otxjunior 28/01/2014Ripley debaixo d'água, Patricia HighsmithTom Ripley é um dos meus personagens favoritos da literatura. Se não fosse seu pequeno problema psicopático, ele seria o anfitrião perfeito e amigo para todas as horas: educado, simpático, agradável, talentoso, dificilmente existe outro anti-herói que se compare ao charme de Ripley. No entanto, em Ripley debaixo d'água, demorei para reconhecer o mesmo protagonista de O Sol por Testemunha, sua primeira aventura. Agora casado, Ripley vive em uma cidadezinha francesa com a esposa e a governanta. Sua vida aparentemente pacata é dividida em viagens internacionais a lazer, reuniões informais com vizinhos, atividades de jardinagem e refeições requintadas, até que seu passado condenável ressurge na figura ameaçadora de seu novo vizinho americano.
Apesar da impressão que o material em mãos seria mais apropriado para um conto, é inegável o talento de Patricia Highsmith para compor personagens, que facilmente inspiram sentimentos como admiração, medo ou ódio: basta uma página para desprezar o inconveniente Pritchard. Além disso, a atmosfera criada é digna de um Hitchcock. Pode parecer que não está acontecendo nada (e por quase 300 páginas, não está mesmo!), mas o que é sugerido é suficiente para causar tensão. Ainda com um final bem-humorado e que respeita o histórico do personagem, Ripley debaixo d'água tem saldo positivo, principalmente por me levar a revisitar o talentoso Mr. Ripley.