spoiler visualizarMarcos774 01/02/2024
Uma experiência kafkiana
Esse livro é uma agonia do começo ao fim. É denso, com diálogos que muitas vezes parecem monólogos, e as decorrências na história muitas vezes beiram ao ridículo. Contudo, é interessantíssimo ver como foi proposital do autor.
A princípio, a chegada desse livro nas mãos dos leitores já é de muita sorte, visto que Kafka, em leito de morte, havia mandado Max Brod - um fiel amigo - queimar diversos de seus textos, inclusive os escritos de O Castelo. Ainda assim, não pode-se dizer que não houve perdas, já que o livro acaba sem explicações, em um diálogo incompleto.
O Castelo é, assim, a experiência completa de uma situação kafkiana - sim, esse termo existe -, que designa a tentativa humana de justificar a sua própria existência, em uma busca incessante por significado. Mas e se essa busca por significado se desse justamente em mundo que não lhe pertence? É justamente o que ocorre com K., o protagonista alucinado do enredo.
De uma aldeia distante, K. chega em um vilarejo para ser contratado como um "agrimensor" - profissional que gerencia espaços geográficos -, mas, para sua surpresa, a sua chamada foi um engano, o "Castelo" não precisa de seus serviços e, principalmente, ele não é desejado lá. Para corrigir tal problema, K. precisaria contatar um conde, Klamm, que lhe é desconhecido e, ao que nos parece até o final da história, ninguém nunca realmente o viu ou sabe se existe.
O desenvolvimento da história é monótono, e mal distingue-se a situação inicial de K. com a sua "final", mas a sensação de desespero que Kafka queria transmitir foi feita com excelente sucesso - o aparelho burocrático e os personagens sem vida fazem parecer que aquele local é, na verdade, toda uma peça teatral sem sentido, que só serve para atormentar a vida do protagonista e a do leitor.
Se porventura Kafka tivesse justificado a obra apenas como um subproduto da imaginação de K., ou um sonho mesmo, eu facilmente aceitaria.