O povo brasileiro

O povo brasileiro Darcy Ribeiro




Resenhas - O Povo Brasileiro


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Lista de Livros 03/06/2024

Lista de Livros: O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro
Antes dos trechos selecionados, um aviso: este é o MAIS IMPORTANTE livro de história de nosso país.
É absolutamente imprescindível para quem queira conhecer nossa trajetória, porque o Brasil é o que é.
Não consigo enfatizar em palavras o quanto sua leitura é recomendável.
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Parte I:

“Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
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Parte II:

“(...) Apresado aos quinze anos em sua terra, como se fosse uma caça apanhada numa armadilha, ele era arrastado pelo pombeiro – mercador africano de escravos – para a praia, onde seria resgatado em troca de tabaco, aguardente e bugigangas. Dali partiam em comboios, pescoço atado a pescoço com outros negros, numa corda puxada até o porto e o tumbeiro. Metido no navio, era deitado no meio de cem outros para ocupar, por meios e meio, o exíguo espaço do seu tamanho, mal comendo, mal cagando ali mesmo, no meio da fedentina mais hedionda. Escapando vivo à travessia, caía no outro mercado, no lado de cá, onde era examinado como um cavalo magro. Avaliado pelos dentes, pela grossura dos tornozelos e dos punhos, era arrematado. Outro comboio, agora de correntes, o levava à terra adentro, ao senhor das minas ou dos açúcares, para viver o destino que lhe havia prescrito a civilização: trabalhar dezoito horas por dia, todos os dias do ano. No domingo, podia cultivar uma rocinha, devorar faminto a parca e porca ração de bicho com que restaurava sua capacidade de trabalhar no dia seguinte até a exaustão.
Sem amor de ninguém, sem família, sem sexo que não fosse a masturbação, sem nenhuma identificação possível com ninguém – seu capataz podia ser um negro, seus companheiros de infortúnio, inimigos –, maltrapilho e sujo, feio e fedido, perebento e enfermo, sem qualquer gozo ou orgulho do corpo, vivia a sua rotina. Esta era sofrer todo o dia o castigo diário das chicotadas soltas, para trabalhar atento e tenso. Semanalmente vinha um castigo preventivo, pedagógico, para não pensar em fuga, e, quando chamava atenção, recaía sobre ele um castigo exemplar, na forma de mutilações de dedos, do furo de seios, de queimaduras com tição, de ter todos os dentes quebrados criteriosamente, ou dos açoites no pelourinho, sob trezentas chicotadas de uma vez, para matar, ou cinquenta chicotadas diárias, para sobreviver. Se fugia e era apanhado, podia ser marcado com ferro em brasa, tendo um tendão cortado, viver peado com uma bola de ferro, ser queimado vivo, em dias de agonia, na boca da fornalha ou, de uma vez só, jogado nela para arder como um graveto oleoso.
Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria.
A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. Ela, porém, provocando crescente indignação nos dará forças, amanhã, para conter os possessos e criar aqui uma sociedade solidária.”
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Parte III:

“É preciso viver num engenho, numa fazenda, num seringal, para sentir a profundidade da distância com que um patrão ou seu capataz trata os serviçais, no seu descaso pelo destino destes, como pessoas, sua insciência de que possam ter aspirações, seu desconhecimento de que estejam, eles também, investidos de uma dignidade humana.
A suscetibilidade patronal a qualquer gesto que possa ser tido como longinquamente desrespeitoso por parte de um empregado contrasta claramente com o tratamento boçal com que trata este. Exemplificativo disso é a diferença de critérios de um policial ou de um juiz quando se vê diante de ofensas ou danos feitos a um membro da classe senhorial ou a um popular.
Isso e mil síndromes mais – sobreviventes principalmente nas zonas rurais, mas também presentes nas cidades – indicam como foi profundo o processo de degradação do caráter do homem brasileiro da classe dominante. Ele está enfermo de desigualdade. Enquanto o escravo e o ex-escravo estão condenados à dignidade de lutadores pela liberdade, os senhores e seus descendentes estão condenados, ao contrário, ao opróbio de lutadores pela manutenção da desigualdade e da opressão.
A classe dominante bifurcou sua conduta em dois estilos contrapostos. Um, presidido pela mais viva cordialidade nas relações com seus pares; outro, remarcado pelo descaso no trato com os que lhe são socialmente inferiores. Assim é que na mesma pessoa se pode observar a representação de dois papéis, conforme encarne a etiqueta prescrita do anfitrião hospitaleiro, gentil e generoso diante de um visitante, ou o papel senhorial, em face de um subordinado. Ambos vividos com uma espontaneidade que só se explica pela conformação bipartida da personalidade.
A essa corrupção senhorial corresponde uma deterioração da dignidade pessoal das camadas mais humildes, condicionadas a um tratamento gritantemente assimétrico, predispostas a assumir atitudes de subserviência, compelidas a se deixarem explorar até a exaustão. São mais castas que classes, pela imutabilidade de sua condição social.”
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Edu 31/05/2024

Formação de Brasil
É uma viagem às nossas origens, uma verdadeira remontada histórica sobre a formação do Brasil e do seu povo.

