angel 24/01/2013
Febre Negra
Este é o primeiro livro da série Dark Fever de Karen Marie Moning. Como toda primeira obra, é um livro basicamente de introdução, o qual nos faz compreender um mundo que os seres humanos dividem, sem seu conhecimento, com outras espécies. Essa dinâmica nos trás excelentes mistérios, diversão e sentimentos de confusão conforme a protagonista vai sendo inserida nesse contexto. Moning é uma escritora excelente, pois apresenta uma escrita divertida e inteligente, faz o leitor sentir as emoções que a protagonista sente, por isso o sentimento de confusão supracitado.
Mac é uma protagonista que podemos classificá-la ingênua, porém não burra. Pode-se dizer ingênua em relação à experiência de vida, já que esta vem de uma cidade pequena e sempre morou com os pais e a irmã. Entretanto, Mac é uma das poucas protagonistas que considero autônoma e emancipada, mesmo diante de um mundo totalmente novo, precisando lidar com fatores que precisa encarar sozinha, sem poder contar aos pais e amigos as circunstâncias nas quais se encontra, Mac por meio de pesquisa e vencendo seus medos, busca alcançar seu objetivo.
O livro inicialmente aborda o luto vivenciado por uma família que tem a morte da filha mais velha de forma brutal, demonstrando por meio da protagonista como é a elaboração desse sentimento. Após se deparar com a perda trágica de Alina, sua irmã, Mac na tentativa de buscar justiça, viaja para Dublin e se encontra em um mundo totalmente novo, o qual precisa contar com pessoas e espécies que não permitem ela se sentir segura. Indivíduos que demonstram interesse por ela de forma positiva ou negativa, mas que em momento algum a fazem sentir-se pertencente.
Na tentativa de alcançar seu objetivo, que é saber quem matou sua irmã, a protagonista se vê parte de uma trama, que sozinha ela não conseguiria sobreviver. Diante de tantas variáveis, precisa contar com a ajuda de um homem moreno, alto e lindo, porém muito misterioso e que demonstra e deixa claro, ter interesse na vida dela, para alcançar um objetivo pessoal, dele.
Barrons, um badboy aparentemente, mas que me conquistou totalmente, o tipo de homem que fala pouco, demonstra de forma muito rara suas emoções, mas que está sempre presente nos momentos em que a nossa protagonista mais precisa, como não se apaixonar? A interação deles é bem interessante e divertida, Barrons em momento algum demonstra sentimentos verbalizados relacionados a Mac de forma romântica, mas a atração que um sente pelo outro é bem presente, além do nosso homem deixar evidente a importância dela na vida dele por meio de atitudes, o que ela interpreta como interesse pessoal por parte dele. Pra ajudar, Barrons tem uma livraria a qual Mac se apaixona à primeira vista, o que faz com que nós leitores venhamos a amar esses protagonistas de forma espontânea, já que temos essa característica em comum.
“A propósito, eu amo livros, muito mais do que filmes. Filmes lhe dizem o que você deve pensar. Um bom livro deixa você escolher alguns de seus pensamentos. Filmes lhe mostram a casa rosa. Um bom livro lhe conta que há uma casa rosa e permite que você dê alguns toques finais, ou até mesmo escolha o estilo do telhado, estacione seu próprio carro em frente. Minha imaginação sempre foi muito além do que um filme pudesse sugerir. Um exemplo típico são aqueles malditos filmes do Harry Potter. Aquela gatinha Veela, Fleur Delacour, era assim, e não como o filme mostrava”.
Mesmo com o interesse literário e o mesmo caminho a trilhar para alcançar o mesmo “prêmio”, Barrons e Mac se veem trabalhando juntos, mas com uma confiança muito fragilizada por contingências do dia a dia e segredos que um mantém do outro, por receio de revelar demais e ser deixado de lado. Em todo esse contexto, ainda temos um terceiro importante personagem, V’lane, esse sim, já chega chegando na vida de Mac, demonstrando interesse por ela e pelo que esta representa.
V’lane, particularmente ele não me conquistou. Há uma parte do livro que fico muito chateada com a situação em que ele faz a Mac passar. Sei que por ele ser um FAE que é movido pelo sexo, muitas pessoas acabam se empolgando, mas infelizmente comigo ele deixou uma impressão muito ruim, devido a esse comportamento dele.
Mesmo com esses dois homens de uma forma ou de outra, para seus próprios benefícios, ajudando, Mac ainda não sente firmeza e segurança em qual deles depositar suas descobertas e seus segredos. Barrons, mesmo se relacionando com ela quase que diariamente, não permite que ela crie imagens de uma pessoa que ele não é, no entanto, nos momentos em que ela mais se encontra temerosa, pelas situações em que vai se colocando, é ele quem dá as palavras de que precisa, para seguir em frente.
“... esperança ou medo. A esperança fortalece, o medo mata”.
No meio de toda essa trama, adorei que a autora mostra bem as crenças e valores da protagonista. A forma funcional que era a família de Mac, e como a morte de um ente querido pode desestruturar qualquer dinâmica no sistema familiar.
Moning também resgata uma breve explicação sobre gerações passadas, discorrendo o valor do trabalho para elas, que estas trabalhavam muito para obterem suas recompensas; e sobre as atuais, a geração de direito, nos quais os pais trabalham como escravos para prover aos filhos tudo que acreditam serem merecedores, pelo simples fato de terem nascido. Em poucas palavras a autora fez uma excelente explanação da realidade da nossa sociedade, no sentido, dos pais precisarem se ausentar para dar conta dessa demanda, enquanto os filhos são condenados a uma vida de fracasso, pela ausência dos pais no seu desenvolvimento.
A autora também trás um breve relato de como uma mulher deve se comportar para que o homem sinta que a conquista foi difícil e preserve isso quando conseguir o que quer, trazendo os pais da protagonista como um casal que mantém “as chamas acesas” mesmo após 30 anos de convívio. Esse tipo de discussão e resgate em uma época onde já não se considera tais valores é uma ótima oportunidade de reflexão.
Outro ponto importante é sobre a identidade de uma pessoa. Conforme supracitado, Mac inicia sua jornada em Dublin com o intuito de encontrar o assassino de sua irmã e querer que a justiça seja feita, entretanto, essa demanda é só o ponta pé inicial, pois questões sobre quem ela realmente é, e o papel importante que ela tem que desempenhar para a salvação da humanidade é crucial no desenvolvimento desta série.
Adorei o desenvolvimento desta primeira obra, mesmo sendo mais lenta pela necessidade de explicar o processo de inserção da protagonista nesse mundo místico e os conflitos que esta precisa lidar com uma realidade de mundos que jamais imaginou ser possível em sua existência. Vamos para Febre de Sangue, que é o segundo volume da série com muito entusiasmo, afim de entrar e entender melhor o mundo em que a Mac está entrando.