Oliveira 02/01/2014
Blog | Literatura: Um Mundo Para Poucos - Laryssa
"Presas - A Dádiva da Escuridão", do autor parceiro Marco Moraes, acabou por ser tanto uma surpresa intrigante, quanto uma incógnita indelicada. Para que possa melhor explicar a contraversão dessa afirmação, que tal conversarmos um pouco e seguirmos a sequência das impressões?
Inicialmente, o que me chamou a atenção no livro foi sua capa, a qual passou-me a impressão de guardar uma história sombria e fora dos clichês, o que foi reforçado quando então li a sinopse, que além de já adiantar a maneira como a história seria narrada, trás a premissa da falta de memória.
Lembro-me de ter comentado que dos livros cuja personagem principal tem amnésia que li poucos conseguiram me conquistar e o melhor foi "Memórias da Lua Cheia". Porque o menciono aqui: um dos meios que a autora usou para manter um enredo coerente foi o sentimento e isso é nulo em "Presas", sendo o instinto e nuances de coincidências as grandes cartas de Marco de Moraes. Isso tornou o livro ruim? Digamos que apenas diferente. Ao utilizar de mistério e impor uma "jornada" ao enredo, proporcionou algo ao mesmo tempo clichê e original, mistura perigosa que foi muito bem administrada por ele, sendo que a personagem principal, um desmemoriado impulsivo e especulador que no decorrer dos acontecimentos passa a se chamar Irwin, é fascinante, devido à inexistência curiosa e injustificada de suas lembranças e a sua mente - aparentemente - perturbadora...
"Onde me sentiria mais seguro: na escuridão do mundo no mal enxergo ou na escuridão da minha alma?"
... e por mais estranho que possa parecer, logo no prólogo, já cativa com seus ditos de sabedoria que ao longo do livro, sabemos ser justificados por todos os desastres que passou, dando-nos ainda algumas conclusões e coisas sobre as quais refletir.
"Abandonando medos, paguei com desgraças inevitáveis; eram escolhas. Fui errante que, por vezes decidido, por vezes acanhado, seguia convencido de ser um repudiado por, no doloroso decorrer do tempo, sofrer por caça dos filhos da noite.
Naquelas noites sem-fim, descobri o quão árduo é enfrentar medos em plena escuridão.”.
Esses são meros e pequenos exemplos da narrativa do autor, que é extremamente poética (ele é um poeta) e bela. Admito vocês que em parte, as longas descrições ou os devaneios mal colocados atrapalharam um pouco a leitora em algumas situações, mas em outros, enriqueceram ainda mais os momentos decisivos do livro. Ela é cansativa sim, tanto é que comecei a ler "Presas" em setembro (bem mais tarde do que devia) e fui levando aos poucos, para não saturar-me. Acabou que eu certo, pois nas páginas que li em um período curto, reclamei de tédio; nas tantas outras que através dos capítulos pausadamente li, pude não só apreciar a história, mas também chamar as palavras do autor de sublimes e analisar de forma mais justa a história.
Porque digo isso? É de forma pesarosa que informo o seguinte fato: minha nota é uma média entre o eu achei do livro no gosto pessoal e o que eu vejo em comparação a diversas obras e feitos padrão, como sendo digno do livro.
O enredo, graças a narrativa e a mente em branco do protagonista, tem um ar de despropósito, semelhante ao de sua jornada. Antes comentei que ele é movido a impressões, essas que o levaram a não permanecer por muito tempo em um mesmo lugar e conhecer tantas outras pessoas, também com ar estranho. O grande pecado demostrando logo no início foi à incoerência da situação do personagem e a direção para onde ele ia, carecendo então, no decorrer da história, de momentos em que tudo realmente fazia sentido. Não estou conseguindo me expressar de maneira coerente quanto a isso, mas entendam-me: mesmo agora, que acabei o livro, ainda há coisas que pareceram desnecessárias e outras que me surpreenderam por expor pistas do segredo final do livro.
As personagens desta inicialmente confusa história mostraram-se sem grande desenvolvimento no decorrer dela, porém sim com viradas abruptas, fora, é claro, Irwin, que aos poucos foi expondo sua personalidade incomum. Creio que esse, junto das surpresas que o desfecho do livro trazem, fizeram a história ser boa.
No início desta dita resenha, me expressei dizendo que o livro foi uma surpresa instigante e uma incógnita indelicada. Foi aquilo, pois, em meados de setenta por cento do livro, tomou uma linha de raciocínio coerente e passei a entender melhor não só os objetivos mais fracos de Irwin (que a mim pareceu obsessivo com algo nítido, mas apenas para o que eu particularmente considero normal a alguém desmemoriado), mas também ver as possíveis reviravoltas que o autor podia da e isto porque a leitura não foi como muitos disseram ininterrupta, mas a partir do ponto que acima comentei, foi impossível largar o livro. Admito que não esperava mais, naquele ponto, que algo fizesse realmente sentido e não tivesse apoio no invisível ou no mítico, porém o autor decidiu por vistos familiares e as obscuridades humanas para criar o parcial desfecho do segredo do livro. As lacunas e tantas perguntas sem respostas lembraram de algo escrito pelo Marco na mensagem em meu livro: "(...) serve de introdução a uma saga." Com a incomoda história que ele monta e com o final, liguei-me a essa afirmação e pus-me a tentar compreender melhor o que ele poderia criar.
Como considerações finais, que não sei ao certo porque, não encontraram lugar nesse extenso texto, digo a vocês que ele não estipulou um tempo para esse mundo e o cunho sobrenatural da história não é um elemento principal e sim um acréscimo, que enriquece o enredo e ajuda a complementar a ideia de guerreiros, bruxas e todas as outras lendas, apenas centralizando na dos vampiros, ou ao menos, assim me pareceu.
No fim, indico o livro aqueles que gostam de narrativas poéticas e não se incomodam com as inconstâncias que elas podem gerar e aos amantes de suspense e mistério, pois em "Presas", esse é o ponto mais incrível e que mais se fez presente.
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