Sheila 14/04/2013Resenha: "O Primeiro Amanhecer - O Além Mar II" (Roberto Pellanda)Por Sheila: Olá people! (em inglês, para variar um pouco o "pessoas"...). Hoje trago a vocês o segundo volume da série "O Além Mar". A resenha do primeiro livro "Noite sem fim", de Roberto Campos Pellanda já foi publicado aqui no blog e pode ser acessado aqui.
Sempre aviso, para quem não gosta de estragar a surpresa e saber antes da hora o fim do livro, que não leia a resenha da continuação. Afinal, geralmente começo por onde o último livro terminou, por isso inevitavelmente lanço alguns spoilers. Mas se você não tem problema algum em ficar sabendo como o livro I termina, lei a vontade!
Pois bem, neste segundo volume, logo no início somos apresentados à história de Mrtin, nosso protagonista, e a forma como vem parar na Vila. Na verdade, ele é trazido pelo mar, o que explica de certa forma a luta de seu pai (adotivo) em busca da verdade por trás do regime ancião. Afinal, se nada há no Além Mar, como um bebê pode surgir trazido por ele - o Mar - dentro de um bote?
Logo após o prólogo, o livro é retomado de onde havia terminado: com Martin à bordo do Firmamento, navio no qual foi em busca de Maya e resgatou-a, junto com outros da Vila que haviam sido levados, pelos apavorante Knucks. Mas a viagem para Além Mar, por mais que traga algumas respostas, fomenta mais ainda algumas dúvidas: afinal que lugar é esse onde o céu se incendeia, e assim permanece indefinidamente?
"A imensa cortina que cobria a abóbada sobre as suas cabeças, antes escura e apenas perfurada aqui e ali para deixar cintilar as estrelas e a lua, agora estava pintada com uma explosão inacreditável de diferentes cores. Próximo ao horizonte, na direção em que navegavam, havia um brilho intenso; mais ao alto, diferentes tons de rosa se mesclavam em uma aquarela caótica. As poucas nuvens que salpicavam o céu exibiam uma cor rosada tão intensa, que mais se pareciam com fragmentos de algum metal incandescente. Já na direção oposta (de onde tinham vindo), as cores evanesciam e perdiam o brilho, dando lugar a um azul pálido e sem vida."
Assim, descobre Martin o Sol. Um choque, já que na Vila, de onde ele e quase todos os homens a bordo do Firmamento vem, é sempre noite. Agora, eles estão a caminho da Cidade do Crepúsculo lugar onde, ao contrário da Vila, é sempre dia. Habitada por um povo comerciante, religioso ao extremo - ao menos, parte do povo - e que vivem numa sociedade muito bem organizada. Mas que, no entanto, tem alguns problemas muito parecidos com a Vila: os Knucks.
No entanto, onde Martin esperava encontrar apenas amigo e aliados, encontra uma série de intrigas e brigas políticas entre diferentes facções, alguma interessadas em apenas uma coisa: Poder. Agora, o que Martin descobrirá, é que a traição dos Anciãos ao povo da Vila vai muito além do que sequer imaginava. Na verdade, toda a história da criação do mundo como o conhecia - primeiro único no universo, agora possuindo sua metade complementar - estava errada.
Conta a lenda que um dia, muito tempo atrás, o mundo possuía algo que os antigos denominavam "dia" quando o sol brilhava, e "noite", quando este abandonava o céu e dava lugar à lua e as estrelas, e que isso acontecia sempre num intervalo curto de horas, cerca de 24. No entanto, algo aconteceu, cindindo este mundo no meio e dando vida a Knucks, morfélias e atchins, seu contraponto emocional.
Agora, Martin precisa descobrir o que gerou a cisão de seu mundo, proteger-se contra os ataques dos Knucks, sobreviver as intrigas da cidade do Crepúsculo, e ainda achar um jeito de ajudar o povo da Vila, que esta sendo atacada por uma misteriosa doença, e vivendo num clima de tensão crescente.
"(...) o pai de Maya caira doente. A febre que o atormentava tinha vindo súbita e implacável. Em poucas horas, ele já não conseguia levantar da cama e passava a maior parte do tempo dormindo, enquanto seu corpo fervia. A mãe ficava ao lado do pai o tempo todo e insistia para que Maya fechasse as portas da livraria. Ela afirmara que, com aquele clima de extrema tensão, além de perigoso, seria inútil deixar o estabelecimento aberto: nenhum cliente apareceria. Maya havia contra-argumentado, afirmando que precisavam de dinheiro; quase não havia mais comida na despensa. Não que se encontrasse muita comida para ser comprada na Vila naqueles dias, de qualquer modo."
Este livro II segue a mesma excelência de escrita assumida pelo primeiro, mas a trama possui elementos ainda mais envolventes e elaborados. A luta pelo poder, a ganância desenfreada, os jogos políticos que privilegiam alguns poucos, toda uma trama que nos faz pensar a respeito da sociedade atual em que estamos inseridos, lógico que de forma metafórica.
Além da explicação (belíssima) para a divisão do mundo de Martin - o que poderia ser, talvez, um "futuro" do nosso - temos ação, aventura, suspense, romance, tantos elementos juntos que chega a ser difícil esmiúça los um a um neste espaço. Este segundo livro é, com certeza, mais denso e complexo que o primeiro, mas em nenhum momento menos instigante.
Uma narrativa ágil, uma trama para lá de bem elaborada e um final realmente de tirar o fôlego, fazem desta continuação um livro que vocês com toda certeza não deveriam deixar de ler. Tornou-se, sem esforço, um dos meus preferidos. Recomendadíssimo.
Disponível em: http://www.dear-book.net/2013/04/resenha-o-primeiro-amanhecer-o-alem-mar.html