Daisy 08/06/2022
👎Racismo e homofobia
🔵 Meu primeiro contato com Graciliano Ramos foi no Ensino Médio com “São Bernardo” (1934). Muitos anos depois li o mais famoso dos seus livros, “Vidas Secas” (1938). Dessas leituras, ficou a memória de uma excelente escrita, o que me fez, em 2021, escolher “Memórias do Cárcere” (1953) para leitura de um clássico nacional e que, “de quebra”, abordava um assunto que buscava conhecer mais: a Ditadura Vargas. O resultado foi decepcionante. As curiosidades históricas ficaram em segundo plano quando me deparei com sucessivos comentários racistas e homofóbicos ao longo das mais 700 páginas do livro. Inicialmente, cogitei abandonar a leitura, mas tomei a decisão de continuar após identificar, em uma rápida pesquisa na internet, que não havia uma análise da obra que destacasse como os negros e os homossexuais são retratados pelo escritor.
🔴 Eis um dos trechos racistas: “Atazanavam-me as brincadeiras dela, expostas ao negrinho descarado, horrivelmente feio. Uma espécie de macaco, e às vezes me espantava de que o mostrengo pudesse falar. A cabeça era uma insignificância, os dedos curtos e nodosos mexiam-se como se estivesse a manejar o revólver nas matas de Piraí. Um bicho. (...) A figura simiesca irritava-me. (...) – Como diabo se interessa você por um bicho como esse? Nise continuava a rir, a atacar-me. E Pai João andava em roda, aos pulinhos, rombo e torpe, a grunhir, repetindo as palavras: Furtou, furtou. Uma vez não me contive: -Sabe que não gosto dessas intimidades? – Hem, fungou o animal, desfranzindo o riso parvo”.