Revolução e Contra-Revolução na Alemanha

Revolução e Contra-Revolução na Alemanha Leon Trotsky




Resenhas - Revolução e Contra-Revolução na Alemanha


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gabriel 17/03/2022

Uma aula de política

Gostei desse livro, ele tem muitas informações interessantes sobre o período histórico que retrata, o único problema é que ele perturba um pouco por conta do assunto (o nazismo), ficar lendo toda hora "Hitler isso, Hitler aquilo", deixa você com uma vibe meio ruim. Mesmo assim é um tema interessante e seu autor tem uma forma própria de ver o assunto, que independente de sua afiliação política, vale conferir.

Lendo este texto, fico me perguntando se alguém já faz alguma relação entre Trotsky e Maquiavel (ou, pelo menos, entre Marx e Maquiavel). Alguém já deve ter escrito alguma coisa sobre o assunto, eu desconheço. A academia às vezes implica um pouco com essas comparações de longo alcance, de toda maneira lembrou um pouco o pensador italiano (e bastante injustiçado, aliás) na maneira fria e implacável com que vê o assunto. E, neste sentido, é uma bela contribuição ao raciocínio político.

É recomendável ao leitor, principalmente ao que se inicia nas leituras políticas, que não entre naquela confusão esquerdista das diversas facções (sejam marxistas ou não), como por exemplo, trotskistas (e suas inúmeras variações), stalinistas, morenistas e sabe-se lá mais o quê. O que não falta são subgrupos na esquerda, e acredito que se apegar a isso é muito pouco produtivo. Melhor ouvir o que o autor tem a dizer e entrar no "espírito" do seu texto.

Aqui, Trotsky apresenta alguns pontos relativos à ascensão do nazismo na Alemanha (sendo, este, uma modalidade do fascismo; por isso, o autor se refere mais a ele por este termo e não pelo outro). A sua tese principal é a de que toda a esquerda alemã (principalmente os comunistas) deveria se unir à social-democracia (naquele momento, o maior grupo na esquerda alemã) e formar uma frente única contra o nazismo. Isto, no entanto, foi impedido pelas direções dos partidos, que, aliados à Stalin, eram contra a formação desta frente única.

O livro, então, adquire duas dimensões: uma histórica e outra mais propriamente política. A histórica é este relato, o qual já sabemos o fim, da ascensão do nazismo, e aqui temos um relato privilegiado, de um brilhante analista político. Apesar de ele não estar "in loco" (naquele momento, Trotsky estava em exílio na Turquia), é um texto contemporâneo ao assunto, e o autor como poucos estava atento a todos os movimentos e variáveis. É, então, uma oportunidade ótima de entender aquilo que estava acontecendo, na Alemanha, nas vésperas da chegada de Hitler ao poder (a maior parte dos textos são de 1932, um ano antes de o bigodinho se tornar chanceler).

A dimensão política é um pouco mais geral, e fica um pouco nas entrelinhas do texto. Podemos, ao "respirar" o ambiente dele, entender como o seu autor entende a política. Análise marxista puro-sangue, nela não são comportados nenhum sentimentalismo ou moral. A política é entendida como máquina implacável, relação de classes que deve ser cuidadosamente medida. Em nenhum momento, veremos alguma frase que diz que o fascismo é "mau" (como, por exemplo, analisaria uma Hannah Arendt da vida). Trotsky não perde tempo com isso e faz uma análise funcional: o fascismo é o que é porque serve a uma determinada função. Manifestação de uma pequena burguesia ressentida, serve para eliminar a classe operária num momento de grande crise. Esta é a caracterização trotskista, em linhas gerais.

O livro é, no entanto, muito trabalhoso, e requer algumas pesquisas extras para ser devidamente compreendido. São muitas menções a fatos e personagens da época, principalmente a políticos alemães da época. Dá pra quebrar o galho com um rápido google, e quando você entende que a maioria deles são os chefes da social-democracia alemã (ou do partido comunista da época, stalinista), fica mais fácil de entender. Quase todos são personagens dos quais o autor discorda, então no fundo dá na mesma.

A minha edição, no entanto, é muito pobre nestas explicações, e elas seriam bastante úteis no caso, para uma melhor fluidez de leitura. É um livro muito exigente neste sentido e requer que você faça outras leituras. Mas, para ser justo, não peguei a edição da Sundermann, então se você tem ela na mão, e ela tem esse material, pode considerar esta resenha cinco estrelas sem qualquer problema.

Acredito, então, que nas duas dimensões de leitura (política e histórica) o livro é uma importante contribuição, ele não precisa ser lido na integralidade (salvo algum interesse mais específico), são vários escritos destinados a outros líderes de esquerda da época, que são relativamente independentes entre si. Podem, então, ser lidos parcialmente, em qualquer ordem.

Do ponto de vista histórico, conhecer esta obra é conhecer como o nazismo conseguiu se impor tão facilmente na Alemanha, um dos países mais industrializados e cultos da Europa. A partir dessa leitura, fica mais claro entender como isso aconteceu, e os erros de diversos campos políticos que tornaram isso uma tarefa fácil. Num momento em que o nazismo, ainda que tivesse grande força, estava longe de ser uma força irrefreável, a política de imobilismo levada por Stalin (que não permitia aliança com os setores majoritários da social-democracia) levou a uma derrota histórica, com as consequências desastrosas que conhecemos.
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