Luíza 13/09/2023
Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto
Que eu, simplesmente, amo a literatura de Mia Couto não é novidade, vivo panfletando esse autor maravilhoso e não seria diferente com esse livro!
?Conheci? Mia Couto por meio de uma leitura obrigatória da escola, nem me lembro em qual ano... o livro era O fio das missangas, um livro de contos curtos, repleto de uma linguagem diferente, estranha, mas ao mesmo tempo, familiar e encantadora. Desde então, os livros do autor me perseguem ? ou são perseguidos por mim ? e cada encontro é uma imensa euforia e encantamento
Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra narra a história de Marianinho, que volta à sua terra natal, Luar-do-Chão, para o enterro do seu avô, Mariano, e se depara com diversas situações inusitadas, entrelaçamentos na sua família dos quais ele ainda não tinha se apercebido, e segredos escondidos. Marianinho, então, caminha por uma trilha de autoconhecimento e retorno às origens, ao tentar se redescobrir na sua terra, bem como compreender melhor os seus familiares
Realismo mágico, neologismos surpreendentes e termos de origem africana e moçambicana são as marcas de Mia Couto e não poderia ser diferente nesse livro. Não canso de me surpreender com a capacidade do autor de inventar uma palavra nova que descreve EXATAMENTE uma situação comum, só que de uma maneira muito melhor e muito mais precisa do que jamais conseguimos!
E não são só neologismos puros, ou seja, não são apenas palavras ?inventadas?... O autor consegue, também, de maneira espetacular, inventar novas formas de dizer algumas coisas, e isso é, para mim, simplesmente o auge da criatividade e me CATIVA completamente!
Finalizo essa resenha com um dos trechos iniciais do livro, sobre a morte do avô de Marianinho, que demonstram bem essa capacidade de Mia Couto de redizer o comum de uma maneira extraordinária:
?A cicatriz tão longe de uma ferida tão dentro: a ausente permanência de quem morreu. No Avô Mariano confirmo: morto amado nunca mais para de morrer?