Dayane 25/04/2021
Alerta de Gatilho
Semana passada deixei uma resenha bastante decepcionada com um thriller aclamado, elogiado.
E terminei aquele, já embalei nesse.
Sim, sou de fases, às vezes romances, ocasionalmente clássicos, intermediado com técnicos, políticos etc. E como vocês podem notar estou na fase dos suspenses, dos thrillers psicológicos.
Assim, posso dizer com bastante alívio, que NO ESCURO, entrega o que promete e com muita competência.
O livro abre sua narrativa em terceira pessoa, narrando um julgamento por agressão. Você ?pesca? que o réu é policial, ou autoridade semelhante, e que sua defesa justifica uma altercação física devido ao comportamento violento e obsessivo da namorada.
Dali se desenrola a história alternando entre os capítulos: passado e presente, com espaço de 04 anos. E desenrola bem!
A autora não teve pressa em mostrar o lado perverso do vilão. Ele parece charmoso, protetor, um pouquinho territorial. Mas, ah, as mulheres da geração 50 tons tem a cabeça lotada de fantasias sobre um homem dominador que quer ?cuidar? delas. Certo? Como eu disse, sem pressa, ele encanta a ela, ele garante que as amigas fiquem com bastante inveja do presente de Deus, e então ele vai saqueando a vida dela, aos poucos, de maneira que ela pareça louca, ingrata...
Esse período relata uma mulher jovem, inconsequente como tantas em sua idade, cheia de sonhos sendo paulatinamente anulada, moída.
O presente nos apresenta o fantasma sobrevivente: uma mulher cheia de medos e neuroses, com TOC, episódios de pânico, e totalmente descolada das relações humanas. Solitária.
Esse é o lance dessa leitura, linkar essas duas mulheres, torcer para que surja uma terceira mulher, cicatrizada, mas viva, costurada, porém inteira.
O lance é entender até onde chegou o abuso, isso toma o livro todo. O lance é aguardar para ver se ela será capaz de encontrar a luz, que a tirará da escuridão.
Também faz parte da viagem, torcer por justiça e reparação, e obviamente sermos confrontados com o quanto as pessoas estão dispostas a acreditar na versão masculina, e desacreditar da mulher, pormenorizar suas dores.
É um livro excelente, com um encerramento até otimista, mas se você tem seus próprios gatilhos, talvez seja melhor aguardar.