Naty__ 28/02/2014Medo do escuro e outras histórias Medo! Você tem de quê?
Medo de escuro, nome do livro e de um dos textos, é uma antologia com nove contos. O primeiro deles apresentado pela autora é “O Sótão”. Edgar vive um dilema. Ele está em casa com Adriana, sua sobrinha, ele passa a ouvir gritos e choros da pequena. Para o jovem, Adriana está com medo, pois ouviu, assim como ele, barulhos de uma festa no Sótão. Mas como pode haver uma festa se ambos estão sozinhos?! Realidade ou imaginação? Fato ou alucinação? Edgar fica preso pelas garras do medo.
Outro conto bastante interessante é sobre Emílio. Nos dias atuais, ele poderia ser conhecido como o cara mais pessimista que poderia existir. A lei de Murphy seria chamada a lei de Emílio. Se algo tivesse que dar errado, daria; se fosse provável que desse certo, também daria errado mesmo assim.
Emílio cresceu sem os pais e, por isso, começou sua sofrida vida de trabalho cedo. Era natural que as coisas fossem mais difíceis para ele. Por esse motivo é que ele era considerado como uma pessoa tão pessimista. Contudo, para mim, ele é um grande realista. Afinal, as coisas são difíceis de serem conquistadas. Ele era uma pessoa de poucos amigos, poucas falas e, quando algo lhe incomodava, falava na cara, sem titubear.
Essa foi uma das partes mais chocantes. Foi como dar uma facada no olho e esperar que a pessoa clamasse por salvação. Emílio tinha um segredo e que não confessava a ninguém. Cansado de esconder, decidiu que contaria a Hiládio. Quando foi confessar com o amigo, o inimaginável acontece. Quais serão os segredos que Emílio carrega consigo?
O conto principal do livro conta a história de Mônica, uma criança de nove anos que tem medo do escuro. Ela tinha pesadelos com uma mulher toda vestida de branco, com feições duras e deformadas. Certa noite, Mônica voltou a ter pesadelos, dessa vez, a visão foi ainda pior: a misteriosa mulher estava sem cabeça.
A história é contada e Jussara tenta acabar com o medo de Mônica, fazendo com que ela se desprenda desses pensamentos. Embora esse seja considerado o conto principal, por dar nome ao livro, a história não foi a melhor da antologia. O final é inesperado, porém, não é surpreendente e amedrontador como os outros. Acredito que o conto foi escolhido para ser o principal mais pelo efeito do nome do que pela qualidade do texto.
Maud teve todo cuidado para nos causar suspense em cada história narrada. Os contos realmente são de intrigar os leitores. Porém, infelizmente, a diagramação e a revisão deixaram a desejar.
Não conhecia muito o trabalho da editora Modo. Esse é apenas o segundo livro publicado por eles que leio e confesso que esperava que a revisão e diagramação fossem bem melhores. Não há erros na escrita, mas muitos hifens foram usados como travessões, além das vírgulas e pontos terem sido usados incorretamente.
Um detalhe todo especial está presente logo na chamada: a capa do livro é linda e bem feita. As folhas são amareladas e tem desenhos decorando, o que dá um toque todo especial ao trabalho. Porém, não se apeguem apenas à capa, afinal, não podemos julgar apenas por sua beleza.
Quotes:
“Levantei-me e fiquei sentado, sem colocar os pés no chão. Tinha medo de pisar em falso; medo de não encontrar o rumo certo, de não conseguir voltar. Mesmo na escuridão, temos o senso de dimensão, de direção. Eu sabia como os móveis de meu quarto estavam dispostos, sabia onde ficava a porta. Mas havia um medo de causa desconhecida que me corroía a alma de tal maneira que eu mal conseguia me mover com presteza.” (p. 12)
“O rapaz não presta porque mora no morro, D. Sandra? Na sua concepção, quem mora em morro é drogado, é prostituído, é traficante? E quem não mora? – perguntou, fitando-a com sarcasmo. – E quem não mora no morro e vai até lá para buscar drogas é o quê? Responda! Sabe de quem estou falando? Do seu filho, que usa cocaína bem debaixo do seu nariz e a senhora finge que não percebe. Sabe por que a senhora prefere fingir? Porque não sabe lidar com a situação, não quer acreditar que a educação perfeita que a senhora deu a ele não serviu de nada! É melhor não ver que o filho está drogado que admitir que não possui uma família perfeita! Ora, pare de falar da vida dos outros!” (p. 36)
“Não consigo ver o que tem no escuro. Não sei o que está acontecendo. Se alguém vier me pegar não tenho como fugir. Não enxergo nada!” (p. 56)
“Você precisa vencer o medo que tem do escuro. Se continuar fugindo dele nunca o vencerá. Viverá com esse medo até ter coragem de se aproximar dele. Já está na idade de não ter mais medo. Você precisa vencê-lo, você precisa vencê-lo, Mônica” (p. 57)