spoiler visualizarGustavo Palma 23/07/2023
Que Nelson Rodrigues era um baita reacionário e crítico à sociedade todo mundo sabe, mas nessa peça parece que ele vai num nível além de outras (conheci ele pelas adaptações cinematográficas de Beijo no Asfalto e Toda Nudez Será Castigada). A peça conta a história de uma família carioca composta por cinco irmãs e seus pais. As quatro irmãs mais velhas nunca se casaram e se tornaram prostitutas, e a mais nova, Silene, de 16 anos, é protegida por todos, que contam com a esperança de que ela se case virgem. Quando eles descobrem que a menina também perdeu a virgindade antes do casamento, o pai, que era médium, recebe a visão do homem que teria condenado todas as filhas ao seu destino desgraçado, e as irmãs iniciam uma "caça" a esse homem.
Duas reviravoltas acontecem na busca pelo homem: a primeira é a descoberta de que o homem que desvirginou Silene é Bibelot, affair de uma das irmãs; a segunda é a conclusão de que quem condenou a família foi o próprio pai, chamado Noronha, por ter prostituído as filhas sem elas saberem. Ambas são uma crítica à ideia do "pai de família". Bibelot era casado com uma mulher que possuía câncer terminal, e mesmo assim mantinha "uma mulher em casa e uma mulher nas ruas" -- e uma dessas "mulheres da rua" era Silene, uma menor de idade. Ou seja, além de infiel, ele era também pedófilo. Já Noronha era um moralista hipócrita, porque criticava o destino das filhas mais velhas (prostitutas) e dizia que queria proteger a castidade da filha mais nova, mas ocultava o fato de que foi ele quem mandou os homens atrás de todas as filhas para desvirginá-las.
As mentiras das personagens e os assassinatos dão grande força à peça, que, assim como todas de Nelson, tem o objetivo de chocar o leitor/espectador.