Diário de um ano ruim

Diário de um ano ruim J. M. Coetzee




Resenhas - Diário de um Ano Ruim


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Kirla 30/07/2023

Eu adorei esse jeito diferente de ler o livro! No início da página as opiniões sobre o mundo do Señor C, abaixo seus pensamentos e no fim da página o de sua secretária Anya. Ver como um influência o outro de forma indireta e aos poucos é bem interessante, e como isso afeta o trabalho do livro que está sendo escrito. Vale muito a leitura.
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Mah 03/04/2023

Em paralelo
O que rola na vida do autor Enquanto ele, um senhor doente , escreve sua opinião sobre notícias.
O formato é curioso.
A diagramação da ênfase nas opiniões - chatas ?
E a história dele, fica quase como uma nota de canto de página ?

Certamente, isso ajuda a descobrir que tipo de leitura te encanta
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regifreitas 15/05/2022

DIÁRIO DE UM ANO RUIM (Diary of a bad year, 2007), de J. M. Coetzee; tradução José Rubens Siqueira.

O sul-africano John Maxwell Coetzee recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2003, por sua obra, "crítica sem escrúpulos ao cruel racionalismo e à moralidade cosmética da civilização ocidental", conforme a Academia sueca. Antes dele, apenas três autores africanos tinham sido agraciados, entre eles, Nadine Gordimer, em 1991 - a primeira vez que alguém da África do Sul recebera o Nobel.

DIÁRIO DE UM ANO RUIM segue três linhas narrativas. Na primeira, temos os ensaios de um veterano escritor sul-africano radicado na Austrália (como o próprio Coetzee), que, a pedido do seu editor alemão, emite suas opiniões sobre assuntos polêmicos da contemporaneidade, como terrorismo, globalização, ecologia, conflitos étnicos etc. Em paralelo, acompanhamos o relato desse escritor e sua relação com Anya, uma jovem filipina contratada por ele para digitar e revisar esses ensaios, e por quem ele sente uma profunda atração. Num terceiro plano, acompanhamos o ponto de vista de Anya sobre o trabalho e sobre o escritor, ao mesmo tempo que tomamos conhecimento da relação de mais de três anos com Alan, seu parceiro, que trabalha no mercado financeiro.

A "inovação" de Coetzee é apresentar esses três momentos da obra dividindo a página em três partes, sendo que, em cada uma das sessões, são desenvolvidas, em separado, as linhas narrativas. Esse expediente me confundiu um pouco no começo, até encontrar a forma de leitura que mais se adaptou para mim.

No geral, o formato não me agradou muito. Também não, a parte dos ensaios. Ela destoa muito do restante da obra. As temáticas abordadas nesses textos praticamente não têm relação com o restante da história, servem tão somente para ilustrar sobre as ideias e personalidade do escritor. Na própria relação entre os personagens também não encontrei nada surpreendente, que fizesse jus ao renome de Coetzee.

O saldo: uma leitura bem mediana.
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Caroline.Evellyn 12/05/2022

Fiquei na dúvida...
Como ler este livro? No começo li todas as partes, depois li as partes individualmente até o final e realmente consegui entender o livro de verdade. Acho que falta é um pouco de orientação em como ler, isso prejudicou um pouco entender, mas gostei das 3 narrativas
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Higor 02/10/2021

"Lendo Nobel": sobre a tênue linha entre ficção e ensaio
Se Coetzee já havia conquistado meu coração com seu magnum opus "Desonra" e seu doloroso "À espera dos bárbaros", com "Diário de um ano ruim", ele apenas confirmou que é um dos meus autores favoritos, e que a láurea com o Nobel de Literatura em 2003 foi um baita acerto.

"Diário de um ano ruim" parte de uma premissa bastante simples: Señor C., um velho escritor sul-africano que mora em Sydney contrata como datilógrafa a sexy, fútil e desinteressada Anya. Ele está escrevendo um livro de ensaios sobre sobre opiniões fortes sobre quaisquer coisas, como George W. Bush, Tony Blair, a Baía de Guantánamo e o terrorismo, que são as entradas principais do livro.

Logo abaixo, discorrendo junto aos ensaios, tem-se a relação que se desenvolve entre os dois personagens, acaba levando a evoluções sutis em suas visões de mundo tão opostos, mas igualmente interessantes. Anya está inicialmente convencida de que o escritor é apenas um velho tarado que pensa coisas idiotas, enquanto Señor C. acredita que Anya é uma mulher interessante e com pensamentos, no mínimo, curiosos.

