Gusta 16/03/2020
Escrita por Dias Gomes, a obra "O Pagador de Promessas" apresenta a história de Zé do Burro, um rapaz que faz uma promessa para salvar a vida de um amigo. Essa promessa consiste em levar uma cruz, "tão pesada quanto a de Cristo", do seu sítio até uma igreja de Santa Bárbara, além de dividir as suas terras com produtores mais pobres. No entanto, um padre de rígidas convicções torna-se um empecilho para concretização das aspirações do moço e é a partir daí que a trama se desenvolve.
Captei inúmeros críticas e apontamentos por meio dos diálogos dos personagens como a questão da exploração do operariado e da reforma agrária, além da manipulação da mídia. Todavia, o que me conquistou nesse livro foi o fato de trazer hábitos e tradições que são muito particulares da Bahia e me fizeram lembrar do interior no qual fui criado. Apesar de ser soteropolitano, fui criado pelos meus avós e agora, de volta à minha cidade natal, estou redescobrindo esse lugar no qual nasci. Então, minha relação com esse livro foi bastante influenciada por esse momento que estou vivendo e pode ser que para outras pessoas não seja tudo isso. Eu li ele na volta pra casa e foi incrível a sensação de levantar os olhos dentro do metrô/ônibus e ter a sensação de que esses personagens poderiam ser qualquer uma das pessoas ali dentro. Foi uma sensação de identificação que eu não consegui ter com outras obras que se passam na Bahia como algumas de Jorge Amado, por exemplo. Lembrando mais uma vez que isso é bastante pessoal e eu posso simplesmente ter entrado em contato com esses outros livros em um momento não muito oportuno.
Enfim, as minúcias -como o fato de todos os personagens que não são chamados pelos cargos serem conhecidos pelos apelidos, que não necessariamente tem alguma relação com o nome original, além do caruru de Santa Bárbara e as rimas do repentista- ajudaram a criar esse sentimento com a obra. Ademais, só tenho a dizer que quem poder adquirir outra edição o faça, pois esta apresenta uns pequenos erros de diagramação. Nada muito bizarro, mas ainda assim capazes de incomodar leitores mais exigentes.