spoiler visualizarCláudio 21/01/2021
Quando os Gatos dominavam
(...)
"Um dos preceptores, especialmente, ficou intrigado com o meu amor pelos gatos, e o afeto evidente dos gatos por mim. O preceptor sabia perfeitamente que eu tinha conversas telepáticas com os gatos. Um dia, depois das aulas, ele estava de muito bom humor, e me viu deitado no chão com quatro ou cinco dos nossos gatos do templo sentados em cima de mim. Ele riu-se da cena e pediu que o acompanhasse até ao quarto dele, o que fiz com alguma apreensão, pois naquele tempo uma convocação aos aposentos de um lama geralmente significava uma repreensão por alguma coisa que se tivesse feito ou deixado de fazer, ou um trabalho extra a ser feito. Portanto, eu o acompanhei a uma distância respeitável, e quando cheguei aos seus aposentos ele mandou que eu me sentasse enquanto dissertava sobre os gatos. ? Os gatos ? disse ? são hoje criaturas pequenas e não conseguem falar a língua humana, mas apenas por telepatia. Há muitos e muitos anos, antes desse determinado Ciclo de Existência, os gatos povoavam a Terra. Eram maiores, quase do tamanho dos nossos pôneis, e conversavam entre si, faziam coisas com suas patas dianteiras, que chamavam de mãos. Dedicavam-se à horticultura e eram geralmente gatos vegetarianos. Viviam entre as árvores e suas casas ficavam nas árvores grandes. Algumas das árvores eram muito diferentes das que hoje conhecemos na Terra, algumas, com efeito, tinham grandes cavidades, como cavernas, e era nessas cavidades ou cavernas que os gatos faziam suas casas. Estas eram quentes, protegidas pela entidade viva da árvore, e ao todo eram uma comunidade de muita afinidade. Mas não pode haver a perfeição em espécie alguma, a não ser que haja insatisfação para provocar o progresso, pois senão a criatura que tiver tal euforia degenera. Ele sorriu para os gatos que me haviam acompanhado e que estavam agora sentados em volta de mim e continuou: ? Foi isso o que aconteceu com os nossos irmãos e irmãs Gatos. Estavam felizes demais, contentes demais, não tinham nada que lhes atiçasse a ambição, nada que os levasse a maiores alturas. Não tinham pensamento algum, a não ser que estavam felizes. Eram como aquela pobre gente que vimos há pouco tempo, privada da razão, satisfazendo-se em apenas ficar deitada debaixo das árvores, deixando que as coisas se arrumassem sozinhas. Eram estáticos, e, sendo estáticos, foram um fracasso. De modo que os Jardineiros da Terra os arrancaram como se fossem mato e deixou-se que a Terra ficasse alqueivada poralgum tempo. E, com o tempo, a Terra atingiu um tal grau de maturidade que pôde novamente ser reabastecida de um tipo de entidade diferente. Mas os gatos . . . bom, o mal deles é que não haviam feito nada, nem de bom nem de mau. Tinham existido, só isso ? existido. De modo que foram enviados para cá novamente como criaturinhas como as que vemos aqui, foram enviados para aprender uma lição, com o conhecimento íntimo de que ELES tinham sido outrora a espécie dominante, de modo que ficaram reservados, tendo muito cuidado na escolha de seus amigos. Foram enviados para cumprir uma tarefa, a tarefa de vigiar os seres humanos, de modo que quando surgisse o Ciclo seguinte, haveria muitas informações fornecidas pelos gatos. Os gatos podem ir a qualquer parte, ver qualquer coisa, ouvir qualquer coisa, e, não podendo mentir, poderiam registrar tudo exatamente como acontecesse.
Sei que fiquei bastante assustado, por algum tempo! Fiquei imaginando o que os gatos estariam contando a meu respeito. Mas aí um gato velho, campeão de muitas lutas, ronronou e saltou para cima dos meus ombros, batendo a cabeça de encontro à minha, de modo que vi que estava tudo bem e que não iam falar muito mal de mim."
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