Ângela Bittencourt Cardoso 01/01/2023
Primeiro do ano e primeiro dele
Quando a morte chega em casa.
Ela vem buscar alguém,
De quem precisa por certo;
Não se importa com ninguém
Que chore ou que se lastime,
Esteja distante ou perto,
Ela vem buscar alguém.
A morte não quer saber
Se é preto como urubu,
Se aquele que vai morrer
É branco qual uma garça,
Se tem pratas no baú,
A morte não quer saber.
Não lhe pergunta qual é
A sua religião,
Se Sancho, Pedro ou José
É o seu nome de batismo,
Nem a sua profissão
Não lhe pergunta qual é.
Não quer saber se ele tem
Uma candeia com luz,
Se pratica o mal ou o bem,
Se tem mais fé com o demônio
Do que mesmo com Jesus,
Não quer saber se ele tem.
Nem procura examinar
Se tem filhos ou mulher;
Se esse alguém vai-se casar,
Se tem pai e se tem mãe,
Nada disso a morte quer,
Nem procura examinar.
Para a morte não existe
Anéis de grau de doutor,
Nem homem alegre ou triste,
Nem mulher bonita ou feia,
Saúde, beleza e dor,
Para a morte não existe.
Para o pobre, para o rico
Nunca tem contemplação;
Como o corvo bate o bico
Por cima de um peixe podre,
Ela vem de supetão