@tayrequiao 31/03/2024Livrão viu?Foi a aparente contradição no nome desse livro que me chamou à atenção.
Veja bem: ?insustentável? é algo que está além da nossa capacidade de suportar, de tolerar. Já a ?leveza? é a característica atribuída a algo delicado, singelo. Como, então, algo leve pode ser pesado ao ponto de se tornar insustentável?
Kundera vai demonstrar justamente como é estreita a linha que divide esses conceitos, como estamos todos sujeitos ao peso das nossas decisões e como a leveza que procuramos muitas vezes está associada a um desprendimento e uma superficialidade que extinguem o próprio significado da vida.
E, apesar de essa ideia ter me gerado inúmeras reflexões, é especificamente sobre essa superficialidade que prefiro focar.
Kundera faz menção em diversos momentos ao conceito do ?kitsch?: uma estética voltada à superficialidade e à evasão de questões essenciais da existência humana.
Dentro da metáfora do kitsch, evitamos as questões profundas e genuínas em favor de uma aparência agradável e simplificada. Falsificamos, portanto, a realidade para agradar aos nossos sentidos.
Claro que, na narrativa, o enfoque está sobre o kitsch totalitário comunista. Mas, eu te pergunto: não é exatamente esse mesmo movimento que dita as redes sociais?
- Escondemos os defeitos, enterramos os dias tristes e as inseguranças em favor de uma imagem irreal de felicidade permanente.
- Procuramos nos cercar daqueles que aceitam de forma simples as nossas ideias, sem maiores questionamentos.
- Buscamos, por fim, mostrar ao outro a vida que se espera de nós, ainda que esta não corresponda àquilo que vivemos.
Kundera vai nos dizer que ?não importa o desprezo que nos inspire, o kitsch faz parte da condição humana?.
Eu prefiro acreditar que, por mais difícil que seja, ainda podemos respirar fora do kitsch (seja ele qual for) através da originalidade, da espontaneidade e da busca pelo aprofundamento.
Livrão, viu?