Últimas Palavras

Últimas Palavras Christopher Hitchens




Resenhas - Últimas palavras


26 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Ricardo Silas 25/03/2014

Como não se emocionar?
Quando li "Deus não é grande", o best-seller mais renomado do Hitchnes, vi nos primeiros capítulos um trecho no qual ele menciona George Orwell, e diz com suas palavras que se acreditasse em heróis, Orwell seria o seu.

Diante disso, me vejo compelido a afirmar que eu, diferente do Hitchens, acredito em heróis. Principalmente, acredito no meu herói... Chris Hitchens.

Conheci esta eminente personalidade em vídeos, no youtube, e acabei tomando-o como a maior referência de inspiração intelectual e erudita, como eu nunca antes havia encontrado. A forma com que ele exortava seus ouvintes e leitores a não se calarem diante de injustiças e estultices, demonstrou que todos temos essa capacidade de professarmos nosso mais destemido protesto.

Em seu livro, últimas Palavras, fiquei comovido pela sua probidade moral, mesmo perante uma das intempestividades mais horrendas da vida. Utilizou seu talento e seu carisma até o último suspiro; não desistiu, não baixou a guarda e nem foi covarde. Pelejou contra o câncer, consciente de que sua derrota estava próxima, e ainda assim foi impassível.

Hitchens é a inspiração da minha vida; é o reflexo de homem e um exemplo a ser seguido (não pela elevada ingestão de scotch e cigarros). Seu assombro pela magnitude e complexidade da vida foi o bastante para preencher todas as fendas amargas que a enfermidade o trouxe. E fui cativado por isto.

Agradeço a um dos mais esmerados intelectuais da nossa história.

"Se Hitchens não existisse, ninguém seria capaz de inventá-lo." Ian McEwan
comentários(0)comente



Daniele 04/03/2021

Christopher se consagrou como um exímio crítico, fez sua carreira em meio a guerras ? literais e metafísicas ? tornando-se uma figura muito admirada (e odiada) pelo público.

Seu texto, marcado por uma inconfundível acidez, perspicácia e inteligência, se tornou referência em debates, sejam eles políticos, culturais, ou onde se cercou de polêmicas, religiosos.

Não diferente do que vi em "Deus não é grande", em "últimas palavras" manteve um discurso duro, implacável, livre de autopiedade e cheio de uma verdade nua e crua dolorosa.

Não imagino o quanto foi difícil, com a morte a frente, ter ouvido e recebido comentários maldosos de pessoas "de bem", embora saiba que ele mesmo tenha deixado esse paradoxo para os que oraram por sua cura.

Seu relato me emocionou muito, também me chocou e está me fazendo refletir. Por fim, como se prevendo aos que o chamariam de corajoso por ter "enfrentado uma dura luta contra o câncer, escreveu:
"Corajoso? Tá, guarde isso para uma luta da qual você não pode fugir"
Que falta faz!
comentários(0)comente



Aguinaldo 31/01/2013

últimas palavras
Nesse pequeno livro acompanhamos as últimas palavras de um grande polemista, de um sujeito que nunca teve medo de defender suas idéias. Dele já havia lido o seminal "Deus não é grande", um impressionante ensaio onde ele defende as vantagens da inteligência e do secularismo, em contraposição ao obscurantismo, a fé religiosa e o medo. Hitchens descreve como descobriu por acaso que estava com câncer já em estágio avançado, justamente no dia em que seu livro de memórias alcançava o primeiro lugar em uma lista de livros mais vendidos nos Estados Unidos (a vida sabe proporcionar ironias deste tipo). Sabendo que os ateus jamais devem oferecer consolo ele não pede solidariedade nem palavras de incentivo. Estóico que era, ele apenas pede que o leitor acompanhe suas digressões, como num rito de despedida. Se um leitor ficar com dúvidas se deve ou não ler o livro não deve experimentar o primeiro parágrafo, incrívelmente sedutor: "Mais de uma vez em minha vida acordei com a sensação de estar morto. Mas nada me preparou para o começo da manhã de junho em que recobrei a consciência sentindo-me como que acorrentado a meu próprio cadáver." Depois de um início como esse é impossível largar o livro, por mais que as detalhadas descrições de quimioterapias, radioterapias e outros procedimentos médicos sejam devastadoras. De qualquer forma trata-se de um livro curto, como curtos foram os dias que se seguiram a descoberta de seu câncer, já que pouco mais de um ano e meio o separaram da morte. Carismático, vibrante, hiper-ativo, Hitchens viveu uma vida plena, e como ateu determinado, soube escolher seus embates, direcionar sua inteligência e língua afiada, esgrimir sua lógica e argumentos demolidores até o final. Para ele o que deve-se evitar com fúria é imergir no "reino da ilusão", acreditar nos programas que incentivam a "idiotice das metáforas que comparam os tratamentos como batalhas contra o câncer que sejam possíveis de serem vencidas". Os auto-enganos sempre custam caro.
[início: 27/01/2013 - fim: 29/01/2013]
"Últimas palavras", Christopher Hitchens, tradução de Alexandre Martins, Rio de Janeiro: editora Globo, 1a. edição (2012), brochura 14x21 cm, 91 págs., ISBN: 978-85-250-5274-2 [edição original: Mortality (New York: Twelve Books / Hachete Book Group) 2012]
comentários(0)comente



