Pedro 23/08/2022Uma entrada sólida no mundo de BhardoSer o primeiro livro de uma série de fantasia é sempre um desafio. O leitor precisa conhecer o mundo criado, se acostumar com os novos termos e se envolver com a história que tem início - tudo da maneira mais natural possível (quem gosta de excesso de exposição né?). Felizmente, essa entrada cumpriu muito bem o seu papel.
O mundo de Bhardo combina elementos familiares (como alimentação e vegetação brasileira) com detalhes criativos, como seus três sóis. Os personagens são diferentes e, mesmo numerosos, foram em geral bem trabalhados e com momentos de destaque de suas habilidades. Minhas favoritas foram Jadhe e Yoná, mas acho que Diana precisava de um pouco mais de desenvolvimento e senti falta de ver mais Shenu em ação. Quem sabe nos próximos livros? Talvez eu até ache Pablo menos chato.
Algo importante ressaltar é o visível carinho da autora com sua criação. O livro possui várias notas de rodapé, explicando a etimologia de cada nova palavra, mapas e ainda uma sessão de anexos contando mais sobre a história e a mitologia de Bardho. Tudo feito pela própria Lívia Stocco, que se encarregou também de publicar, revisar e todos os detalhes. É meio triste saber que alguém tão talentosa poderia estar recebendo o apoio de uma editora, mas ainda não deixo de admirar sua entrega.
Por ser um primeiro capítulo, é difícil bater o martelo da recomendação. Minha experiência foi sim positiva, mas preciso ter uma visão mais ampla sobre como a história é desenvolvida nos títulos seguintes. O que posso dizer é que foi uma leitura boa, tem personagens diversos e interessantes e cumpre sua função de instigar a leitura de uma sequência. O começo é um pouco mais arrastado, como esperado, mas depois a leitura fluiu bem melhor. A brasilidade em alguns detalhes do mundo de Bhardo dão um charme a mais. De revisão, eu encontrei alguns problemas (esperado com um trabalho tão independente assim), mas nada que atrapalhe a leitura. Só uma sugestão para a autora: em um capítulo, são apresentadas comunidades indígenas em Bhardo, mas elas são adjetivadas em um momento como “selvagens”. Não seria interessante repensar esse termo? Sei que a intenção da autora não pareceu ser de menosprezar esses povos, mas é preciso escolher com cuidado as palavras.