O outro pé da sereia

O outro pé da sereia Mia Couto




Resenhas - O Outro Pé da Sereia


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Jag Luz 21/04/2022

Simplesmente fantástico
O que me chamou atenção para o livro O Outro Pé da Sereia, do moçambicano Mia Couto, fora sua escrita onírica e poética, percebi muito mais marcante neste livro.
Você faz uma verdadeira viagem pelo tempo, conhecendo usos e costumes e se envolvendo com os personagens. A santa sen um Pé a estrela que cai e os pulos pelo tempo.
Com certeza vou ler outra vês e também buscar outras obras de Mia Couto
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Carina 11/09/2013

Não é dos melhores, mas é do Mia Couto
A narrativa descentralizada, que se passa em épocas e locais distintos e apresenta diferentes protagonistas, é interessante do ponto de vista técnico, mas deixa a desejar ao leitor.

A variedade de histórias faz com que seja mais difícil acompanhar o ritmo dos acontecimentos ou se permitir cativar pelos personagens. Alguns trechos fogem a essa regra, mas justamente por ser uma obra longa, é difícil que o escritor mantenha o mesmo fôlego no mesmo nível durante toda a trama.
A boa escrita de Mia Couto, contudo, é a que sustenta o livro, mesmo que ele não seja tão plenamente satisfatório quanto os outros do autor.



Trechos:

A melhor maneira de fugir é ficar parado.

A mulher regressava à sua condição de esposa: retirou-se, convertendo-se em ausência. Lá fora, ela se dedicaria à sua mais antiga vocação: esperar.

Nenhum sonho se pode contar. Seria precisouma língua sonhada para que o devaneio fosse transmissível. Não há essa ponte. Um sonho só pode ser contado num outro sonho.

Lázaro sempre dizia que não resolvia problemas. Ele dissolvia os problemas, que é uma forma superior de prestar ajuda.

A vida, para ele, era um rio comportado. A felicidade era o prenúncio da inundação.

Eis a nossa sina: esquecer para ter passado, mentir para ter destino.

A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa.

O que faz uma igreja é o silêncio mora lá dentro.

Quem parte treme, quem regressa teme. Tem-se medo de se ter sido vencido pelo Tempo, medo de que a ausência tenha devorado as lembranças. A saudade é um morcego cego que falhou o fruto o mordeu a noite.

A casa da infância é como um rosto de mãe: contemplamo-lo como se já existisse antes de haver o Tempo.

As pessoas é que abrigam a casa, a ternura é que sustenta o tecto.

A casa tem nome? E que nome tem a pedra? (...) Deram-nos nome como um modo de nos dizerem que não temos eternidade.

A vida são golpes, costuras e pontes.

A saudade é a única dor que me faz esquecer as outras dores.

A tristeza é uma doença, a alegria é um veneno. Como escolher?

Salvar é uma grande palavra. E amor é uma palavra ainda maior. Grandes palavras escondem grandes enganos.

Uns dizem que nos dividimos entre religiões. Não nos dividimos: repartimo-nos. A alma é um vento. Pode cobrir mar e terra. Mas não é da terra nem do mar. A alma é um vento. E nós somos um agitar de folhas, nos braços da ventania.

O que não é nosso em um mundo em que tudo nos roubam?

Temos medo do pó porque é uma prova de que o Tempo existe e nos vai tornando obsoletos, quase minerais.

Para nós, africanos, o tempo é todo nosso. O branco tem o relógio, nós temos o Tempo.

Mentir não passa de uma benevolência: revelar aquilo em que os outros querem acreditar.

Nascemos e choramos. A nossa língua materna não é a palavra. O choro é o nosso primeiro idioma.

Pela dança voltamos ao ventre materno. Foi lá, nesse oculto abrigo, que escutamos o primeiro tambor, executamos os primeiros movimentos de embalo. Foi lá que fomos peixe, fomos água, adormecida onda, incessante maré.

Os ricos enriquecem os pobres empobrecem. E os outros, os remediados, vão ficando sem remédio.

Vícios de historiador: ele não via fotos, ele lia imagens.

A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós.

A verdadeira viagem é a que fazemos dentro de nós. Há ondas movidas por anjos, outras empurradas por demônios.

A melhor maneira de não morrer queimado é viver dentro do fogo.

Como é que se sabe se o caracol anda perdido? Se toda a terra é seu caminho...

Quando se faz amor assim, de paixão total, fica-se longe das palavras. O encantamento é uma casa que tem o silêncio por tecto.

Nos últimos meses ele e sua esposa já não davam asas aos lençóis.

Os outros passam a escrita a limpo. Eu passo a escrita a sujo. Como os rios que se lavam em encardidas águas. Os outros têm caligrafia, eu tenho sotaque. O sotaque da terra.

Agora, ela sabia: um livro é uma canoa (...). Tivesse livros e ela faria travessia para o outro lado do mundo, para o outro lado de si mesma.