Quem acompanha minhas leituras e resenhas deve ter percebido que o plot de "Diário de um ano ruim" é, basicamente, o mesmo de "O livro negro", de Orhan Pamuk. Lá temos Celâl, um cronista de um jornal turco que foge com a mulher de seu primo, Galip, e o livro se intercala entre as crônicas do jornal e a busca incessante de Galip por sua mulher. Acontece que "O livro negro" foi um livro deveras cansativo, em suas mais de 500 páginas, embora interessantíssimo de início.

Talvez parte da razão em "Diário de um ano ruim" ter funcionado para mim se deva, principalmente, aos temas das crônicas, mais palatáveis e de temas do meu conhecimento, afinal, pouco sei do que acontece na Turquia e suas redondezas. Mas o maior ponto positivo deste livro é que ele é, justamente, bem curto, sem dar tempo de o leitor se cansar por conta de algum eventual assunto desinteressante. As relações de Señor e Anya, embora bastante curtas também, são eficientes naquilo que se propõem e prendem o leitor a um clímax desolador.

É essa linha tênue entre o que é ficção e o que é não ficção (Señor se intitula como autor do livro "À espera dos bárbaros", de Coetzee) que faz o livro saltar de um mero romance para algo mais intrincado, bem sucedido e muito bem feito. Lógico é o tema de Coetzee, a escrita e seus efeitos, assim como o processo da linguagem, então um trabalho como este não seria menos que incrível.

Lapidado, eficiente e bem acertado, "Diário de um ano ruim" é mais uma pedra preciosa de Coetzee. Embora de 2007, é bastante atual e mexe com seus assuntos até com o mais confortável e indiferente dos leitores a determinados assuntos.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Nobel". Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Fla 10/04/2021

Muito interessante
Os três planos narrativos distintos é muitíssimo interessante e desafia o leitor em vários níveis.
Já as análises do Senhor C acerca de temas polêmicos e sensíveis são igualmente relevantes. Esses trechos são curtos e a leitura flui rápido. Apesar de detestar marcações e anotações em livros físicos, alguns parágrafos são tão interessantes que tive uma vontade enorme de sair marcando as frases mais marcantes. Alguns capítulos são tão bons, mas tão bons, que cheguei a ler 3 vezes! Recomendo!
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jota 09/11/2020

MUITO BOM (o inquieto Coetzee está sempre surpreendendo seus leitores)
Se a formatação do Diário de Um Ano Ruim (Companhia das Letras, 2008) não fosse como é, uma ruptura com a ficção tradicional – páginas divididas em três seções de textos a maior parte do tempo –, talvez a narrativa não ficasse tão interessante como ficou. Também é verdade que uma história sem linearidade como essa não é lá muito confortável de acompanhar: o leitor tem de escolher de que modo lerá tudo até o final. Na parte superior das páginas, rolam as opiniões de um conhecido escritor – que em muito se parece com J. M. Coetzee – a refletir sobre diversos assuntos, alguns contemporâneos, outros universais, filosóficos. Enquanto isso, nas outras duas seções, corre simultaneamente uma mesma história de relacionamentos contada pelos dois protagonistas principais, da qual também participa um terceiro personagem.

Esses personagens são o próprio escritor setentão, às vezes chamado simplesmente de JC, Anya, uma sedutora jovem filipina de 29 anos, e Alan, seu amante invejoso (ou inescrupuloso, depende), uns doze anos mais velho que ela. A história toda começa quando o escritor, um sul-africano radicado na Austrália (como se passou com o próprio Coetzee), é convidado por um editor alemão para emitir suas opiniões contundentes (ou fortes, conforme a edição brasileira) sobre temas contemporâneos, que depois serão editadas num livro. Ele precisa do auxílio de alguém para digitar seus textos, porque está um tanto incapacitado fisicamente para a tarefa. É aí que entram os demais personagens.

O ano ruim do título refere-se, na verdade, aos meses entre setembro de 2005 e maio de 2006 e um pouco mais de tempo. Dele resultarão 31 pequenos ensaios ou “opiniões fortes” do escritor versando sobre Thomas Hobbes (1588-1679), anarquia, democracia, Nicolau Maquiavel (1469-1527), terrorismo, pedofilia, matança de animais, competição, design, probabilidade, direita e esquerda, música, ecologia, experimentações genéticas, globalização etc. Depois, na segunda parte do livro, num segundo diário, as coisas ficarão mais pessoais, íntimas: nele o escritor registra outros 24 tópicos, que versam sobre um sonho perturbador que teve, seu pai, a vida erótica, envelhecimento, vida de escritor, a língua inglesa, ser fotografado, ter pensamentos, compaixão, tédio, Bach, Tolstoi, Dostoievski...

