Diálogos V

Diálogos V Platão




Resenhas - Diálogos V


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caio.lobo. 31/07/2023

Platão é criador de mitos, bobo é quem procura a Atlântida.
Não há escapatória, o retorno a Platão é inevitável. Para quem é oriental há equivalentes de peso em suas filosofias, mas para nós ocidentais Platão é base perene que já tentaram fugir dele, mudar sua interpretação e até destruí-lo, mas de repente ele sempre volta com força total. Percebi isso lendo Timeu, que por um tempo suas visões físicas e biológicas foram levadas ao pé da letra, depois ridicularizadas pela ciência e hoje é admirada pelo modo de pensar e até verdades fundamentais da química e mecânica quântica nas entrelinhas. Isso é porque Platão não plantou, ou seja, nunca precisou trabalhar vulgarmente. Tendo tempo para o ócio criativo criou a formidável obra, depois de reflexões abstratas, observações do mundo e de diálogos com Sócrates.

O Banquete mereceu uma rápida observação, para observar tradução, pois a obra eu conheço de cabo a rabo. A tradução de Edson Bini é fluída, mas esse é um daqueles tradutores ditos ?suspeitos?, que traduzem de tudo, não muita informação na internet e que há algumas críticas na internet. Mênon (Da Virtude) há o diálogo de Mênon, um aristocrata, com Sócrates e este quer saber de Sócrates se a virtude pode ser ensinada ou não. Sócrates, com sua maiêutica, começa tudo ?ab ovo? (desde o ovo ou desde o início), não explicando se a virtude é inata, mas tentando entender o que é virtude, ou seja, retirando todos os significados pré-estabelecidos por Mênon e só então buscando significados a partir do zero, podendo ser esse um bom exemplo de ?epoché? husserliana. Isso é mais evidente quanto mais Mênon vai dando diferente significados à palavra virtude e Sócrates vai refutando uma a uma. Mênon é astuto, pois teve mestres sofistas, e começa a utilizar várias artimanhas discursivas contra Sócrates, que por sua vez as quebra com suas respostas, até que Mênon utiliza a ultima artimanha sofística sofisticada: o elogio a Sócrates. Sócrates, que não é bobo nem nada, recusa estes elogios e volta a quebrar cada uma das crenças de Mênon referente à virtude. Sócrates propõe então que o conhecimento não é algo que se aprende, mas que se recorda e conclui que o escravo não aprendeu nada de novo, mas apenas se lembrou do que já sabia.

Já em Timeu temos a obra mais empolgante das quatro deste livro. Esse diálogo é bem diferente do habitual, pois Sócrates fica bem quietinho neste e só escuta Timeu narrar uma história que Sólon ouviu no Egito e conta sobre uma ilha chamada Atlântida que existiu em tempos mais antigos ainda. Aqui se apresenta a filosofia vestida com roupas da sabedoria egípcia das religiões de mistério, onde o sacerdote acha graça da pretensa sabedoria grega, sendo que eles egípcios são muito mais antigos que os gregos. O egípcio faz a revelação de que a história é cíclica, e depois começa a contar a origem do mundo. Faz-se então uma distinção entre o mundo físico, que é mutável, perecível e objeto de opinião e sensação, e o mundo eterno, que é imutável, perfeito e objeto de razão e inteligência. Ele diz que o mundo físico foi criado por um demiurgo, que usou o mundo eterno como modelo (seria então o modelo eterno aquilo que poderíamos chamar de Deus Supremo, sendo que demiurgo também é modelo deste). Aqui há uma coisa pouco falada que é o que separa o mundo inteligível do mundo sensível é um espaço (chôra ou cora) que é um receptáculo. "Chôra" é uma espécie de matéria receptiva que permite a formação das formas e das entidades do mundo sensível. É o espaço em que as formas inteligíveis ou Ideias do mundo inteligível são impressas para dar origem às coisas físicas do mundo sensível. Fazendo uma comparação, isso se parece com o Abismo que Crowley fala que separa o mundo físico/psíquico do divino.