Rafael 07/03/2016

O que dizer?
É complicado escrever uma resenha sobre um livro que trata dos últimos dias de uma pessoa como Cristopher Hitchens. Referência pessoal da pessoa que vos escreve, Hitchens é exemplo de intelectualidade, sarcasmo, ironia, e de uma escrita arrebatadora. Defende suas idéias com uma coerência, cristalinidade e com uma humildade intelectual invejável. É uma das pessoas que mais me influenciou na vida toda. Por fim, só resta a nostalgia dos tempos que Hitchens dilacerava seus oponentes em debates ao redor do mundo. E a vontade de que apareça um jornalista com o calibre dele.
comentários(0)comente



Bruno 04/06/2023

Não parece fácil contemplar a morte enquanto ainda não se encontrou um sentido para sua vida.
As Últimas Palavras de Hitchens são tomadas por indignação e angústia, disfarçadas por um cinismo científico com traços de superioridade intelectual.
Hitchens não deixa de culpar, diversas vezes, um Deus que afirmava não existir por sua doença. Trata teses e trials ainda incipientes em oncologia com o mesmo fervor religioso que combateu enquanto saudável contra o catolicismo.
Morreu, ao que tudo indica, firme em suas convicções. Acreditou em sua cura até a partida. Deixou uma legião de fãs precocemente órfãos de suas firmes opiniões.
Suas Últimas Palavras foram tão fortes quanto quaisquer outras ao longo de sua vida.
comentários(0)comente



Sheila Almendros 25/05/2021

Tocante
A reunião dos últimos textos de Christopher Hitchens para a Variety relata brevemente um homem lutando por sua vida de uma maneira leve. Isso não quer dizer que seus anseios são inexistentes, muito pelo contrário. Mas quem disse que os anseios precisam enfraquecer a nossa simpatia pela vida? Nosso desejo de viver um bom momento?

Deste livro, curtinho, porém muito bem sintetizado, tirei este aprendizado. Não importa o tamanho dos nossos medos, eles não podem nos impedir de levar encarar cada dia com benevolência.

E essa história ganha uma peso ainda mais sensível com o último texto do livro: o depoimento da esposa de Hitchens. Ela ressalta toda a sua bravura e leveza, mesmo diante de uma doença tão devastadora, que tirou aos poucos a energia de seu corpo, mas não de sua personalidade.
comentários(0)comente



Flavio 05/03/2013

Excelente!
Imperdível para quem contempla a vida como única. Chega-se ao fim consciente de suas limitações e absolutamente certo que não há deuses.
comentários(0)comente



D Cascato 05/05/2013

Eu ainda acho que o nome original do livro(Mortality), faz mais juz à ele. Tirando os primeiros capitulos em que Hitchens quebra de vez o velho tabu idiota: "Quero ver você ser ateu em um avião caindo", ou neste caso com um câncer mortal, o restante do livro se parece mais com um diário no leito de morte, mas é muito fiel ao nos mostrar o que Hitchens estava passando, e como ele encarava tudo aquilo. Ao final do livro me senti como se tivesse acompanhado este meu querido autor, em sua trajetória final, fiquei triste por sentir Hitchens um pouco desapontado, e até de certo modo abatido, mas feliz por ele ter sido realmente forte e mantido suas convicções intactas até o final.
comentários(0)comente



day 03/06/2016

Duro e real
os últimos momentos de um grande intelectual é descrito por ele ,de forma realista ,que qualquer pessoa que perdeu um ente querido para o câncer sabe que dura a trajetória da doença a morte.
Um livro que mostra que um ateu pode passar por uma situação de doença ,sem se apagar a ilusões e deuses .
Como atéia me senti fortalecida com essa leitura.
Almir 11/07/2016minha estante
Perfeita a sua análise.