Misturado a isso tudo (o conteúdo dos dois diários) estarão Anya, a jovem filipina e seu caso amoroso (ou erótico) com Alan, um agressivo especialista em investimentos financeiros. Isso e mais o relacionamento do escritor com o casal é contado nas duas seções inferiores das páginas. De tudo resulta que Coetzee faz, através das reflexões do idoso escritor e das relações entre os personagens, digamos assim, um balanço entre aquilo que a alma humana tem de sórdido e também de digno. Os três vivem num mesmo e enorme edifício de apartamentos e o idoso conhece Anya por acaso, na lavanderia do condomínio. Quando a vê pela primeira vez, ele a descreve para nós como um radioso dia de primavera, maravilhado que fica por seu corpo, sua juventude e beleza.

Inicia com ela uma pequena conversa, fica sabendo que Anya está “entre trabalhos” (desempregada, na verdade) e ele, como já foi dito, necessita de alguém que, a partir de fitas gravadas (que contêm os ensaios para o editor alemão) transcreva o conteúdo delas para arquivos em disquete. Os pendrives existiam desde 2000, mas não nos formatos e capacidades desenvolvidos depois, não eram populares então. Isso não importa, vamos com os (obsoletos) disquetes mesmo. O que importa é que JC fica encantado com a moça e, sem pensar muito, lhe oferece o serviço. Ela aceita, tudo bem, tudo se encaixa numa relação comercial entre os dois. As coisas vão caminhando bem, o serviço dela corresponde ao que JC desejava, mas ele constantemente pensa nela. Ela também pensa nele, mas de outra maneira.

A coisa muda bastante de figura quando Alan, o amante de Anya (ele já foi casado antes) entra em cena com força, a princípio enciumado, porque imagina que o escritor poderia estar usando a moça como personagem para um futuro romance, escrevendo sobre ela disfarçadamente. Discute com a jovem sobre essa possibilidade, mas Anya não acredita nisso, defende o escritor, diz que ele a respeita, que nunca tentou nada com ela etc. Porém ela não concorda com todas as opiniões que ele emite em seus textos, acha que tem ideias ultrapassadas etc. Alan ridiculariza os escritos, troça deles, mas o que ele deseja, no fundo, é aproveitar-se financeiramente do idoso, rico para os padrões brasileiros. Já começou a colocar um plano em prática, sem que Anya soubesse, e foi por intermédio dela mesma que as coisas foram possíveis...

Nesse ponto a história adquire um pequeno suspense, mas o forte em Diário... é mesmo o conteúdo do “livro dentro do livro”, inicialmente o contraponto entre “a cultura humanística do velho autor e a energia quase amoral da jovem digitadora”, depois no que resultou para ambos esse contato, o que se transformou neles, como ficamos sabendo através do segundo diário. Que se parece com o que poderia ser o diário do próprio Coetzee, do “ano ruim” em que ele passaria a encarar mais frontalmente certas questões a respeito de si próprio, nem sempre agradáveis para ninguém, por assim dizer: os incômodos, as agruras da velhice. Em 2007, quando o original foi lançado, Coetzee tinha 67 anos; em 9 de fevereiro de 2020 completou 80 anos. Penso que se ele tivesse escrito apenas Desonra (Companhia das Letras, 2000) não precisaria ter feito mais nada na vida...

Lido entre 03 e 08/11/2020.
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wesley.moreiradeandrade 05/07/2017

