bardo 03/12/2022
Talvez uma das Graphic Novels mais conhecidas e badaladas com uma história e protagonista até certo ponto largamente conhecidos, seja pela própria obra, seja por sua adaptação cinematográfica. A primeira coisa que salta aos olhos aqui é a complexidade, não é uma obra fácil de ser lida, seja pela imensa quantidade de referências seja pelo próprio caráter opressivo da narrativa. A Graphic Novel é bem mais sombria do que sua adaptação, algumas escolhas narrativas utilizadas nessa última comparadas ao material fonte causam estranheza. Lendo a obra dá para entender o aborrecimento de Moore com a deformação de seu personagem, V até pode ser lido como um anti-herói mas certamente não como o herói libertador que se atribuiu ao personagem. Esse personagem fascinante e enigmático definitivamente não é bondoso ainda que não possa ser enquadrado como maldoso, cruel e implacável com certeza são atributos justos. A obra deixa algumas questões em aberto, de forma que não sabemos bem o que V se tornou assim como não sabemos quem ele foi. Existe um caráter simbólico nesse personagem sem rosto, sem nome e a rigor sem nunca mostrar seu verdadeiro eu, a escolha pela fala enigmática e parafraseada, reforça a ideia de alguém quase imaterial. A obra apresenta um teor político escancarado, sendo quase que um manifesto anarquista, talvez um tanto utópico. Utópico na sua concepção do conceito de anarquia, quanto a sua real concretização, os autores parecem um tanto duvidosos da força do caráter humano em pagar o alto preço da verdadeira liberdade. Vale ainda comentar o lindíssimo e triste interlúdio em que somos apresentados a personagem Valerie, vale dizer que aqui o peso da narrativa se intensifica ao descobrirmos quem ela era. Sua carta testamento é de uma força e beleza que sobrevivem até mesmo separadas da obra principal.
“Nossa integridade é vendida por tão pouco, porém ela é tudo o que temos. Ela é nosso último pedacinho, mas nele, nós somos livres.
(…)
Eu vou morrer aqui. Cada pedacinho de mim vai morrer. Exceto um. O da integridade. Ela é pequena e frágil. É a única coisa no mundo que ainda vale a pena se ter. Jamais devemos perdê-la, vende-la ou entregá-la. Nunca devemos deixar que a tirem de nós.”
Uma obra para ser lida e relida e que faz jus a imensa fama que possuí, a adaptação também possui seus méritos, mas como costuma acontecer, empalidece perante o original, principalmente por uma escolha narrativa final, onde os produtores não tiveram a coragem de ser fiéis a Graphic Novel. O final originalmente proposto é muito mais ambicioso e consistente.