Geci 11/04/2023
Felicidade Conjugal
Antes de tudo, preciso registrar que esse é meu primeiro contato com a escrita de Lev Tolstói. E acho que aconteceu no momento certo, de quando eu vinha de leituras pouco densas, com a mente descansada, pra conseguir absorver a beleza desse livro.
[ATENÇÃO: contém spoiler a partir daqui]
Felicidade Conjugal é um romance juvenil pequeno, de 128 páginas aproximadamente, mas que traz a imersão, o enredo e a profundidade de um livro de mais de 300 páginas. Foi publicada em 1859, e é muito curioso observar as camadas com tanta propriedade da história de um casamento em formação, sendo que foi escrito por um Tolstói ainda jovem e solteiro, bem como a escrita perspectiva feminina, já que o autor é homem.
Aqui acompanhamos a história de Mária (ou Macha – a grafia varia para cada edição), uma jovem de dezessete anos vivendo o luto da mãe ao lado de sua irmã mais nova Sônia, e sua governanta Kátia. Ao se ver órfã de pai e mãe, Mária começa a ter contato com um amigo antigo da família, Sierguei Mikhaylych, que é bem mais velho do que a protagonista, mas, que vem a se tornar o primeiro amor da jovem.
Apesar da pouca idade e da seriedade que um casamento apresenta, Mária é corajosa e convicta do que quer, e acaba conquistando a atenção de Sierguei, tomando muitas vezes a iniciativa em falas e ações. Vemos um casal em completa sintonia, o que, por muitas vezes durante a leitura, me fez esquecer a diferença de idade, pois ambos sem completavam de certa forma. A vida no campo parecia bastar para Mária, mas, ela começa a sentir a necessidade de estar na cidade, da casa da sogra, e ter uma vida a dois, só ela e seu marido.
Quando mudam do campo para a cidade, vemos um Mária diferente, como se a cidade tivesse “corrompido” a jovem, e esta desabrochasse tardiamente. Enquanto seu marido lida com questões de trabalho e deseja estar mais caseiro, Mária deseja viver na alta sociedade, em bailes e festas. Nem a maternidade lhe tira esse desejo, e, enquanto seu marido fica cada vez mais recluso devido ao falecimento de sua mãe, Mária se vê cada vez mais distante. Acompanhamos então o distanciamento do casal, onde vemos uma Mária deslumbrada, um Sierguei ciumento, e um relacionamento falido.
O final, em minha opinião, foi o desfecho ideal para esse enredo, e não consigo imaginá-lo de outra forma. Apesar de ser um romance, há uma certa crítica social quando Tolstói pinta a cidade como um lugar corruptível. Ao acompanhar o casal, também conseguimos perceber quando o ponto de ruptura começa a acontecer, e, de certa forma, isso nos faz refletir e trazer pro nosso cotidiano e nossos relacionamentos.
Nesse post dei uma pincelada muito rasa na obra, mas, certamente, este livro abriu meu horizonte e a vontade de ler mais títulos do autor.