Só tem viagem quem recebe adeuses.

Só há um modo de enfrentar as más lembranças: é mudar radicalmente de viver, decepar raízes e fazer as pontes desabarem.

Quem não tem passado não pode ser responsabilizado. O que se perde em amnésia, ganha-se em amnistia.

Não é fácil sair da pobreza. Mais difícil porém, é a pobreza sair de nós.

Primeiro, perdemos lembrança de termos sido rio. A seguir, esquecemos a terra que nos pertencera. Depois da nossa memória ter perdido a geografia, acabou perdendo a sua própria história. Agora, não temos sequer ideia de termos perdido alguma coisa.

A gente ama alguém que desconhecemos, casa com quem conhece e vive com uma pessoa irreconhecível. Às vezes, temos luas-de-mel, outra vezes, luas melosas. A maior parte do tempo, porém, são noites sem luar nenhum.

Rasteiro é o rio; e chega ao céu.

Ele seria um crente, sim, no dia em que a igreja morasse dentro de cada um.

A nossa vida inteira é feita de esperas. E, afinal, basta uma palavra, uma só palavra, para sermos deuses, isentos de esperas.

As despedidas são sempre derradeiras.

Não são os grandes traumas que fabricam as grandes maldades. São, sim, as miúdas arrelias do quotidiano, esse silencioso pilão que vai esmoendo a esperança, grão a grão.

A viagem termina quando encerramos as nossas fronteiras interiores. Regressamos a nós, não a um lugar.
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cristina 12/07/2009

descobri Mia Couto o ano passado.
me encatei.
a linguagem dele é pura poesia.
eese livro em particular me reporta ao Brasil colonial.
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Dani 25/01/2022

Primeiro livro do autor que leio e gostei dos ensinamentos em falas dos personagens. A trama parecia interessante mas foi perdendo força..
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Bela 20/01/2022

O outro pé da sereia
?A viagem não começa quando de percorrerem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa?

É difícil exprimir tudo o que esse livro é, porque ele é muito além de um livro.
Ele te convida a tocar em feridas tampadas, a sair da sua zona de conforto e olhar para além da sua realidade. O modo com que Mia Couto aborda o colonialismo e a religião, além de outros temas, é cirúrgico.

Não sei se estava preparada para ele e principalmente para esse final, acredito que precisarei de um tempo para pensar sobre tudo o que li e talvez não esteja ?madura? o suficiente para entender a riqueza que há nessas páginas.

Enfim, saiba que essa resenha não é nada comparada a esta obra.
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Rub.88 12/05/2017

Voltas em Torno da Arvore do Esquecimento
A busca do particular passado próprio e dos antepassados longínquos para reconhece-se no espelho, entender os traços leves do rosto, as comissuras amargas da boca, as rugas precoces da testa larga, os olhos acostumado a ver o vazio da vastidão, a cor da pele que lhe dá algo que nem sabia existir entre os humanos; Uma raça...
O outro pé da sereia, do escritor moçambicano Mia Couto, conta sobre dois momentos narrativos separados por séculos, mas não plenamente distintos um do outro.
Num período do enredo, algo cai do seu céu e acaba indicando bem indiretamente o lugar de uma estatua de Nossa Senhora a um pastor de cabras. Então, o pastor que se chama Zero Madzero e sua mulher Mwadia Malunga, que moram isolados no meio do mato, levam a imagem a um adivinho que os orienta a procura um lugar sagrado apropriado para depositar a efigie da Virgem. A estatua tem um defeito, falta-lhe um pé. Zero Madzero por razões ocultas não quer ir mais a vila e fica a cargo de Mwadia levar, sozinha, o objeto de culto ao povoado que é o mesmo onde nasceu.
Na outra parte da estória conta-se como a imagem viajou a navio de Goa, Índia, para Moçambique. Benzida pelo próprio Papa e sobre os cuidados de um membro da Companhia de Jesus, Nossa Senhora atravessa o oceano índico num barco que transporta nos porões carga humana. E nessa viagem um padre, que escreve o diário de bordo, sente a fé lhe fraquejar. Uma emprega indiana de uma fidalga se encanta com um tripulante forçado, que tem como função tomar conta do fogo do navio.
No vilarejo, Mwadia encontra velhos conhecidos e familiares. A mãe engordou muito depois que a todas as filhas foram embora. O padrasto abandonou a profissão de alfaiate. Na parede da casa de infância estão os retratos dos ausentes, que na pratica são os mortos. Os personagens um tanto excêntricos do lugar tentam esquecer tudo que já aconteceu com eles e com o mundo. Porem a chegada de dois estrangeiros em busca de suas raízes africanas mostra que escavar esse chão preto não traz somente ouro escasso e pedras preciosas sangrentas. O que mais aflora são ossos escurecidos e relíquias forjadas.
A estatua, já manca e sangrado, chega à costa do império monomotapa onde o mambo local quer que a imagem fique por uma noite no seu quarto, e também que ser batizado. A recusa do clérigo para o segundo pedido faz desencadear eventos que levam a Nossa Senhora a ser abandonada no meio da floresta, onde será encontrada quase 400 anos depois...
Pode parecer que contei a estória toda, mas o foco das linhas escritas por Mia Couto, que foi mantido no vocabulário original do português moçambicano, esta na vergonha, no ressentimento, no sincretismo, no desespero calado, nas lagrimas secas por um passado horrível e da duvidas sobre o modo que se vive a vida.
Talvez o livro sofra com os excessos de aforismos e pelo final dubio, porem a leitura de O outro pé da sereia foi prazerosa.
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Tiago sem H - @brigadaparalela 27/06/2014

