Anna Laitano 22/01/2015Uma declaração de amor ao BrasilBela capa, título e sinopse interessantes. Atiçou minha curiosidade. Porém, confesso, não sabia bem sobre o que era a história. Portanto, conforme fui lendo e descobrindo, o encantamento foi ainda maior.
A última Princesa salvou seu reino, mas, como resultado, acabou expulsa para longe e esquecida. Agora, morando em terras longínquas, seu único contato com o reino é através de Alberto, um excêntrico inventor. Fora o amigo, a princesa vive completamente isolada em seu palácio com seu marido e as camélias que cultiva.
Contudo, um dia seu amigo lhe apresenta um projeto de uma invenção que poderá levá-la de volta ao seu reino. Assim, ela começa a ansiar por isso, tentando ajudar o amigo para que ambos possam realizar seus maiores sonhos.
A narrativa intercala dois tempos: em um, temos a Princesa já exilada em terras distantes; em outro, ela relembra os acontecimentos de sua vida, desde sua infância no palácio, a descoberta sobre a escravidão, e sua vontade de ajudar seu povo.
Yabu tem uma escrita agradável, que consegue evocar imagens e sensações sem precisar recorrer a metáforas complexas – e, nas raras vezes em que faz uso de metáforas, essas são empregadas de forma inteligente e quase poética. Aliás, o brilho de sua obra está justamente na facilidade e acessibilidade do vocabulário que, ainda assim, cria uma história linda e emocionante, misturando ficção e fatos, magia e realidade.
A Princesa — sempre referida assim, uma vez que o único personagem a realmente receber um nome próprio é Alberto — é uma personagem doce, passiva e triste. Ela tenta se contentar com os seus dias solitários e vazios, cuidando de suas tão amadas camélias, enquanto é corroída pelo amor e a saudade de sua terra natal. Seu passado é revelado pouco a pouco, conforme os flashbacks são intercalados com a história atual, e descobrimos que sua história é permeada também por sofrimentos. Seu momento mais emocionante, sem dúvida, é na cena final.
Alberto, o inventor, tem a cabeça nas nuvens, mas seu coração é no lugar. Ele é bondoso e leal, além de ser um gênio. Sua amizade e devoção a sua princesa são intensos e nem o tempo nem a distância podem mudar.
Adicionar uma dose de ficção e romantizar uma história real é tão genial quanto é arriscado. Felizmente, aqui tivemos um resultado positivo, que se revela mais do que uma mera agradável história fictícia, um trabalho de pesquisa primoroso, capaz de despertar o interesse pela História do Brasil e o amor pela literatura.
Também, agrada bastante o fato de o autor ter ido ainda mais afundo do que apenas fazer a pesquisa para si, mas expor alguns dos fatos para refrescar ou explicar o embasamento da história, no fim do livro, com fotos e comentários.
Este é o tipo de livro que faz falta entre os nacionais contemporâneos: aquele que faz um relato de uma época, de uma sociedade, e encanta em iguais proporções.
É verdade, porém, que por vezes a mistura de realidade e ficção beira o inacreditável e parece forçado, como é o caso da aranha de estimação de Alberto. Mas a história como um todo acaba por compensar isso.
Uma edição de texto simples e livre de erros, o livro ainda conta com alguns desenhos (delicados e lindos) em seu decorrer e fotos no final.
A capa, além de belíssima, também se encaixa perfeitamente com a história. O detalhe da lágrima dá o tom perfeito para o tipo de emoção que o livro retratará.
Por ter sido meu primeiro contato com o autor, estou bastante empolgada para conhecer mais de seu trabalho. Por ora, posso apenas afirmar que este livro deveria ser leitura obrigatória nas aulas de História do país. Rápido e tocante, com certeza vale a leitura.
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