Raphael 24/02/2021“O mistério da consciência” de António Damásio. Quando Charles Darwin apresentou a teoria da evolução pela seleção natural – que, diante de sucessivas comprovações, revelou-se mais que simplesmente teoria – ele desmontou dezoito séculos de criacionismo, ou seja, a ideia de que fomos criados de forma súbita por uma entidade divina (o lance do barro e da costela). Foi, provavelmente, a maior descoberta realizada por um cientista e o livro em que a teoria é apresentada - A Origem das Espécies - venceu um concurso realizado entre pessoas do ramo que o consideraram a obra científica mais importante da história.
De fato, foi um acontecimento notável e importante para o homem conhecer, de uma forma confiável, como se deu a sua origem biológica e o processo evolutivo ao qual nossa espécie – bem como todas as outras – foi submetida. As modificações genéticas gradativas, de forma muitíssimo lenta e com influências do meio em que a espécie está inserida, proporcionou que o homem se transformasse nessa espetacular máquina gênica multifuncional que conhecemos como corpo. Mas, para além de tudo isso, existe algo que a evolução pela seleção natural não consegue explicar de forma satisfatória?
Neste contexto, surge a premissa deste livro. O neurocientista Antonio Damásio faz uma investigação minuciosa sobre as origens biológicas da consciência na espécie humana. Algo que, com efeito, não ficou bem delimitado com o trabalho dos evolucionistas. Sucede que, aqui, nesta obra, percebo que o autor retrata o cenário como uma desafio muito grande para os cientistas posteriores, aduz, inclusive “(...) apesar de as contribuições recentes serem numerosas e substanciais, vejo com ceticismo a ideia de resolver o problema da consciência”.
No mais, o autor vai apresentando alguns conceitos, estabelecendo distinções, sempre com uma linguagem bastante técnica que os não versados em ciências médicas – como eu – sentirão certa dificuldade em acompanhar o raciocínio e a linguagem técnica. Explica, por exemplo, a distinção entre vigília e consciência, emoção e sentimento, a função biológica das emoções, e traz alguns exemplos de sua experiência médica com pacientes desprovidos de alguns desses atributos e a consequente repercussão disso na vida psíquica e consciente das pessoas.
Em suma, é um livro demasiado técnico, não indicado para o público em geral. Eu não me atreveria a tentar resumir aqui as elucubrações técnicas do autor, mas fica o registro. “(...) Imagino que a consciência possa ter prevalecido na evolução porque conhecer os sentimentos causados pelas emoções era absolutamente indispensável para a arte de viver, e porque a arte de viver foi um tremendo sucesso na história da natureza”.