spoiler visualizarAguiar 21/05/2024
Gosto da forma como o King consegue mostrar as facetas do ser humano. Ele mostra o pior lado, o quão horrível se pode ser mesmo em situações tão delicadas e catastróficas.
Sob a redoma, os moradores ficam isolados do mundo exterior. E com isso, uma sociedade a parte dos EUA toma forma. Alguns sentem liberdade por não haver como ser punido (ou por poder punir outras pessoas em seu lugar).
E como é esperado de cenários de calamidade como esse, é bem pior para as mulheres. Porque estão a mercê de como o homem pode se comportar numa situação dessas (ainda mais considerando o fato de que ele perde o medo da punição (mas sabemos que muitos tem confiança que a justiça não chegará até eles)). Há cenas repulsivas, que incomodam. Você fica desconfortável com tudo que está acontecendo e indignado por não haver nada que pare os abusos.
Como tem um recorte de várias pessoas da cidade, podemos ver vários tipos de reações e formas de lidar com tudo. Algumas pessoas, num processo de luto recorrem às drogas enquanto outra decide finalmente se ver livre delas. Uns se agarram a fé e outros percebem que não sabem pra quem estavam rezando a tanto tempo.
E o King não tem medo de cutucar o cristianismo e criticar as pessoas que usam a religião para manipular as massas. Usam a religião em benefício próprio e para ter poder distorcem tudo. E infelizmente, pessoas desesperadas por consolo e direção, perdem seu senso crítico e acreditam cegamente.
As vezes, lendo esse esse tipo de livro podemos pensar "que absurdo" mas cada coisinha dá pra correlacionar com a realidade. No meio de tudo aquilo que estava acontecendo, muitos apontaram que era punição divina. O mesmo estava sendo dito sobre o desastre que está aconteceu no Brasil recentemente. É revoltante pensar que durante um momento tão horrível, pessoas acharam certo dizer que o que aconteceu foi obra de Deus.
Enfim, gostei bastante da analogia das formigas. Tem toda uma reflexão sobre a maldade humana e a forma como consideramos certas vidas como inferiores e insignificantes. Aqui podemos ver como seria se seres de uma raça infinitamente superior nos tratasse como nos tratamos as formigas. Mas mesmo mostrando todas essas coisas horríveis, há uma certa esperança. Uma bondade que pode surgir de forma inesperada. Um gesto de gentileza e piedade que pode surpreender. E como Barbie disse:
"Piedade não era amor... mas, para uma criança, dar roupas a quem está nu só podia ser um passo na direção certa."