Corações Sujos

Corações Sujos Fernando Morais




Resenhas - Corações Sujos


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Daniely2 04/04/2024

O início da descoberta da minha identidade cultural
Esse retrato jornalístico tem uma importância muito pessoal e profunda pra mim.

Achei esse livro na casa do meu avô japonês quando eu tinha uns 13 anos. Meu pai me explicou na medida do possível sobre o que se tratava e eu fiquei admirada que isso pudesse acontecer e ninguém que eu conhecesse na escola tinha nenhum conhecimento sobre isso, porém não li, talvez fosse profundo demais pra mim na época (fora as fotos de jornais que mostram os assasinatos). Mas ali foi o início da minha consciência histórica de que nem todo fato histórico é de conhecimento amplo, que na verdade ninguém é obrigado a saber de todos os fatos históricos, que alguns fatos são mais importantes para alguns e totalmente irrelevantes para outros, e que a história mais mainstream é feita por um olhar escolhido a dedo (o clássico "aos vencedores, as batatas")

Aos 18 anos quando estava num grupo de dança da associação nipobrasileira, uma recrutadora de talentos veio buscar pessoas descendentes para participar do filme desse livro, como ator, figurante ou no backstage. Meu ex namorado na época foi escolhido como figurante. Anos mais tarde quando estava na faculdade de biblioteconomia aos vinte e poucos finalmente peguei pra ler e ver as críticas tanto sobre a leitura quanto ao filme.

Nesse tempo todo fui aglomerado gradualmente mais conhecimentos sobre isso. Como por exemplo meus tios comentarem que um dos meus bisavôs era o melhor amigo de um cara que fazia parte do grupo de assassinos da Shindo Renmei no interior de São Paulo, e compartilhar o link de uma entrevista que ele deu.

Saber que o pai do seu avô materno era best de um cara que matou homens por diferenças políticas te dá uma perspetiva muito diferente sobre as relações humanas. Vai saber quantos homens ele matou, será que meu bisavô foi cúmplice de algum desses assassinatos? Será que ele também low key fazia parte? Será que meu bisavô tbm matou alguém? E o pai da minha vó materna? O que será que ele fez? De que lado ele estava? Nunca saberei de verdade.

Digo matar homens pq o livro é muito bom em explicar e relatar como era a vida dos imigrantes japoneses e como funcionavam as crenças deles naquela época, o período antes de durante a Segunda guerra mundial. E quando surgiu a Shindo Renmei (no pós guerra) eles ainda eram muito conservadores, fiéis e leais aos ideais nacionalistas, além de muito machistas. Só assasinavam os homens japoneses porque acreditavam a opinião dos homens valia muito mais do que as mulheres e destruir uma família resumia-se a eliminar os homens.

Pelo menos naquela época meus avós maternos eram crianças e não tinham muita consciencia do que estava acontecendo. E ambos meus avós paternos foram criados como filhos adotivos (tambem outra história sobre a imigracao japonesa que é pouco falado).

Também identifiquei um aspeto que talvez nunca fosse pensar se não tivesse lido esse livro. Enquanto a Shindo Renmei fazia atentados contra a vida de seus conterrâneos por diferenças políticas, sem interesse em atacar brasileiros, em algumas cidades os brasileiros ficaram aterrorizados e acabavam por atacar japoneses primeiro. Eles tinham medo assim como alguns tem medo de muçulmanos, por conta de alguns terroristas. O que me fez ver como, apesar de ser asiático no Brasil ser relativamente confortável, essa posição está na verdade sempre em risco de ameaça por gente de outro continente que se parece comigo. Se por exemplo algum país do leste asiático fizer alguma cagada excepcional, política ou econômica, eu vou sofrer as consequências disso mesmo estando no outro lado do planeta.

Enfim. Tudo isso para dizer o quanto eu acho esse livro importante, principalmente para pessoas como eu. Sinto que através dele eu consegui me conectar muito profundamente com a história do meu povo, com meus ancestrais, e ter uma consciência maior do que significa ser descendente de japoneses no Brasil.
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Debora411 31/03/2024

Corações sujos conta a história da Shindo Renmei, uma organização formada por imigrantes japoneses no Brasil que acreditava na vitória do Japão na segunda guerra e se dedicava a perseguir e punir os derrotistas. Gostei bastante do livro, a escrita é envolvente e fluida. Fiquei me perguntando porque isso nunca foi mencionado pelos meus professores de história da escola.