Estou lendo o livro, e o que extraí até agora dos relatos do grande CH foi exatamente essa convicção nos ideais e força nos piores momentos, sem fraquejar.

Um exemplo para todos nós, ateístas.




Felipe770 01/11/2021

Hitchens não decepciona em suas últimas palavras. Sempre certeiro, esse livro curto é excelente para entender o arguto escritor e orador. Sua descrição da própria doença que acabou tirando sua vida é bela e sofrida ao mesmo tempo. E o posfácio de Carol Blue é também emocionante. Recomendo
comentários(0)comente



Jackie 09/06/2020

Nem todos os joelhos se dobrarão
Se vc é cristão ou acredita em algum deus, não diga mais que todo ateu vira crente em um avião caindo. Não aja com desonestidade intelectual. Hitchens é uma das provas de que casos de conversão com a chegada da morte são raros. E quando ocorrem, pode ser exatamente porque essas pessoas já não usam mais seu racional, podem estar delirando, simples assim.
comentários(0)comente



Darkpookie 16/07/2020

Comentários e trechos
Esse livro é o relato do Christopher Hitchens sobre seu câncer e suas percepções frente a possibilidade da morte. Muito real e emocionante. Ainda que eu não tenha lido mais nada do autor, pude perceber sua sensibilidade com a escrita, guiada como uma conversa. Pretendo ler outras obras do Christopher e conhecer mais suas ideias. A seguir, alguns trechos que me impressionaram:

"Mais de uma vez em minha vida acordei com a sensação de estar morto. Mas nada me preparou para o começo da manhã de junho em que recobrei a consciência sentindo-me como que acorrentado a meu próprio cadáver."

"As pessoas não têm câncer: elas são apresentadas como estando em luta contra o câncer. Ninguém que o queira bem omite a imagem combativa: você pode vencer isso. [...]
Pessoalmente, adoro o imaginário da luta. Algumas vezes, gostaria de sofrer por uma boa causa ou arriscar a vida pelo bem dos outros, em vez de ser apenas um paciente de alto risco. Mas permita-me informá-lo de que ao se sentar numa sala com um grupo de outros finalistas, quando pessoas gentis ligam uma enorme bolsa transparente de veneno ao seu braço, quando você lê ou não lê um livro enquanto o saco de veneno gradualmente se esvazia em seu sistema circulatório, a imagem do soldado ou revolucionário heroico é a última coisa que lhe ocorre. Você se sente atolado em passividade e fraqueza: dissolvendo-se em impotência como um cubo de açúcar na água."

"Quase todos os homens têm câncer de próstata quando vivem o suficiente para tal: é uma coisa indigna, mas distribuída igualitariamente entre santos e pecadores, crentes e ímpios. Se você sustenta que deus concede cânceres sob medida, também tem de levar em conta o número de crianças com leucemia. [...] Portanto, esses infortúnios parecem medonhamente aleatórios. Minha garganta até o momento não cancerosa – apresso-me a garantir a meu correspondente cristão acima – não é de modo algum o único órgão por meio do qual blasfemei."

"Todos podem ver a brincadeira embutida nesse verbete: o homem que reza é aquele que acha que deus dispôs as coisas todas erradas, mas que também acredita que pode instruir deus sobre como corrigir tudo. Semienterrada na contradição está a ideia perturbadora de que não há ninguém no comando, ou ninguém com alguma autoridade moral. O apelo à prece anula a si mesmo."

"Ao analisar a depressão que desenvolvi naqueles sete dias nojentos, descobri que me senti ao mesmo tempo enganado e desapontado. “Até ter feito algo pela humanidade você deveria sentir vergonha de morrer”, escreveu o grande educador americano Horace Mann. Eu teria alegremente me oferecido como paciente experimental de novas drogas ou novas cirurgias, em parte, claro, na esperança de que elas pudessem me salvar, mas também pelo princípio de Mann."

"O cumprimento mais prazeroso que um leitor pode me fazer é dizer que sente que me dirijo a ele. Pense em seus autores preferidos e veja se essa não é uma das coisas que o cativa, sem que você tenha percebido isso, de início. Uma boa conversa é o único equivalente humano: é quando você percebe que observações decentes estão sendo feitas e compreendidas, que há ironia envolvida, e elaboração, e que um comentário tedioso ou óbvio seria quase fisicamente doloroso."