Na Estante 75: Diário de um ano ruim (J. M. Coetzee)
Publicado em 2007, Diário de um ano ruim é a prova da inquietação de J. M. Coetzee em busca de sempre renovar a sua escrita e procurar outros formatos para a literatura e, principalmente, o gênero romance. Três linhas narrativas dividem, literalmente, o espaço da página do livro: a primeira, contem ensaios denominados “Opiniões fortes”, onde um escritor sul-africano radicado na Austrália expõe seus pensamentos a respeito de temas polêmicos e contemporâneos como o terrorismo, Al-Qaeda, Guantánamo, pedofilia, a direita e a esquerda etc. A segunda traz o mesmo escritor detalhando o seu encontro e convivência com a jovem Anya, uma imigrante filipina, a quem ele solicita os serviços para transcrever os textos que viriam a ser as mesmas opiniões que o leitor verá nas páginas do livro. A terceira linha narrativa trata-se do relato da própria Anya e suas impressões sobre o “Señor C.”, o escritor com quem convive, além disso, mostra o relacionamento dela com o marido Alan, um especialista em investimentos financeiros.
Sendo o próprio Coetzee um escritor sul-africano que vive na Austrália e sabendo o leitor deste fato, é tentador buscar encontrar algum resquício da biografia de Coetzee neste romance. Mas é claro que é também enganoso já que o escritor vencedor do Prêmio Nobel de Literatura algumas vezes se coloca como personagem de seus livros, rompendo as barreiras que separam ficção da realidade, brincando com as perspectivas e as expectativas que qualquer dado autobiográfico despertaria no leitor. Coetzee radicaliza a autoficção numa narrativa ousada estruturalmente, apesar de irregular, procedimento que o autor voltará a usar com um grau maior em Verão (2010), livro que encerra a trilogia Cenas da vida na província.
Diário de um ano ruim reflete a contemporaneidade, não somente nos assuntos que aborda no formato de ensaios curtos, mas assimila esse tom moderno em suas histórias, voltadas a um “eu” que está em constante exposição e questionamento de si mesmo. Coetzee literaliza-se (e problematiza até a própria velhice) e transforma em literatura instigante a outros gêneros que servem para questionar quem é esse eu tão em evidência hoje em dia e qual a relevância de um eu-escritor no mundo atual cheio de outras preocupações, um eu em crise num planeta repleto de crises também.

site: https://escritoswesleymoreira.blogspot.com.br/2017/07/na-estante-75-diario-de-um-ano-ruim-j-m.html
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Aninha 30/03/2017

Opiniões cruzadas
"A pessoa se apega à convicção de que alguém, em algum lugar, a ama o suficiente para a ela se apegar, para impedir que seja levada. Mas a convicção é falsa. Todo amor é moderado, no fim. Ninguém irá com ninguém." (página 173)

Li Desonra há cerca de um ano e meio e foi meu primeiro contato com Coetzee, um autor que alia sensibilidade à dura realidade da vida. Na época, disse que o livro foi um soco no estômago (e foi mesmo!). Neste livro, porém, a situação não chega no limite físico como no outro, mas nem por isso é menos perturbador.

Aqui temos o Señor C, um respeitado escritor sul-africano de 72 anos, que mora em um condomínio na Austrália e recebe uma incumbência de um editor alemão: escrever suas opiniões acerca de temas atuais. Como ele tem uma certa dificuldade em digitar, grava suas ideias em um gravador para que sejam posteriormente escritas.
Ao conhecer a jovem filipina Anya na lavanderia do condomínio, oferece-lhe o emprego de digitadora. Ela, que não trabalha, decide aceitar depois de conversar com seu parceiro, Alan, um investidor de sucesso.
Anya não apenas digita as ideias, mas questiona e opina também. Além disso, conversa com Alan e ambos tentam entender as opiniões do velho escritor. Nesse processo, todos vão deixando transparecer quem realmente são e, com isso, passam a enxergar o outro de uma forma diferente da que tinham até então.
É uma obra densa, que entrelaça em um mesmo capítulo trechos das opiniões do autor, dos seus pensamentos e dos pensamentos de Anya. Tudo ao mesmo tempo.
Temas como política, pedofilia, terrorismo, música, turismo e até pós-vida são tratados de forma direta, com suas afirmações e dúvidas, fazendo com que o leitor também seja obrigado a refletir e se revelar, assim como os personagens da trama.
O final é para fazer qualquer coração duro e insensível se desmanchar: lindo e comovente.

Vale a pena a leitura!

site: http://cantinhodaleitura-paulinha.blogspot.com.br/2017/03/diario-de-um-ano-ruim.html
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Rosa Santana 30/04/2011

“Diário de Um Ano Ruim”, 241 páginas, Companhia das Letras.