Queria saber em que momento os integrantes da Shindo Renmei entendem e aceitam a derrota do Japão, mas não é falado no livro. Imagino que eles apenas negaram a derrota até a morte.

Recomendo a leitura pra quem se interessa sobre as histórias acerca da segunda guerra e para entender melhor o posicionamento do Brasil na época.
Tiago José 02/04/2024minha estante
Essas histórias que são negligenciadas no contar da História, aquelas que nunca conhecemos e que seriam importante para nossa maior compreensão do mundo.

Ainda bem que tem livros como esse e compartilhamentos como este seu para tantas importâncias ??




Tharlley 27/01/2024

Boa história sobre uma organização japonesa que não aceitava a derrota na guerra e tocou o terror aqui no Brasil
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PaulaHaru 19/01/2024

Esse livro existe na estante dos meus avós há muitos anos e nunca havia pego pra ler... Só agora que atravéz de uma amiga esse livro me veio as mãos e me impressionou muito! Eu, sendo descendente de japoneses imigrantes, confesso que desconhecia totalmente essa parte tão significativa da nossa história, o que me deixa muito triste, pois me dei conta de como somos negligenciados desde sempre. Sem contar de como não paramos pra conversar sobre a nossa própria trajetória com a nossa família!! Esse livro foi muito importante pra mim até mesmo pra entender muitas coisas que não sabia sobre a imigração japonesa e até me reconectar com a história da minha família.
Agora quanto a leitura, é uma leitura fácil, e mesmo abordando acontecimentos históricos ela não é nem um pouco maçante.
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Miguelestevao 24/09/2023

Eu desconhecia a história da Shindo Remei até ler Nihonjin, de Oskar Nakasato. Através da leitura de Nihonjin, me senti tentado a ler esta obra de Fernando Morais e ele não decepcionou. Uma pesquisa fantástica e que mostra até que ponto a cegueira ou a idolatria levou um grupo de imigrantes japoneses a matarem seus compatriotas em nome da crença no imperador.
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Angela.Freitas 08/09/2023

Nossa história está cheia de injustiça social e com os japoneses não foi diferente. Deixar o país de origem para buscar novos caminhos e ao chegar ser proibido de falar até sua língua e horar sua bandeira. Tendo seus costumes e tradições humilhados por um governo autoritário.
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Mosiah1 12/03/2023

Um livro excelente para entender uma situação tão negligenciada na época e em nosso país ajuda a entender o momento que vivemos e podermos entender o cenário passado quase que cinematográfico
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Hono 21/12/2022

Assassinos abalam o sertão paulista nos tempos de Vargas
Fernando Morais é um ótimo Jornalista, a apuração para esse trabalho (apesar de carecer de referências formais) reúne o relato de gerações.
E de certa forma, antes dessa bagunça toda da pós-modernidade, não era preciso que o jornalista justificasse seus processos com tamanho detalhamento. Outros tempos...

Corações Sujos é um livro muito bacana sobre uma sociedade secreta de japoneses que não conseguiam encarar o confronto entre os fatos e a fé. A Shindo Renmei é uma sociedade secreta das mais interessantes e avassaladoras do sertão paulista.

Apesar do estilo meio demorado (parece muito com o Dossiê Herzog, o que me faz pensar que seja algo estilístico da própria época), valeu muito a pena.
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Adriana261 21/10/2022

Fernando Morais escreve maravilhosamente bem. Uma história que poucos conhecem mas traz elementos bastante interessantes para reflexão sobre o fanatismo de uma seita. Incrível como conhecemos tão pouco da história do Brasil do século XX.
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Ayumi.kimura 02/08/2022

Patrióticos e fanáticos.
A batalha travada entre os imigrantes japoneses no Brasil, parecia mais um filme de faroeste. Conhecer um pouco da minha própria história, é incrível e um tanto frustrante, mas toda história é.
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Kath 31/03/2022

Sombrio, real e necessário
Essa foi minha oitava leitura de março e eu fiquei bem contente que consegui ler bastante coisa esse mês, apesar de terem sido em sua maioria livros curtos. Também conquistei o hábito de ler nos fins de semana o que tem ajudado ainda mais a acelerar a meta que estabeleci para 2022. Esse livro, inclusive, foi uma adição de última hora por motivos de pesquisa, queria conhecer a fundo sobre a Shindo Renmei para usar esse plano de fundo em um livro de ficção, mas a leitura acabou excedendo e muito as minhas necessidades e expectativas.

