Quando recebi a notícia da editora que receberia um exemplar do livro de Yann Martel fiquei surpresa porque a princípio não tinha a menor ideia de conferia história. Sendo bastante sincera estava por conta pelo filme ter galgado um sucesso superestimado perto das outras produções que concorreram ao Oscar, mas segui em frente com a mente aberta. Tinha ouvido diversos comentários sobre como a obra era uma fábula de fé e sobrevivência, mas o que conquista de verdade na história de Pi são os animais e a jornada.
A maioria aqui já deve conhecer a história ou ter visto o filme, eu ainda não vi, e por isso minhas impressões se baseiam no livro sem comparativos. A história começa nos apresentando Pi, um garoto nascido e criado no zoológico da família. Seu nome incomum é graças a um amigo da família que era apaixonado por piscinas. Pi sempre foi diferente, e absorvia o mundo em torno de si. Os ensinamentos involuntários de se viver rodeado de tantos animais, ferozes ou não. Pi também sempre se interessou por religião e não satisfeito se considerava hindu, cristão e muçulmano, estudando e orando com cada uma delas. Mas a vida na Índia naquele período não era fácil e no fim da década de 70 a família Patel estava de mudança. Começariam uma nova vida no Canadá. O pai vendeu os animais e eles embarcaram junto com a maioria em um navio cargueiro. Pi estava inquieto na noite que o navio afundou e ele se viu sozinho, órfão em um bote com pouco suprimento, uma hiena, um tigre, uma orangotango e uma zebra ferida. Logo a cadeia alimentar venceu e restaram apenas ele, o tigre de bengala Richard Parker e infinito oceano pacífico. Lutando para manter a sanidade e a superioridade sobre Richard Parker essa foi a vida do improvável garoto indiano. Como sobreviver debaixo das intempéries do oceano, a um tigre de bengala, a fome, a solidão e as atitudes que precisamos tomar para tal?
A narrativa de Yann Martel é algo surpreendente, dando voz a um garoto incomum ele nos traz uma história que analisa e até mesmo filosofa sobre a coragem e a fé do ser humano. Não importando nossas religiões ou credos. Fé é uma coisa que vai além de um deus ou uma crença. O autor acerta o tom e com uma realidade crua e sensível nos mostra o estado de suspensão que o ser humano é capaz de viver e tolerar quando se trata de sobrevivência. Pi abdicou do sofrimento pela perda da família e dos animais para viver em um estado quase automático, que mesmo sem um horizonte definido, mesmo sem esperanças de mudanças não o fez perder a centelha do que podemos chamar de fé, e assim dia após dia Pi viveu uma existência miserável e cruel. E foi por apenas viver que ele sobreviveu.
Com descrições ora belas e ora terríveis o autor nos transporta para o bote e para a experiência de viver no estado que o protagonista viveu. Martel conseguiu construir um ambiente crível, e assim junto com o protagonista vamos aprendendo sobre a vida no mar e a vida de um náufrago. Não apenas as questões psicológicas e existências foram abordadas. A narrativa é repleta de curiosidades interessantes sobre navegação, sobre o mar e principalmente sobre animais. O final foi o esperado, mas agradou, ao mesmo tempo que deixou uma incrível sensação de desolação. E ainda é possível aos mais céticos a dúvida sobre o que a mente é capaz de criar para sobreviver.
Leitura cadenciada, que flui em um ritmo próprio e que deve ser lida sem pressa. Forte, triste, e ao mesmo tempo bela. Mas ainda assim acredito que teria sido melhor não terem adaptado para o cinema. A história de Pi é para ser lida e sentida. A edição da (...)
Termine o último parágrafo em: http://www.cultivandoaleitura.com/2013/05/resenha-as-aventuras-de-pi.html