Saleitura 16/06/2012
Ser mãe é padecer no paraíso ?
Ser mãe é padecer no paraíso, mas no caso de “Nunca diga Adeus” o paraíso esta longe de acontecer. Lena é uma médica e a mãe da história que vê o seu mundo desmoronar quando a sua única filha de nove anos, Sarah, é sequestrada por uma van que supostamente seria do acampamento Arno que a menina iria passar as férias. Por estar sozinha no momento em que tudo aconteceu, pois seu marido David, teve que sair mais cedo por conta de um compromisso justamente no dia em que Sarah ia viajar pela primeira vez sem a companhia dos pais, ela teve que se desdobrar em mil para organizar tudo o que a menina ia levar, além de acompanhar Sarah na hora que a van aparecesse para buscá-la. Com isso, acabou não percebendo nada de diferente na van, até porque, aparentemente, era tudo similar a van original e o rapaz que conduzia era um jovem, simpático e atencioso, que realmente parecia ser do acampamento.
Nada dizia que na verdade aquele mesmo homem seria alguém que pudesse sequestrar sua filha. Logo em seguida, com a vinda da van que era realmente do Arno, ela demorou, mas caiu em si de que Sarah havia sido levada por um desconhecido para algum lugar, sabe lá para onde e por qual motivo estaria fazendo isso. Se sentia culpada por não ter percebido e, o que também a surpreendeu, foi saber que logo após buscar a menina em casa, outras três crianças também haviam sido levadas pelo mesmo sujeito. Agora Sarah, Linda, Tommy e Franklin estavam com alguém que mal conheciam, mas sabiam de certa forma que seus sonhos de curtirem as duas semanas de férias se divertindo havia se tornado um pesadelo.
“O horror de saber que Sarah estava perdida – uma menininha solta num mundo imenso e desconhecido – fez Lena gelar. Não tinha onde se segurar. Afundava. Falava com o pai, olhava para o marido, mas se sentia completamente perdida” (página 36)
“Lena devia ter a idade de Sarah, cerca de 9 anos, e sorvia ávida cada palavra dita pela avó querida: - Preste atenção no que a Noonie fala: nunca use margarina, sempre prefira manteiga, entendeu? – Ou algo parecido. Vivia dando conselhos, criando regras. Sorria ao pegar a massa com as mãos enérgicas e moldá-la. – Este ano, se for ao aeroporto, não quero que me dê adeus como no ano passado. – Lena deve ter perguntado a razão, ou sua expressão se encarregou disso. – Porque eles não ensinam as coisas direito neste país. De onde eu venho a gente não acena para alguém que deseja ver novamente, alguém que vai voltar, como se estivesse espantando mosquito. De jeito nenhum. Preste atenção, Lena. Nunca dê adeus para uma pessoa querida. Entendeu?” (página 62)
Para conseguirem achar seus filhos, os pais das quatro crianças se reúnem afim de decidir o melhor a se fazer, porém também tem o pessoal da FBI que estão investigando todo o caso e muitas vezes acabam dando orientações que são mal vistas pelas famílias. Ao longo da leitura, vamos conhecendo os pais envolvidos, suas atividades e comportamentos diante desta situação. Todos possuem um caráter duvidoso e muitas vezes acabamos suspeitando de uns em determinados momentos e depois suspeitamos de outros.
“Que tipo de gente sequestra nossos filhos, acaba com qualquer expectativa, faz gato e sapato da gente, estimula a incerteza e aumenta a angústia com relação ao destino das crianças? Era o que se perguntavam ao sair de casa.” (página 54)
Mesmo não sendo mãe, consegui sentir as dores de Lena e viver o seu drama. Em cada página a dor dela aumentava, pois deve ser muito difícil não saber o paradeiro de um serzinho que você ama mais que tudo nessa vida, não saber se esta bem, se aconteceu algo, se vai voltar para casa, enfim, é de deixar qualquer um apavorado.
“Entrou no quarto da filha, torcendo para que Sarah real voltasse para ela ali, entre suas coisas, seus pôsteres e perfumes. Mas o cômodo não ajudava em nada. Tudo era superficial, uma extensão de seu perfil no Facebook sem a verdadeira essência da menina que Lena dera à luz” (página 206)
Além disso tudo, o fato de seu casamento estar passando por uma crise, também a atormentava. Ela queria o carinho de David, queria voltar a se apaixonar por ele, tanto que no início, a programação das férias de Sarah seria justamente para Lena tentar se acertar com o marido, mas como isso não aconteceu, a vontade de ficar longe dele só aumentava, não conseguia, nem com o sumiço da filha, se aproximar dele. David também não fazia muito esforço para amenizar o desgaste do relacionamento, seus pensamentos estavam focados em ter notícias da filha e preocupações com segredos que ele não revelava a Lena. Estavam unidos para achar Sarah, porém ao mesmo tempo distantes.
“À direita de Lena, David se sentara numa poltrona mais alta e, para ela, era como se ele estivesse a quilômetros de distância. Exceto pela atitude em relação aos Walker, não sabia o que ele estava pensando. Fazia muito tempo que ela deixara de saber o que se passava na cabeça do marido, que por sua vez, pouco se importava com o que ela pensava. Lena olhou para o relógio sobre a mesa. Eram quase quatro horas. Se Sarah não tivesse sido sequestrada, será que ela e David teriam iniciado o esforço para vencer a distância que os separava?” (página 51)
No local onde as crianças ficaram, pude analisar que cada uma possui determinado tipo de personalidade que vai engrandecendo a história, principalmente nos momentos decisivos. Sarah é a menina que nasceu para ser a líder, inteligente e independente, não deixando de lado seu jeito meigo de ser. Linda já é a menina mimada, medrosa e que chora por qualquer motivo. Tommy é um menino simpático e que também é um pouco chorão, não sendo tanto quanto Linda. Franklin é o estudioso, inteligente e detalhista. Particularmente, achei o máximo a união dessas quatro crianças tão distintas e convivendo juntas para enfrentarem os problemas que surgiam.
“Nunca fora o tipo de menina que corria para chamar os pais ao primeiro sinal de dificuldades. Só os procurava quando era absolutamente necessário, se chegasse a um ponto em que não sabia mais como agir. Agora, pensou, estava quase chegando a um beco sem saída. Onde estavam papai e mamãe?” (página 214)
Cada capítulo do livro mostra uma situação, ora eram os pais buscando notícias dos seus filhos, ora era sobre o sequestrador e ora era sobre o que estava acontecendo com as crianças. Por esse motivo, para nós leitores, sempre estávamos cientes de todos os momentos. Particularmente, adoro livros assim, que mostra sempre o lado de todos os personagens de uma história, mesmo sendo uma narrativa em terceira pessoa.
“Nunca diga Adeus” é uma história que te deixa apreensivo do início ao fim em saber quem esta por trás do sequestro das crianças e saber se elas vão se reencontrar com seus pais novamente. Esta é a primeira vez que leio um livro de Doug Magee e soube que o autor já havia escrito diversos livros infantis e de não ficção, mas que este era o seu primeiro suspense. Acredito que ele esta no caminho certo, pois adorei a história e o seu modo de escrever, Doug consegue desenrolar uma trama de forma sutil e arrebatadora!
Leitura e resenha feita por Vivian Pereira
http://www.skoob.com.br/estante/livro/16767079
Link Postagem Saleta de Leitura
http://saletadeleitura.blogspot.com.br/2012/06/resenha-do-livro-nunca-diga-adeus-doug.html