O jornalista Fernando Morais começa sua narrativa contando as consequências da rendição do Japão para os chamados "súditos do eixo" nos países vencedores (embora "vencer" numa guerra seja muito relativo, há mais perdas que ganhos no meu ponto de vista, mas ok), o Brasil, nessa época, abrigava a maior colônia de japoneses fora do Japão e dessas pessoas foram tirados os bens, o acesso à informação, o direito de se expressar, de se reunir e de usar sua própria língua. Segregados, os japoneses eram reprimidos pelo Estado ditador.

Sem acesso à informação, pela lei de proibição de publicações em língua japonesa no país, a notícia de que o Japão havia se rendido na guerra chegou atrasada e para poucos japoneses. A maioria, patriota cega e fanática, se recusava a acreditar que seu imperador Hiroíto, o divino, se declarara um mortal e entregara os pontos. Mas os "brios" incendeiam mesmo quando a colônia paulista é invadida por policiais e sua bandeira sagrada é ultrajada por um cabo. Esse é o estopim para o ódio dos japoneses.

Contudo, ao contrário do que se poderia pensar, a mira da nascente Shindo Renmei (Liga do Caminho dos Súditos) não era voltada para os brasileiros que, em sua absurda onda nacionalista, se mostravam tão preconceituosos, xenofóbicos e cruéis quanto o próprio nazismo que combateram durante a guerra, já que o Brasil era aliado dos EUA. A fúria da colônia japonesa era voltada contra eles próprios. Porque um brasileiro, aliado dos americanos, podia contar "mentiras" ou acreditar em mentiras acerca do resultado da guerra, mas um japonês nunca aceitaria a derrota de seu país que jamais antes havia perdido uma guerra. E qualquer japonês que afirmasse acreditar naquela mentira, tinha o coração sujo e, portanto, era um traidor do império.

Começa então a caça às bruxas. O assassinato de um "coração sujo" e o atentado a outro na mesma noite colocam a polícia da época em alerta para um grupo de assassinos que, até então, não tinha muita forma diante dos policiais. Mais ameaças eram distribuídas na colônia e cada vez mais a polícia recebia pedidos de ajuda que pouco podia fazer ou mesmo se interessava em ajudar boa parte dos casos.

Inicialmente, a Shindo Renmei — como bem aponta o autor — era apenas um grupo com nenhum preparo estratégico e um tanto quanto ingênuo, cego por uma vingança que os levava a agir de forma precipitada, mas com "honra" e, dos assassinatos cometidos por eles, vários foram de pessoas inocentes que não eram verdadeiramente os alvos do grupo. Seus líderes se limitavam a dar ordens de morte, dinheiro e armas e todos os assassinos tinham o dever de se entregar à polícia tão logo terminassem o trabalho.

Paralelo a isso, temos a trajetória de suas personagens em um plano de fundo muito bem abordado pelo autor, cada um com uma vida e uma profissão, com um passado ligado à honra de seu país e a busca de uma vida melhor longe de sua casa. Morais parte do plano histórico geral para gradualmente desenhar os dramas pessoais, cheios de detalhes que fornecem conteúdo humano à obra. O contexto histórico, político e social do Brasil também é retratado com clareza e nos oferta uma verdadeira aula de história tão fluida que nem parece que é de verdade.

O intuito aqui não é "passar pano" para os japoneses, alguns deles eram — tal como os ideais de seu país apoiando a Alemanha nazista — preconceituosos, homofóbicos e antissemitas. Contudo, não eram todos, e por mais que discordemos do pensamento de alguém ou de seu estilo de vida, isso não nos dá o direito de tratar essa pessoa com violência, tirar dela seus direitos mais básicos e ofendê-la como aconteceu com os japoneses no Brasil e nos EUA. Esse livro acabou sendo uma espécie de complemento para o plano de fundo de O Amante Japonês no qual a família de Ichimei também sofre a represália do governo pela posição do Japão na guerra, o contraponto nesse livro, contudo, é bem maior (talvez por ser uma ficção) uma vez que Ichimei acaba se relacionando com Alma, uma judia.

