Tamirez | @resenhandosonhos 07/08/2018AlmanovaFazia um bom tempo que eu estava de olho nessa trilogia, pois a premissa sempre me chamou muita atenção. Imagine um mundo onde você morre mas sempre volta a vida, em um novo corpo, começando do zero. Você pode ser um homem, depois uma mulher e todas as outras possibilidades. As memórias e seus feitos marcados pra sempre, seja em você ou nos livros de registros. Conhecer a todos indiferente da aparência que a pessoa seja.
E Ana, quando nasce e não traz ninguém de volta, passa a representar uma ameaça a esse sistema. Negligenciada e tratada com inferior, muito de seu desenvolvimento está prejudicado, além da própria garota. Ela acredita nas palavras daquela que a criou, que ela não é boa, que não pode sentir – mesmo sentindo -, e que não tem o direito de estar ali. Isso a faz desconfiada e temerosa, além de ingênua para muitas coisas que lhe foram privadas.
“Eu queria saber como fazer todas as coisas.”
Quando ela se confronta com Sam, num primeiro momento há um pé atrás, mas isso logo se vai, o que representou um pequeno incômodo pra mim. Ao mesmo tempo em que ela se mantém um pouco sestrosa com os outros, ela se abre demais a ele, abandonado sua antiga postura. Ele acaba por vezes ofuscando a própria presença da protagonista, pois tudo nela passa a girar ao seu redor. Os amigos são dele, os contatos, a família, as roupas, a casa, o mundo. Me pareceu que a protagonista antes sobreposta pela mãe, se deixa novamente na mesma situação – mais agradável aqui, óbvio -, mas novamente vivendo as leis de outra pessoa, e não criando as suas. Por termos a trama narrada do seu ponto de vista, isso fica ainda mais claro ao vermos as ações da personagem sempre se inclinando na mesma direção.
Entretanto, apesar disso, Sam é um personagem que eu gosto. Tenho certeza que ele ainda tem algumas coisas a revelar e esclarecer, e em alguns momentos fiquei intrigada sobre sua posição. Mas, até o momento, ele ainda está nas graças por aqui. Toda essa questão problemática me parece muito mais relativa a Ana e sua personalidade do que a ele, mesmo estando sempre rondando.
Algo que não posso deixar de mencionar é a forma rasa como os personagens e os diálogos são construídos. Há muitos aqui e é tudo muito simples e previsível. Apesar de haver um certo mistério, não há camadas nesses âmbitos para serem desbravadas, é possível prever quais decisões Ana vai tomar, quais falas vai dizer, assim, quando fala e age tudo beira o básico. Não se restringindo a ela. Sam, apesar de misterioso, também se perde nos mesmos problemas.
Vale ressaltar o como fiquei incomodada com o tratamento dado a Ana, principalmente pela “mãe”. Os laços afetivos nessa história são muito mais de amizade ao longo dos séculos do que realmente laços de sangue. Afinal, as pessoas se repetem em suas almas. Quando Ana quebra isso, para Li sua filha é um mostro, algo terrível, e o fato do “pai” ter fugido à responsabilidade também não ajuda. Não há compreensão. É claro que entre aqueles que eram amigos de Ciana, a alma que teoricamente Ana substituiu, o ódio estaria presente, mas como ninguém entende o que aconteceu a posicionam como uma inimiga sem pestanejar, salvo raras exceções. Ao invés de acolhe-la, analisar, estudar e descobrir o que está acontecendo, a resposta aqui é quase exilar e manter-se o mais longe possível.
Tendo em mente que é uma narrativa simples e com romance, afinal temos um casal como protagonista e todos nós sabemos muito bem onde isso vai dar, tento focar no que mais me chamou a atenção desde o princípio, que era o mundo construído e as regras de funcionamento. Felizmente temos várias dicas e explicações sobre as coisas, algumas lendas e coisas do passado, além de compreender que mesmo em um mundo simples, temos alguns artefatos tecnológicos, mas também a constante ameaça das sílfides, dragões e outras criaturas. É um mix interessante.
Teremos algumas explicações aqui e também novas perguntas para dar continuidade a trama. Mesmo com as coisas que citei, fiquei interessada em ir em frente e descobrir o que mais vai acontecer como desdobramento das coisas que se apresentaram no final da história. E, claro, uma pergunta que permeia toda essa trama: o que vai acontecer quando Ana morrer? Ela voltará ou desaparecerá para sempre?
Almanova é uma fantasia simples, super fluida e de leitura rápida. A edição da editora Valentina está muito bonita, tanto no trabalho da edição quanto na bela capa. Mesmo não gostando de rostos, acho que essas acabam por combinar muito com a pegada da história. É um livro com romance, então pra quem curte young adults, esse estilo de narrativa e quer algo menos complexo pra ler, esse livro é uma boa pedida.
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