrir aos poucos as portas da legitimidade para aquilo que, antes, se confinava num jornalismo marginal e quase clandestino: escândalo, deslealdade, bisbilhotice, violação da privacidade, quando não ? em casos piores ? difamações, calúnias e notícias infundadas.
Porque não existe forma mais eficaz de entreter e divertir do que alimentar as paixões baixas do comum dos mortais. Entre estas ocupa lugar de destaque a revelação da intimidade do próximo, sobretudo se figura pública, conhecida e prestigiada. Este é um esporte que o jornalismo de nossos dias pratica sem escrúpulos, amparado no direito à liberdade de informação.
Trago por meio desse pensamento uma reflexão, vivemos em um mundo em que prazer e a sensação de felicidade e distração é acomodada a todo custo e momento. Ter entretenimento na nossa vida é importantíssimo, porém como afirmou o próprio autor "a vida não só é diversão, mas também drama, dor, mistério e frustração". (Pág.50)
Acho muito importante eu citar aqui algo que não foi falado na obra, o conceito de realidade intersubjetiva. Você sabe o que é realidade intersubjetiva, não? Vamos entender então kk
Aquilo que sentimos e pensamos no nível individual é aquilo que existe no mundo externo, físico. Muitas de nossas vidas fazem parte dessas realidades Intersubjetivas, como: dinheiro, nações, leis, religiões, empresas e direitos. Nesse sentido, uma realidade intersubjetiva transcende a subjetividade, isso porque a subjetividade é uma interpretação do próprio indivíduo com base em suas experiências. Já a intersubjetiva, ela é uma interpretação construída coletivamente e sua importância será para a manutenção de nossa vida em sociedade.
A crítica de Guy Debord em ?sociedade do espetáculo" entra em diálogo com os filósofos Adorno e Horkheimer
"Em "Dialética do Iluminismo", Adorno e Horkheimer definiram indústria cultural como um sistema político e econômico cuja finalidade é produzir bens de cultura - filmes, livros, música popular, programas de TV, etc. - como mercadorias e como estratégia de controle social. "(UOL)
Depreender-se que a crítica desses filósofos é elucidar como a cultura se transformou em mercadoria, perdeu sua espontaneidade, isso claro, como o sistema capitalista se apropriou disso para gerar lucro assim como qualquer outro bem de consumo. Guy Debord afirmar que:
"A cultura contemporânea, em vez de mobilizar o espírito crítico da sociedade e sua vontade de combater esse estado de coisas, faz que tudo isso seja percebido e vivido pelo grande público com a resignação e o fatalismo com que se aceitam os fenômenos naturais ? terremotos e tsunamis ? e como uma representação teatral que, embora trágica e sangrenta, produz emoções fortes e agita a vida cotidiana"
A cultura no sistema capitalista e globalizado torna uma sociedade acrítica e hedonista, o problema está justamente em normalizar desastres, fatalidades, drama, dor e frustração.