Continuando a epopeia de sua criação divina, agora seguindo a tradição da Arché dos pré-socráticos, Platão/Timeu explica a criação do mundo material, que tem como arché os 4 elementos (fogo, ar, água e terra). Mas estes elementos tem também uma arché, que são espécie de átomos em forma geométrica: Terra ? Cubo; Água ? Icosaedro; Ar ? Octaedro; Fogo ? Tetraedro. Mas cada elemento também tem uma característica qualitativa que dá características às coisas existentes, como frieza, mobilidade, esperteza, lentidão etc. há também um quinto elemento, que na verdade está por trás de tudo, que é o éter formado pelo átomo de dodecaedro. Temo algo fenomenal aqui, pois Platão juntou todas as archés de seus predecessores: a água de Tales, o fogo de Heráclito, os quatro elementos de Empédocles, aquilo que permeia tudo (éter) de Anaximandro (Ápeiron) e Anaxágoras (nous), o número de Pitágoras (através das figuras geométricas), o átomo de Demócrito e o Ser (através do mundo inteligível) de Parmênides. Essa concepção parece estranha no nosso mundo cientificista, mas impressionou alguns pela descrição de entidades microscópicas geométricas que formam a matéria, que lembram muito as moléculas geométricas da química. Após isso há a descrição da criação dos corpos, órgão por órgão ele explica, e são criados a partir destes átomos dos elementos. Aqui ele mostra que o ser humano não é apenas um ser material, mas também um ser simbólico, pois as características dos homens são de acordo com órgãos e partes do corpo. onde os que seguem a razão foram colocados na cabeça; os que seguem a coragem foram colocados no peito; e os que seguem o apetite foram colocados no abdômen. Perceba que Platão sabia que a sede da mente é a cabeça, ele até fala da medula que está no interior do crânio.

Já Crítias é a continuação de Timeu, e é o diálogo mais diferentão de Platão e aqui ele desenha sua mítica Atlântida. Sim, mítica, pois Platão é mestre em criar mitos desde a caverna, e bobo é quem fica procurando a Atlântida por aí. Se o mito fosse real perderia sua força, e se a Atlântida existisse o mito de Platão não teria sentido. Aqui Platão mostra seus dotes literários, pela boca de Crítias, e Sócrates continua só ouvindo. Ele cria uma geografia fantástica da Atlântida, uma geografia imaginária do ambiente natural, da sua geomorfologia (impossível de existir), da sua urbanização, da sua cultura e sociologia e da religião atlante. Quem criou Atlântida foi Poseidon, e agora há uma pista da razão do mito. Em Crítias se planeja contar a luta entre Atlântida e uma proto-Atenas continental. Sabe-se pela mitologia que pela mitologia que Atenas estava escolhendo um deus patrono para sua cidade e os dois candidatos foram justamente Poseidon e Atena. Poseidon ofereceu um manancial de água salgada e Atena a oliveira e logicamente ela vence. Mas há um fundo nesse mito, pois Atena é a deusa da sabedoria, das ciências, das artes e da justiça, enquanto Poseidon, além de deus dos mares, é também dos terremotos e da violência. A luta entre Atenas e Atlântida é um conflito de diferentes civilizações, da barbaridade contra a razão, da técnica contra a episteme. Por essa razão que Atlântida surge de uma paixão devastadora de Poseidon por uma mortal, uma nação nascida de um desejo erótico de um bruto poderoso. Atlântida surge magnífica, mas decai, e sendo uma potência do mar logo inicia as conquistas e invasões (semelhante ao Império Inglês). Pelos seus pecados os deuses se reuniram a mando de Zeus para decidirem o que fazer com Atlântida. Crítias é um diálogo incompleto, mas não precisamos pensar muito para saber o final, pois de Atlântida nada mais se sabe e Platão mora em Atenas.

Mas na verdade acho que Platão realmente acabou a obra e a termina causando uma tensão digna de magníficos escritores. O final é Zeus reunindo os deuses no centro do universo, o Olimpo, para dar a sentença de Atlântida e a última frase é:

"Zeus disse: ?"
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Nina 20/04/2023

Um livro de muitos mistérios para quem tem mente aberta
Platão, sempre lúcido e sábio, toca em temas muito misteriosos nesse livro.

Sobre a origem do cosmos, do homem, das doenças, da Grécia, dos Atlantes, da mulher...

São tantos temas e expostos, muito leveme em forma de diálogo, porque na verdade é mais uma exposição corrida de tal e tal personagem.

É um livro que vou ter que reler algumas vezes na vida, quando tiver crescido, para realmente poder assimilar tudo que tem nele.

Mas a princípio, minha síntese é: o mundo é muito maior e misterioso do que nós imaginamos e eu, Jamila, em 2023, sei muito pouco dele.

Há uma grande aventura pela frente.
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