Darcy Ribeiro, além de um exímio analista da luta de classes, soube apontar as identidades formadoras do brasileiro e suas transmutações.

Um ótimo livro para estudar nosso país, saber como chegamos até aqui e porque aa coisas são desta maneira, bem elucidativo.

Obrigado, Darcy!
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João Pedro 23/05/2024

Nova Roma
Um livro que versa sobre a história, origem e formação do povo brasileiro de forma jamais precedida. Darcy Ribeiro analisa profundamente as distintas formações étnicas e sociais ao longo do desenvolvimento histórico do país, abordando conceitos de extrema pertinência para a plena compreensão da vivência nacional antiga e seu impacto na atualidade. Somos, segundo ele, uma Nova Roma em terras sul-americanas; no entanto, mais jovem, mais diversa e mais alegre
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Duda 23/05/2024

Não é o tipo de livro que pego para ler por livre e espontânea vontade, foi uma leitura obrigatória da faculdade. Se não fosse isso, provavelmente nunca teria lido ele.

Assim, a escrita é bem maçante, o livro é grande e não importa se você passa uma hora lendo, parece que não leu nem 10 páginas porque ele passa muito tempo no mesmo assunto. É como se tivesse falando sempre da mesma coisa.

Entretanto, ele faz uma pesquisa bibliografia, para escrever o livro, insana. Coisa de pesquisar documentos pressos no Vaticano desde 1400 sabe. Da para perceber que essa é literalmente, igual ele mesmo fala, a obra que ele se dedicou durante toda a sua vida. Além do cara ser muito foda, Tipo, os lugares que ele estudou, onde trabalho, o que ele fez durante a vida... muito foda mesmo.

Além que os assuntos abordados no livro são basicamentes atemporais, nós estudamos isso no passado, ele viveu isso enquanto escrevia e, enquanto estamos lendo, também percebemos isso na nossa realidade.

Acho que foi uma experiência válida, e uma que eu provavelmente nunca teria se não fosse a faculdade, então gostei.
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Naslen.Olindo 01/05/2024

O povo brasileiro - Darcy Ribeiro
Leitura necessária para se entender melhor a formação e o sentido do Brasil.

Darcy Ribeiro traça cronologicamente de forma minuciosa a formação do Brasil e que sentido este vai tomando.
O autor desmistifica o mito da democracia racial tão bem incutido na sociedade brasileira. Escancara como vai se moldando e se reconfigurando as estruturas para manter distantes as classes sociais e a partir desse abismo sempre beneficiar uma classe, sobre outra.
Com muita paciência, no final do livro, retrata os diferentes Brasis que temos dentro do mesmo país. Para Darcy, o Brasil ser tão extenso e rico com culturas diversas, mas dividir a mesma língua e identidade é o que o faz ser tão único e fenomenal.

Darcy demonstra a potência que o nosso país tem de ser maior e melhor. A riqueza que temos, precisamos conhecer e decidir o que fazermos com essa consciência.
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Andressa 13/04/2024

Perfeito
O autor é brilhante, não só nesta obra como nas tantas outras que escreveu. Essencial para entender a formação do povo brasileiro, dados confiáveis, sem palavras. Viva Darcy Ribeiro!
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Yasmin 04/04/2024

INCRÍVEL
Livro maravilhoso. Tive que apresentar um seminário na universidade sobre Darcy Ribeiro e acabei ficando muito interessada nessa obra dele por isso decidi ler, é um livro que conta a história do Brasil da forma mais real possível, trás dados, e responde muitas questões que existem no Brasil até hoje, e aí trás o sentindo dessas respostas, muito válido pra qualquer ser humano aprender sobre questões raciais no nosso país, e entender realmente nossa história e como ela aconteceu em uma dimensão de opressão e aculturação muito forte, mas mesmo com isso trás a dimensão da resistência, mostra questões econômicas, sociais, psicológicas e como isso reflete até hoje em nossa história. Outro ponto maravilhoso do qual o livro vai abordar são as questões das diferentes raças das quais existe no Brasil, seu surgimento, e o surgimento do povo neobrasileiro. A leitura não é tão densa como eu imaginaria que fosse, mas são muitas informações então o ideal é ler devagar. Recomendo muito e vai se tornar fonte de pesquisa para mim a partir de hoje em diversos momentos.
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NIMSAY 29/03/2024

