Carmella0 28/05/2024
"Freud and his circle thought most people were hysterics, then in the fifties it was psychoneurotics, and lately, everyone's a borderline personality."
A principal questão do livro é a diferenciação entre a sanidade e a insanidade. Feita por alguém que a observou e experienciou intensamente e com um julgamento tão sóbrio, o livro tem a qualidade única de abranger, ao mesmo tempo, a capacidade de criar identificação com quem passa por situações semelhantes e a análise destas situações. Mais especialmente, das definições destas situações e suas consequências.
A autora toca em vários pontos de tantos aspectos/camadas/relações da insanidade, desde como ela mesma se sentia e interpretava o que estava vivendo, passando pelos médicos, por como os outros reagiam ao saber que ela foi internada, até a análise de seu diagnóstico e suas implicações. Ela constrói uma imagem completa e densa da experiência, perfeita para dar partida a questionamentos, tanto íntimos quanto voltados ao coletivo. Acredito que estes questionamentos sejam muito relevantes nos dias de hoje, com o papel que as discussões e noções sobre saúde mental assumiram no cotidiano.
Me conforta a ideia de que ela considera seu diagnóstico questionável. Frequentemente tenho a sensação de que diagnósticos são tratados como indicadores definitivos das possibilidades de uma pessoa em relação a sua vida e identidade. Ser convidada a pensar sobre isso e chegar a conclusão de que as definições e termos que usamos para falar de saúde mental são maleáveis me traz ânimo. Mais uma maneira de imaginar novas formas de viver.