J. M. Coetzee, autor do aclamado “Desonra”, traz nesse novo livro uma mistura de ensaios (sobre os mais variados assuntos: apartheid, terrorismo, desastres ecológicos, globalização, teoria literária...) com uma narrativa metalingüística. Ele nos conta de um famoso escritor sul-africano que fora contratado para escrever ensaios para uma editora alemã. Com dificuldades que tornam sua letra praticamente ilegível até mesmo para ele, devido a problemas de saúde e à idade avançada em que se encontra, contrata uma “secreta ária” e então, ele passa a narrar a história dela e seu envolvimento com o amante e consigo. O papel dela, na sua vida, passa a ser a de uma melodia encantatória, uma “ária” que o motiva e o encanta. Fútil, mas de boa índole, Anya, se envolve com ele em uma relação de amizade pela qual muda o rumo de sua vida. O humanismo dele faz com ela altere seu comportamento o que dá um tom positivo à história e à dificuldade de estar em um mundo tão cheio de problemas e de contratempos. É como o narrador mesmo diz: “A gente colhe o que semeia. Escrevo sobre almas inquietas, almas em torvelinho respondem meu chamado.” (177)

Inovadora a maneira com que constrói o discurso narrativo, o autor traz opiniões que se vão coadunando com os fatos que estão sendo narrados. Há uma separação física nas páginas: primeiro, no alto, abrindo as páginas, os ensaios; ao meio, os relatos contados por ele, e, no último plano - final da página - Anya assume a voz narrativa e traz à tona seus pensamentos mais secretos, seus atos, sua vida.

Achei o máximo a forma elogiosa com que Coetzee terminou seu livro. Depois de enaltecer os autores Tolstói e Dostoievski como perduráveis clássicos pela força retórica com que criam seus narradores, ele fecha com esse excerto:

“E fica-se grato à Rússia também, à mãe Rússia, por colocar diante de nós com uma certeza tão inquestionável o padrão ao qual todo romancista sério deve aspirar, mesmo sem a menor chance de chegar lá: o padrão do mestre Tolstói de um lado e o do mestre Dostoiévski do outro. Com o exemplo deles somos artistas melhores; e com melhores não quero dizer mais hábeis, mas eticamente melhores. Eles aniquilam nossas pretensões mais impuras; eles esclarecem nossa visão; eles fortalecem nosso braço.” (236)

Trechos que destaco:
. “Nada como a sensação das palavras saindo para o mundo, (...) chega a dar arrepios.” (39)
. “As histórias se contam sozinhas, não são contadas.” (65)
. “ Amor: o que o coração mais deseja.” (188)

.................
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Aguinaldo 09/02/2011

diário de um ano ruim
Se há um autor que leva o leitor a sério este é John Maxwell Coetzee, prêmio Nobel de literatura de 2003, escritor admirável. Este "diário de um ano ruim" é um romance curioso, com cada uma de suas duas partes (diários) tripartido em narrativas distintas. Duas destas três são francamente ficcionais, mas uma se traveste um tanto como ensaios de encomenda, repletos de opiniões fortes sobre temas comtemporâneos, feitos para publicação na Europa. Cabe dizer que Coetzee nasceu na África do Sul mas radicou-se na Austrália há pouco mais de 15 anos e naturalizou-se australiano em 2006. Por conta disto esta ao menos geograficamente afastado do circuito literário europeu, e seus temas abordam um tanto o impacto das políticas americanas e européias na periferia do mundo. Optei por ler linearmente cada um das histórias separadamente, indo para frente até terminar cada uma delas e depois voltando as páginas iniciais para começar as seguintes (esta foi a escolha natural que eu fiz, mas talvez alguém, um outro leitor, encontre prazer em ler cada uma das três partes de cada página simultaneamente). Os dois ensaios do livro são soberbos, o primeiro sobre temas contemporâneos: terrorismo, liberdade, censura, competição, política, libido, manipulação, jornalismo, economia, sociologia, leis de imigração; o segundo mais focado sobre o indivíduo: o envelhecimento, a morte, a música, o sexo, a literatura, os clássicos, o pensamento, os relacionamentos, o sonho. Nos dois trechos onde os ensaios são refletidos, um majoritariamente feminino e outro majoritariamente masculino, outros temas são utilizados para o autor discutir conosco como se dá a construção e a fruição de um texto literário. Nada do que é humanao é estranho à Coetzee, nada substitui a experiência da leitura de um livro e da reflexão honesta sobre ele parece dizer-nos Coetzee, nada é comparável na vida a influência que um autor forte pode ter sobre cada um de nós individualmente e a espécie humana em geral, asservera Coetzee. Recomendo para qualquer um que ainda crê na capacidade humana de superação de suas trágicas limitações, igualmente humanas. Belo livro.
"Diário de um ano ruim", J.M. Coetzee, tradução de José Rubens Siqueira, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2008) brochura 14x21cm, 248 pág. ISBN: 978-85-359-1244-9
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