De sua parte, igualmente, os japoneses não estavam isentos de culpa pela sua conduta, mas tentei ver o lado cultural deles que é muito diferente do nosso, a maneira como se educam, são criados e sua visão de mundo que é diferente da nossa em todos os aspectos. Por isso, apesar de encarar, com a minha visão de mundo, a atitude deles como inaceitável e absurda, dentro do contexto sociocultural deles faz sentido e, embora não se justifique tirar a vida de alguém não importa a circunstância, pelo menos essa atitude é acompanhada de uma consciência cultural por parte do leito que é magnificamente exibida e explicada pelo autor.

Gostei muito do livro, a forma fluída e fácil de ler, fazendo a gente até esquecer que é um livro jornalístico e, apesar dos eventos tenebrosos que lemos, não é uma leitura crua que trava. Aprendemos um pouco mais sobre a história do nosso próprio país também o que é muito válido num país que não liga muito para história, infelizmente. Além disso, é imprescindível como um material para gerar não somente debate, mas reflexão acerca de muitas questões.

Impressionou-me como mesmo depois de todos os terrores da guerra, de tudo que o mundo vivenciou, da forma pavorosa como os brasileiros se portavam na sua política suja desde sempre, nada se aprendeu. Continuamos repetindo os mesmos erros na tentativa de buscar um resultado diferente, inconscientes que esse resultado novo será nossa própria aniquilação. O mundo agora parece tão preso na cegueira de seu ódio e ganância que os homens parecem ter esquecido que são mortais, puro pó. É lamentável que esses dias sombrios descritos nesse livro estejam prestes a se repetir.
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Pe. Jeferson 29/12/2021

Como a virtude do patriotismo pode se corromper em fanatismo
O livro-reportagem conta a interessantíssima história da organização nacionalista nipônica Shindo Renmei fundada no Brasil logo após o fim da II Guerra Mundial.
Muitos imgrantes japoneses, levados por suas crenças cegas na invencibilidade do Japão e na divindade do imperador não acreditaram em sua derrota na guerra; as notícias eram tratadas como propaganda americana. Neles surgiu o ódio aos "makegumi" (derrotistas), os japoneses que entendiam que sua nação havia sido derrotada.
O fanatismo dos líderes da Shindo Renmei levou-os a uma série de atos nesta guerra contra os "traidores da pátria": Adulteração de notícias, falsificação de Ienes, atentados a bomba e diversos assassinatos.
O livro trata das complicadas relações entre todos os envolvidos nessa "guerra": os líderes fanáticos, os tokkotai (executores), os pilantras que se aproveitavam da boa fé de muitos imigrantes, os japoneses exclarecidos e inculturados, os brasileiros e até os políticos.

Uma das facetas mais interessantes, e que pode vir a se tornar bastante obscura se levada para o fanatismo, é o senso de dever, hierarquia e patriotismo do povo japonês. Em tudo o retratado no livro, eles não entendiam suas atitudes como crimes, mas como atos heróicos de amor à pátria.
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Eric Luiz 27/11/2021minha estante
Esse livro é fo...!!!




Gabi 11/04/2021

Excelente
Como estudante de Relações Internacionais e interessada na cultura oriental, o livro me ajudou a entender diversos pontos da imigração japonesa que até então não conhecia. O autor utiliza de uma linguagem fácil para explicar pontos primordiais na história do nosso país. Me peguei perplexa muitas vezes diante dos acontecimentos e por saber que ocorreram tão perto. Não costumo ler muitos livros históricos, mas esse me cativou de tal forma que só iria conseguir sossegar após lê-lo por inteiro.
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Arthur.Rodrigues 17/03/2021

O Brasil nipônico flamejou nos anos 40
Fernando Morais traz excelente relato histórico de maneira fluída e didática sobre um episódio não tão abordado da história recente do Brasil. Nos é apresentado a Shindo Renmei, grupo terrorista japonês que em meados do século XX causou grandes agitações pelo estado de São Paulo. Leitura extremamente agradável e que agradará muito quem tem fascínio por conhecer a história do Brasil.
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