Lela Tiemi 01/01/2019Uma história linda e surpreendente"Sua família, seu lar eram construídos sobre um alicerce de palavras, dissera ele muitas vezes; a trama de sua árvore genealógica era feita de frases em vez de galhos. Camadas de pensamento expresso que impregnavam o solo dos jardins do castelo, de modo que poemas e peças teatrais, prosa e tratados políticos sempre iriam lhe sussurrar quando precisasse deles. Antepassados que ela jamais conheceria, que vieram e morreram antes de ela nascer, deixaram um legado de palavras, palavras, palavras, conversando umas com as outras, com ela, de fora de suas sepulturas, portanto ela nunca estava solitária, nunca sozinha." (p. 297)
Edith "Edie" Churchill - uma editora recém-divorciada - esta passando um típico feriado de Ação de Gracas com sua mãe, Meredith, ajudando-a na cozinha, quando uma carta perdida a meio século endereçada a sua mãe finalmente chega a seu destino. A carta lhe teria passado despercebido se não houvesse dois motivos que lhe chamassem a atenção: primeiro, não é comum receber correspondências em um feriado; e segundo, o fato de sua mãe parecer tão abalada com seu conteúdo.
Edie tenta entender o porquê de uma carta antiga abalar sua mãe, perguntando-lhe detalhes sobre ela, e a resposta que recebe é uma curta história sobre o passado. O que é o suficiente para arrefecer a curiosidade de Edia naquele momento, mas sem revelar totalmente os segredos, muito menos revelar o conteúdo daquela correspondência.
Em sua infância, Meredith fora uma das muitas crianças evacuadas que foram separadas de suas famílias e enviadas para o interior da Inglaterra para serem protegidas da II Guerra Mundial. Escolhida por Juniper Blythe - a mais nova das três irmãs Blythe, superprotegida, excêntrica e passional - para residir no Castelo Milderhurst - um lugar que tem “paredes antigas que entoam as horas distantes” -, lar do famoso escritor de "A verdadeira historia do Homem de Lama", Raymond Blythe. Tão apaixonada pelas palavras quanto os membros da família Blythe - as irmãs Juniper, Percy e Saffy e o pai Raymond -, Meredith encontra em Milderhurst um lugar em que se sente como se realmente pertencesse e a amizade que nasce entre ela e Juniper torna o laço de Meredith cada vez mais forte. Mas quando a guerra acaba, Meredith é obrigada a retornar para sua casa e a uma família que jamais compreendeu a paixão da garota pela leitura e escrita.
Fora a carta de Juniper que Meredith recebera naquele dia.
Algum tempo depois, em uma viagem a trabalho, Edie vai parar em uma cidadezinha onde se encontra o castelo Milderhurst - uma construção imponente, majestosa, mas a tanto tempo fechada e sem reformas que partes do castelo esta prestes a ruir, mesmo com os esforços da irmãs Blythe, especialmente a mais velha Persephone "Percy" Blythe em cuidar e manter o castelo, como seu pai lhe pediu antes de falecer. Edie não poderia deixar de fazer uma visita ao castelo onde vivia o seu autor favorito, e é quando então conhece as Blythe e o magnífico castelo Milderhurst em que vivem.
Decidida a não mencionar quem é sua mãe, Edie conhece as senhoras Blythe apenas como uma editora apaixonada pelo trabalho do pai delas. Contudo, Edie tem uma surpresa ao se deparar com Juniper que, segundo boatos teria enlouquecido por conta de um coração partido. Ela age como se o tempo tivesse parado naquele dia de 1941 em que foi abandonada pelo noivo. E quando Juniper vê Edie, a reconhece como Meredith e diz coisas que atiçam a curiosidade de Edie sobre o passado de sua mãe e o envolvimento dela com aquela família excêntrica.
Entretanto o relacionamento de Edie com a mãe, nunca foi o dos melhores. Elas não eram próximas a ponto de dividir segredos ou até mesmo histórias do passado; e as diversas tentativa que Edie faz para se aproximar de sua mãe para que ela lhe compartilhe sobre seu passado naquele lugar fascinante, só a faz se distanciar ainda mais. Porém Edie também tem seus segredos - como o divórcio - com qual não consegue compartilhar com a mãe.
E, as perguntas não querem calar: poderia mesmo alguém ter enlouquecido apenas por conta um coração partido, ou algo mais haveria naquela história? Teria o noivo de Juniper realmente a abandonado ou algo mais acontecera naquele dia? E, qual seria a participação de Meredith em toda a trágica historia que recaíra na família Blythe? Edie insiste em saber a resposta.
Sim, essas são apenas algumas das muitas perguntas que surgem durante a leitura deste romance incrível criado por Kate Morton. Uma história muito bem contada e entrelaçada, com romance, drama e suspense na medida certa; o castelo carrega muitos mistérios, há muitos segredos a serem desvendados nesta trama que em seu desfecho tem suas peças encaixadas perfeitamente.
A narrativa tem grande influência em todo o suspense da trama. De uma maneira genial, Morton consegue mudar a voz da narrativa sem deixar o leitor confuso, intercalando entre a primeira pessoa contada por Edie e em terceira pessoa sob o ponto de vista de diversos personagens que pertencem a trama. A autora é um tanto descritiva e minuciosa, o que às vezes pode incomodar alguns leitores, mas na minha opinião deixou história mais viva e emocionante.
Um livro muito bem escrito com uma história linda e surpreendente, eu fiquei encantada com a narrativa de Morton e, sem dúvida, pretendo me aventurar em outros livros lançados por ela.
Recomendo!
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