"Podemos não ser, como costumávamos nos vangloriar, os únicos animais capazes de discursar. Mas somos os únicos que podem utilizar a comunicação verbal puramente por prazer e diversão, combinando isso com nossas duas outras fanfarrices de razão e humor para produzir sínteses mais elevadas. Perder essa habilidade é ser privado de toda uma gama de capacidades: certamente é morrer mais que um pouco."

"[...] me lembro de ficar deitado ali, olhando para meu tronco nu, coberto quase da garganta ao umbigo por uma vívida dermatite vermelha de radiação. Isso era fruto de um mês de bombardeio com prótons que queimara todo o câncer em meus nódulos clavicular e paratraqueal, bem como o tumor original no esôfago. Isso me incluiu numa categoria rara de pacientes, que podiam alegar ter recebido a terapia mais avançada disponível apenas para o código de área estelar do MD Anderson Cancer Center, de Houston. Dizer que a dermatite dói seria inútil. A luta é para transmitir o modo como ela dói por dentro. Fiquei deitado dias a fio, tentando em vão adiar o momento em que teria de engolir. Cada vez que engolia, uma onda de dor infernal subia por minha garganta, culminando no que parecia um chute de mula na base das costas. Ficava pensando se as coisas pareciam tão vermelhas e inflamadas do lado de dentro quanto eram do lado de fora. E, então, tive um maldoso pensamento espontâneo: caso tivesse sido informado disso tudo antes, teria optado pelo tratamento? Houve vários momentos, enquanto me contorcia, remexia, engasgava e xingava, em que duvidei seriamente disso."

"Durante minha internação seguinte, em Washington, a instituição me presenteou com uma violenta pneumonia por estafilococos (e me mandou para casa duas vezes com ela), o que quase acabou comigo. A fadiga aniquiladora que tomou conta de mim em consequência disso continha a ameaça mortal de rendição ao inescapável: quase sempre veria fatalismo e resignação se abatendo desalentadoramente sobre mim enquanto eu fracassava na luta contra minha inanição geral. Apenas duas coisas me salvaram de me trair e desistir: uma esposa que se recusava a me ouvir reclamando dessa forma tediosa e inútil e vários amigos que também falavam francamente sobre isso. Ah, e o analgésico básico. Com que felicidade eu programava meu dia enquanto via a injeção ser preparada. Era um grande evento. Com sorte, no caso de alguns analgésicos, você consegue sentir o efeito acontecendo: uma espécie de formigamento quente com um êxtase idiota. Cheguei a isso – como os tristes idiotas que atacam farmácias em busca de OxyContin. Mas era um alívio ao tédio, um prazer culpado (não há muitos deles em Tumorlândia) e, não menos importante, um alívio da dor.
Passei a conhecer bem esse sentimento: a sensação e a convicção de que a dor nunca irá passar e que a espera pela dose seguinte é injustamente demorada. Então, um surto repentino de falta de fôlego, seguido por alguma tosse inútil e depois – se for um dia nojento – mais expectoração do que consigo suportar. Canecas de saliva velha, eventualmente muco, e desde quando, inferno, eu preciso de azia neste exato instante? Não é como se tivesse comido algo: um tubo transporta todo o meu alimento. Tudo isso, e o ressentimento infantil que vem junto, produz enfraquecimento. Da mesma forma como a impressionante perda de peso, que o tubo parece incapaz de combater. Perdi quase um terço de minha massa muscular desde o diagnóstico do câncer: isso pode não me matar, mas a atrofia muscular torna ainda mais difícil fazer até os exercícios simples sem os quais ficarei ainda mais fraco."

"Até agora decidi aceitar o que minha doença puder jogar sobre mim e permanecer combativo, mesmo enquanto acompanho minha inevitável decadência. Eu repito, isso não é mais do que uma pessoa saudável tem de fazer em câmera lenta. É nosso destino comum. Mas nos dois casos é possível dispensar máximas banais que não justificam sua aparente importância.
Recentemente fui agendado para a inserção de um cateter intravenoso no braço, a fim de eliminar a necessidade de invasões temporárias repetidamente. Os especialistas me disseram que é raro levar mais de dez minutos para ser concluído (o que havia sido minha própria experiência em visitas anteriores). Não se passou muito menos de duas horas até que, tendo tentado e fracassado com os dois braços, eu estava sentado entre dois protetores de colchão manchados de sangue seco ou em coagulação. O incômodo das enfermeiras era palpável. E estávamos longe de uma solução.
[...] O que não me mata, declarava, me fortalece... Acho que isso começou a murchar no dia em que eu pedi para “seguir em frente” onze vezes, e estava secretamente esperando pela oportunidade de desistir e ir dormir. Então, de repente, o rosto preocupado do especialista se iluminou enquanto ele exclamava: “Bem, doze é o número da sorte”, e o tubo da vida começou a esvaziar a seringa. A partir desse momento, pareceu absurda a ideia de que esse blefe de minha parte estava me fortalecendo ou fazendo com que as outras pessoas trabalhassem com mais vigor ou alegria. Qualquer que seja seu ponto de vista sobre o resultado ser afetado pelo moral, parece certo que é preciso escapar do reino da ilusão antes de tudo."