Sinopse: Após encontrar uma estrela cadente e enterrá-la na beira de um rio, Zero Madzero encontra a imagem de uma santa que possui apenas um pé. Aconselhado pelo adivinho Lázaro Vivo, Mwadia Malunga - esposa de Zero - precisa deixar sua casa em Antigamente e voltar até sua cidade natal, Vila Longe, a fim de arrumar um local seguro para que a santa seja guardada, caso contrário seu marido irá morrer devido a maldição das águas.

A história é traçada em dois momentos temporais: A primeira no Oceano Índico em 1560, onde acompanhamos a nau portuguesa de D. Gonçalves da Silveira que viaja com uma imagem de Nossa Senhora benzida pelo papa, para catequizar Moçambique. O segundo momento se passa em 2002, na jornada de Mwadia para levar a santa de um pé só para Vila Longe, onde terá que se confrontar com o seu passado.

Posso dizer com convicção que Mia Couto me ganhou com este livro e inclusive que foi uma das minhas melhores leituras de 2014. Não sei dizer se é o melhor ou o pior livro dele, afinal, foi meu livro de apresentação ao autor, mas com certeza irei procurar outras obras.

Por se tratar de um livro ambientado em Moçambique, com fortes traços religiosos, pensei que a leitura seria complicada, porém, sempre que havia uma palavra de origem africana, havia também uma nota de edição nos falando o que aquela palavra significava (ponto para a editora).

O autor soube sabiamente montar a transição temporal entre 1560 e 2002, alternando os capítulos entre um e outro, o que faz com que o leitor fique preso à obra à medida que a história vai se desenrolando, se entrelaçando.

O livro é repleto de metáforas que muitas vezes o leitor terá que julgar o que personagem estava dizendo, se aquilo aconteceu realmente ou se foi apenas uma alusão onírica dos personagens, o que é muito bacana, por que cada pessoa, pode interpretar de uma forma diferente.

Uma dessas metáforas que achei mais bacana, se diz respeito a Zero. Quase todos os personagens no decorrer do livro, dizem a Mwadia que seu marido está morto faz tempo, mas ela não acredita, afinal, ela havia deixado ele a pouco tempo em Antigamente, e ai??

Simbolismos, escravidão, religião, servidão feminina, pecados, entre outras características, fazem de O Outro Pé da Sereia, um excelente livro que irá te deixar com dó de vê-lo terminar.

site: http://brigadaparalela.blogspot.com.br/2014/06/bora-ler-03-o-outro-pe-da-sereia-mia.html
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fsamanta (@sam_leitora) 27/06/2012

Esses personagens respiram o mesmo ar da família Buendia (Cem Anos de Solidão). A prosa do Mia Couto é uma delícia, super poética, o leitor se surpreende a cada página. Já a história não tem grandes encantos, mas ainda assim vale a pena.
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isabelfilardo 16/04/2021

Uma viagem
Passado e presente, viagem para e desde África, travessia entre céu e terra, vida e morte. Dois lados se entrelaçam neste romance de Mia Couto. A sensação de que há muito sobre a África por descobrir.
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Gaby 08/05/2021

Uma obra de muita profundidade. Cheia de elementos históricos e culturais africanos. Repleta de frases fortes , trechos simbólicos e poéticos. Vale a pena pra quem gosta de leituras mais profundas.
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Henrique 14/05/2015

resenha completa:
https://www.youtube.com/watch?v=eFY2uwBr3NI

confiram! ;)
[^Angie^] 14/05/2015minha estante
opaaaa




mimima_0 23/04/2024

Parece que estou dormindo
Desde que li terra sonâmbula (outra obra do autor), eu sinto que os livros que leio dele são como se eu estivesse em um sonho. Ele é um livro bem viajado, vai falar como outras obras sobre a guerra e acho muito interessante. É bom pegar obras em que a língua original é o português e ser de outro país, com outros vícios de linguagem, outros modos de falar e outras culturas a serem representadas, especialmente à África, um país tão rico que passou por tanta coisa.

Recomendação: recomendo quem quiser conhecer mais sobre Moçambique e sua guerra, mas sem ser explicitamente, como um pano de fundo para algo mais profundo.
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