Tudo é culpa do capitalismo mesmo né
"O que desgarra e separa os brasileiros em componentes opostos é a estratificação de classes.''
"Nós, brasileiros,nesse quadro,somos um povo em ser, impedido de sê-lo.Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado.Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo."
Darcy Ribeiro nunca errou >>>>>
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Larissa.@estantedalari22 25/03/2024

Me siga no Instagram @estantedalari22 ??
??UM LIVRO QUE DEVERIA SER OBRIGATÓRIO PARA TODO BRASILEIRO!

? ?Nós brasileiros, nesse quadro, somos um povo sem ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo.?

"O POVO BRASILEIRO" de Darcy Ribeiro é uma obra que transcede o tempo e que traz um conteúdo rico em informações.

Aqui neste livro autor aborda de torma clara e fluída o tema de miscigenação, e mostra como se deu o processo de formação do povo brasileiro e toda sua cultura.

É uma obra maravilhosa que mostra a luta dos indígenas desde o início quando houve a chegada dos portugueses, e também mostra a luta dos escr4vos trazidos da África, mostrando assim o drama da nova identidade brasileira que se formava ao passar dos anos.

Em minha opinião é um livro que deveria ser OBRIGATÓRIO para todo brasileiro, pois aqui entendemos melhor nossas raízes e os processos que o país passou para chegar onde chegou.

Também não posso deixar de elogiar a forma como o autor se dedicou em suas pesquisas para escrever este livro, é sensacional as informações contidas aqui, e mesmo o livro sendo algo mais teórico ele não é de modo algum cansativo, é uma leitura envolvente e que nos faz mergulhar no passado de uma forma maravilhosa!

?O LIVRO ESTÁ DISPONÍVEL NO SITE DA EDITORA @globaleditora E TAMBÉM NA AMAZON!

?Eai gostou da resenha? Já conhecia esse livro ? Você gosta de ler sobre a história do Brasil?
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Nycolas 01/03/2024

É um livro incrível que com certeza vou revisitar pelas anotações e marcações durante meus anos na academia. Tenho algumas dúvidas e acho Darcy tem uma visão muito otimista do futuro, quando tange a unidade do Brasil. Além disso acho que se repete um pouco na última parte, o que deixa a leitura maçante, acredito que precise reler em algum momento.
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Dennisovych 29/02/2024

Incrível!
Essencial para qualquer estudo sobre o Brasil, isso aqui é quase uma bíblia. Esperei muito desse livro e ele conseguiu me entregar mais do que o que eu já esperava.
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Rudhi 15/02/2024

Leitura importante para entender o Brasil de hoje
O livro é uma excelente obra para refletirmos sobre o Brasil atual, buscando nossa origem como povo nas nossas diferentes regiões. Leitura densa, porém acessível.
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Renata.Orlando 31/01/2024

Riquíssimo
Esse livro é uma jóia no estudo da formação do brasileiro como povo, complementa se com As veias abertas da América Latina de Galeano e entrega uma dose absurda de conhecimento sobre nossa origem miscigenada.
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Lívia 27/01/2024

Recomendação
Meu professor de história que recomendou.
O livro fala sobre o povo brasileiro, contando como foi o desenvolvimento dessa população desde o início. De 1500, quando o Brasil era povoado apenas por indígenas, até os dias mais atuais (de acordo com a época que o autor viveu).
Um estudo muito interessante, por mais que eu tenha ficado com preguiça de ler depois de ler mais da metade, então demorei para terminar.
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Sábio 24/01/2024

Ode ao nosso espírito étnico.
Sim, somos mistura. Não, não somos uma democracia racial.
Que trabalho impressionante de preciosismo e esmero... Darcy nos apresenta toda uma historiografia focada na construção do espírito nacional, com todas as suas mazelas e cicatrizes, mas que com uma escrita sensível sobre temas tão espinhosos demonstra que esse país ainda pode dar certo. Explorando muito a questão das classes e da divisão internacional do trabalho, Darcy defende uma subversão do sistema atual baseado numa significativa mudança calcada em lutas de emancipação do jugo mercantil internacional, que nos mantém refém do estrangeiro desde a colonização e exploração no século XVI de nosso povo.
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