Luana 06/02/2020
@O dia está lindo, ensolarado e tudo mais. É daqueles dias em que você acha que tudo vai dar certo etc. Não era o dia para isso, nem para nós, que saímos de 5 de outubro a 12 de novembro. Mas já é dezembro e o céu está claro, assim como tudo agora está claro para mim. Estou contando por que a gente acabou, Ed. Estou escrevendo, nesta carta, toda a verdade sobre o que aconteceu. E a verdade é que, porra, eu te amei demais.
@O Al só fez que não, provavelmente porque eu estava rindo, acho. Acho que eu estava rindo, a festa tinha acabado e aquelas tampinhas pegavam fogo no meu bolso. Pegue-as de volta, Ed. Aí estão. Pegue também o sorriso e a noite, pegue tudo de volta, era isso que eu queria que você fizesse.
@— Não — você disse, e me tocou, só no ombro, com certeza você não lembra, mas para mim foi de desmaiar.
@Suspirei e apontei o caminho. Eu te dei uma aventura, Ed, estava bem diante do seu nariz mas você não viu até eu ter que chamar a sua atenção, e foi por isso que a gente acabou.
@Parei de olhar para ela e olhei, meu Deus que lindo, para você. Eu te beijei. Ainda sinto a minha boca na sua, agora tenho um feeling do feeling que tive naquela hora, mesmo que não tenha mais.
@Foi isso que eu pensei, andando descuidada pela rua. Cinco de dezembro, foi isso que eu vi enquanto andávamos juntos em 5 de outubro, vamos, vamos juntos fazer algo extraordinário, e eu comecei a fazer planos, achando que íamos chegar lá.
@A noite depois de eu perder a virgindade, depois que você me deixou em casa e depois de várias horas vazias da tarde deitada na cama, cansada e inquieta, até que eu me sentei e fui lá fora ver o sol cair no horizonte — aí foram mais sete ou oito fósforos. E então a terceira noite foi aquela depois que a gente terminou, que valia um milhão de fósforos mas acabou sendo só o que sobrou. Naquela noite parecia que, ao acendê-los e jogar pelo telhado, os fósforos iam botar fogo em tudo, as centelhas das pontas das chamas queimando o mundo e todas as pessoas que existem nele de coração partido. Fumaça que eu queria por tudo, na fumaça eu queria você, embora num filme isso não fosse funcionar, efeitos demais, pomposo demais para como eu me sentia: tão diminuída e tão mal. Corte esse incêndio do filme, não importa quanto eu assista nos copiões. Mas eu quero assim mesmo, Ed, quero o que não tem como acontecer, e foi por isso que a gente acabou.
@Eu olhei para você, Ed, e, putz, você estava lindo naquele dia, você está fazendo com que eu me debulhe no caminhão agora, e todos os outros dias também. Fins de semana e dias de semana, quando você sabia que eu estava olhando e nem imaginava que eu estava viva. Mesmo com as estrelinhas em volta da cabeça você estava lindo.
@“Te vejo segunda!”, você gritou, como se tivesse acabado de descobrir os dias da semana. A gente achou que tinha tempo. Eu acenei mas não podia responder, porque finalmentetinha me permitido sorrir tanto quanto eu queria a tarde inteira, a noite inteira, cada segundo de cada minuto com você, Ed. Que merda, acho que eu já te amava. Condenada, como um taça de vinho sabendo que um dia vai cair, sapatos que logo vão ficar gastos, a blusa nova que logo você vai sujar.
@Primeiro encontro, o que eu ia fazer com o eu imbecil e essa emoção de “te vejo segunda”? Achando que havia tempo, bastante tempo para ver as fotos que a gente tinha feito? Mas a gente nunca revelou. Tudo mal revelado, a coisa toda, jogada numa caixa antes de a gente ter chance de saber o que tinha conseguido, e foi por isso que a gente acabou.
@Mas é por isso que já estava condenado, bem ali. A gente não podia ter só as noites de magia zumbindo pelos fios. A gente tinha que ter os dias, também, os belos e impacientes dias que estragavam tudo com os cronogramas inevitáveis, os horários obrigatórios que não se cruzavam, os amigos leais que não se gostavam, os absurdos imperdoáveis rasgados da parede independentemente das promessas feitas depois da meia-noite, e foi por isso que a gente acabou.
@Tome de volta, Ed. Tome tudo de volta.
@Lá fora o tempo tinha se aberto, repentino e mágico como um alvorecer vampiresco português com pássaros emplumados e harpias de trilha sonora. Não durou muito, não ficou aberto por muito tempo, e foi por isso que a gente acabou, mas quando fecho este livro para te entregar, não penso nisso, na gente segurando o livro nas mãos para comprar e levar, porque, porra, Ed, não foi por isso que a gente terminou. Eu amo, sinto falta, odeio ter que te devolver, essa coisa complicada, foi por isso que a gente ficou junto.
@Quem sabe é alguma semente, uma fruta, uma vagem, um unicórnio trotando pela grama onde a gente deitou juntos. Eu podia ter posto na água, podia ter cuidado dele e vai saber o que teria virado, o que podia ter acontecido com esta coisa do parque onde eu te amei, Ed, onde eu te amei tanto.
@Eu nunca te contei. Tem muita coisa, Ed, que eu nunca te contei.
@Mas elas estão aqui, Ed. Olhe para elas, fazendo peso e de pesar o coração quando abro a lata e as balanço nas mãos doídas de te escrever. Elas ficaram tão indeléveis, Ed, porque todo mundo desapareceu, então pode ficar com elas. Talvez, se for você que ficar com elas, seja eu que fique melhor.
@Como você vai encontrar de novo, bem o que você queria e na hora certa? Nunca, provavelmente. Agora está vazia e nada, não sei nem por que fiquei com ela, e não vou mais ficar. Foi por isso que a gente acabou, Ed, por uma coisinha pequena que sumiu ou quem sabe nunca tenha estado de verdade nas minhas mãos.
@— Não sei — você disse. Lindo naquele pôr do sol. Eu podia tocar em você, queria, não me aguentava. Quem era você, Ed? O que eu ia fazer com você?
@Eu soltei o corpo e aí, com os meus amigos, assumi o meu lugar. Então fique com o meu ingresso, Ed. Enquanto o mundo e a plateia estavam dando vivas para você, cocapitão, vencedor do estadual, eu ganhei os meus aplausos.
@Fechando a caixa com um empurrão, expirando como um caminhão que puxa o freio, largando-a na frente da sua casa com um gesto da Desperada. Logo vou estar me sentindo assim, a qualquer segundo, querida ou amada ou contente ou não sei que mais. Eu já vejo. Vejo e sorrio. Estou te dizendo, Ed, e agora estou dizendo para o Al, que é um feeling