Lady Murphy 15/09/2012
Escrito em primeira pessoa, como sendo a voz da Loucura ao enumerar as benesses de se distanciar da razão e aproximar-se dela própria, de uma forma espontânea e ácida, Erasmo nos mostra que, onde a loucura se instala, instala-se também a alegria de viver, felicidade, os melhores delírios e emoções de nossas vidas. Que a sabedoria e a erudição tornam-nos pessoas amargas e ranzinzas, uma vez que caminhamos em direção à razão e esquecemos da vida. E quanto mais distantes estivermos da razão, tanto mais felizes seremos. Faz parte desse delírio acreditar, e apenas acreditar, que fazemos o bem, que somos importantes, que somos queridos. É um grande erro basearmos nosso contentamento na realidade. A narrativa mostra-se de início despretensiosa e inofensiva, de um jeito que torna a vida minimamente mais agradável como que para “calibrar” o leitor quanto à piada do livro. E quando vem a crítica, para quem ela realmente se destina – governantes, autoridades e até mesmo a própria Igreja- o leitor já esta situado quanto às intenções do autor. Satírico, Erasmo faz a vez do bobo Shakespeareano. Aquele que diz toda e qualquer verdade sob o pretexto de ser quem é: a personificação da sinceridade total, da verdade que tanto almejamos, a própria Loucura. E com uma mira certeira, ele aponta os erros e defeitos, e os atira sobre seus culpados. Nesse tom jocoso, denuncia males reais como a ingratidão, a hipocrisia e a intolerância, principalmente praticada por aqueles que se dizem, e que detêm títulos para tal, os homens justos, homens de deus. É dificil colocar uma interpretação precisa sobre o livro pois o leque de interpretações é extenso. Ou, nem isso, o leque de focos é extenso. Pode-se observar a Loucura como a mocinha, aquela que é responsável pela felicidade do homem, como também pode-se observá-la como a vilã, a responsável pela cegueira do mesmo. Ambas são verdadeiras. Há quem diga que é uma infelicidade ser enganado. Bem, maior infelicidade ainda é não ser.