"“Lembre-se, você também é mortal” – me atingiu no auge de minha forma, e exatamente quando as coisas estavam começando a se estabilizar. Meus dois bens, a caneta e a voz – e tinha de ser o esôfago. O tempo todo, enquanto queimava a vela nas duas extremidades, eu estivera “rumando para a arena dos doentes”, e agora “um pequeno tumor vulgar” era evidente. Esse alienígena não pode querer qualquer coisa; se me mata, ele morre, mas parece muito obstinado e convicto de seu propósito. Mas não há nenhuma ironia nisso. Preciso tomar enorme cuidado para não ter autopiedade ou ser autocentrado. Perdi sete quilos sem querer. Finalmente magro. Mas não me sinto mais leve, porque caminhar até a geladeira é como uma marcha forçada. E as selvagens pústulas de psoríase/eczema que nenhum médico conseguiu tratar também sumiram. Deve ser uma toxina impressionante a que estou tomando. E uma misericórdia para o caso do sono... Mas todos os remédios para dormir e os cochilos extáticos de algum modo parecem desperdício de vida – o futuro me reserva muito tempo para a inconsciência. Manhã de biópsia, acordo e digo que, independentemente do que aconteça, este é o último dia da minha antiga vida. Mais nenhum fingimento de juventude ou jovialidade. A partir de agora, uma árdua consciência."

"Sensação vertiginosa de estar sendo arremessado para a frente no tempo: catapultado na direção da linha de chegada. Tentando não pensar com meu tumor, o que seria absolutamente não pensar. As pessoas tentam fazer parecer como se fosse um episódio na vida de alguém."

"Pés frios (por enquanto, só à noite): “neuropatia periférica” é outra daquelas expressões como “necrosado”, que descrevem a morte em vida do sistema. E você perde peso, mas o câncer não está interessado em comer sua gordura. Ele quer seus músculos. A Dieta de Tumorlândia não ajuda muito. O pior de tudo é o “quimiocérebro”. Embotado, amortecido. Como se a tortura gloriosa postergada fosse apenas o prelúdio de uma execução horrenda."

"Se eu me converter é porque é melhor que morra um crente do que um ateu."

"(Com a vida infinita vem uma lista infinita de parentes. Avós nunca morrem, nem bisavós, tias-avós... e assim por diante, remontando gerações, todos vivos e dando conselhos. Os filhos nunca escapam das sombras dos pais. Nem as filhas de suas mães. Ninguém nunca fica por conta própria... Esse é o custo da imortalidade. Nenhuma pessoa é completa. Nenhuma pessoa é livre.)"
comentários(0)comente



Nath 05/08/2020

Faz a gente refletir muito sobre vida e mortalidade. Tudo pode mudar a qualquer momento. Não é uma leitura leve.
Alex.Rosa 11/08/2020minha estante
Interessante. Li "A morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstói"...muito bom tbm, nesta pegada aí. Tenso.


Nath 11/08/2020minha estante
Nossa, hahahahhaha bom saber. Eu gostei, mas me deprimi. Preciso ler coisas leves dps ???


Alex.Rosa 11/08/2020minha estante
???? tbm. Bateu um desânimo depois kkkkkkk mas faz refletir, só não pode refletir muito se não entra em depressão rsrsrrs




thapark 20/10/2020

“Caso tivesse sido informado disso tudo antes, teria optado pelo tratamento? Houve vários momentos, enquanto me contorcia, remexia, engasgava e xingava, em que duvidei seriamente disso.” Esta e outras reflexões que Christopher Hitchens compartilha neste livro após descobrir um câncer de esôfago cuja evolução lhe tirou a vida. É uma parte da história do final da vida de um homem que optou utilizar todos os recursos médicos disponíveis em busca de uma cura e algumas das angústias que o acometeram neste período.

site: @livros_e_dicas
comentários(0)comente



26 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR