gleicepcouto 14/10/2012A possibilidade do recomeçohttp://murmuriospessoais.com/?p=4417
***
O Começo do Adeus (Novo Conceito) é o 19º livro da escritora norte-americana Anne Tyler. A autora, que já recebeu um prêmio Pulitzer em 1988, é membro da Academia Americana de Artes e Letras.
Nesse livro, conhecemos Aaron, um homem de 36 anos, que acabou de perder de modo trágico a esposa. Apesar de possuir uma deficiência no braço e perna direita, ele levava uma vida normal, ao lado de Dorothy, que era médica, e no seu trabalho como editor de uma editora independente da família.
Com a morte de sua amada, claro, que vem o luto e a dificuldade de reiniciar um novo momento em sua vida. Tudo fica mais estranho ainda quando Dorothy começa a aparecer para ele na rua, supermercado e outros lugares. Mas Aaron não se assusta com isso, ao contrário, quer vê-la sempre, conversar com ela, resolver certos assuntos pendentes. Mas até que ponto isso realmente está acontecendo? Não seria somente imaginação de Aaron?
Esse livro pega a sua atenção logo de cara. Como assim o protagonista consegue ver e papear com a sua esposa já falecida? Essa dúvida fica martelando em sua cabeça até o final do livro. Afinal, ele realmente a via? Ela era um fantasma, uma ilusão de sua mente?
Anne Tyler conduz muito bem esse suspense, mas não faz dele o ponto principal da história. Contraditoriamente, através da morte e da dor da perda, a autora busca falar de vida. E de modo bem simples e cotidiano, mas com toques muito (muito) sutis de fantasia.
O luto de Aaron é genuíno. Dolorido, mas sem afetação. Aliás, o protagonista é muito bem desenvolvido, muito real, com seus defeitos e qualidades. O que mais gostei porém é que, apesar de ter uma deficiência, em qualquer momento nós os vemos com limitações. Adorei o modo com a autora abordou esse detalhe de Aaron e o tratou realmente como detalhe, e não como fator principal de sua personalidade.
Os outros personagens também são interessantes, com destaque para sua irmã, Nandina. Uma irmã mais velha em todos os sentidos: um pouco invasiva, mas, no fundo, querendo apenas ajudar.
A narrativa de Anne é muito gostosinha, sem firulas. Sensível na medida certa. O livro não te arranca lágrimas, mas acho que esse não era o objetivo de Anne, e sim, apenas entreter o leitor, mas com uma história que o fizesse refletir por instantes.
O Começo do Adeus é aquele tipo de livro com uma história bacaninha, com uma mensagem bacaninha, personagens bacaninhas. Entenderam? Talvez o problema seja esse: ele não sai do bacaninha. Fiquei esperando por algo a mais, mas ele não veio...
Gostei da relação contraditória que a autora fez entre o trabalho de Aaron e a sua vida. Ele ajuda a publicar diversos guias para iniciantes pela editora da família, mas nenhum ensina como lidar com a dor da morte da companheira. Ele acaba por perceber a inutilidade de tais títulos.
E a grande verdade é essa: não aprendemos a viver ou a dizer adeus com qualquer tipo de livro ou manual. Apenas conseguimos isso no nosso dia a dia, encarando os desafios e medos. Em suma, vivendo.