Decamerão

Decamerão Boccaccio




Resenhas - Decamerão


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Nati Morgan 06/12/2021

Ufa.
Achei que nunca iria acabar este livro.
Algumas novelas são realmente bem engraçadas, mas outras são de péssimo bom gosto. Se for pra parar pra pensar na época em que foi escrito, dá pra relevar, mas?. O livro é bem ok.
Rafael 31/12/2021minha estante
Li uma edição da finada Cosac Naify que reunia uns dez contos. Muito bem ilustrada. Achei os contos muito engraçados e avançados para a época. Mas imagino que nessa nova edição, mais completa, não dê para manter o mesmo nivel em todos os contos. Ainda assim estou curioso para ler toda a obra.


J.v 11/04/2022minha estante
E de fato nem dá.

Tem novelas que de fato são engraçadíssimas e bem construídas, mas, existem outras novelas que o autor deixa muito a desejar, só pelo fato de se pautarem a uma crítica a igreja e ao padrão de vida da época (sim, se você for no meu perfil, vai ver que sou cristão) mas, é que a história tem um fim quase chato, realmente, todas as jornadas tem alguma história que firma na memória, mas, apenas uma ou duas, depois fica chato, cansativo e até mesmo entediante.




bella 28/12/2021

?As palavras, quando recebidas através dos ouvidos do coração, possuem força muito maior do que muitos supõem; aos que se amam, quase todas as coisas se tornam possíveis?

(O Decamerão ? Giovanni Boccaccio)

As novelas de Boccaccio tem como principais marcas as aventuras amorosas ou trágicas, o escárnio, a ironia, as críticas jocosas, as burlas bem e malsucedidas e as engenhosidades empreendidas pelos enamorados e adúlteros a fim de estar e ter com seus amantes, enganando e passando para trás seus cônjuges e muitas vezes logrando êxito em alcançar suas pretensões, saindo impunemente de tais situações, mesmo quando descobertos, e, por vezes, até mesmo fazendo com que a situação ficasse a seu favor.
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Helio 15/11/2022

O Decamerão
Interessante viagem à idade média, onde, várias novelas são narradas. Interessante como questões de honra, amor, família são tratados há muito tempo, da mesma maneira, que muitas vezes tratamos nos dias de hoje. Some-se a tudo isso, a nota de conclusão do autor, que mostra-se de uma atualidade incrível. Trata-se de uma obra, conforme relata o próprio autor, para ser lida sem pressa, com atenção e entendimento da época em que as narrativas aconteceram, embora, em minha opinião, continuam bem atuais.
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Gláucia 21/09/2010

Cansativo ao extremo
Até as primeiras 200 páginas, o livro merecia nota 3. Dez jovens se encontram para contar histórias durante o "reinado" de cada um, dando um total de cem. Em geral, o tema é amor, sexo, adultério, engodos, etc, e algumas são bem divertidas, mas acabam se tornando repetitivas. E tem histórias tão absurdas, mal dá para acreditar, principalmente a centésima, que, se tivesse sido a primeira eu teria abandonado a leitura.
Em resumo, leia apenas quando não tiver nadica de nada para ler.
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jessicalimao 21/08/2021

Esse livro é da idade média, entendam
Não tinha planos de escrever uma resenha, pois faz tempo que li este livro, mas vi uns comentários criticando a escrita deste livro que fiquei tipo ??????
Claro, não é fácil ler este livro, são dez contos narrados por dez personagens, sobre DEZ temas diferentes, livrei um ano para ler mais ou menos, e sim, me cansei bastante.
Uma coisa que a gente tem que pensar antes de ler um livro clássico é a época em que foi escrito. O Decamerão foi escrito entre 1348 e 1353. É claro que será difícil de ler, não tem apenas put@ria neste livro, amigos.
Mas isso não diminui a qualidade do livro, terminei contente, rindo de algumas coisas kkkk
Helio 12/10/2022minha estante
Seu comentário a respeito do livro é perfeito. Comecei a ler os comentários e em alguns, percebe-se que não há a devida consideração da época em que foi escrito.




Sue 01/09/2022

Viva a não hipocrisia... de 1350
É um livro reunião de novelas publicadas logo após a peste negra. Eram outros tempos... lendo o livro noto que talvez não houvesse tempo de vida para a hipocrisias. Senão me engano é nesse tempo que se inicia o realismo. Por tanta coisa o ser humano havia passado, que se afastar do bucólico e fincar os pés no chão foi uma questão de sobrevivência. Acredito que por isso os contos são tão crus. Li falarem dos desejos femininos como nenhum livro mais culto, ao mesmo tempo que mulher de valor respeitava o marido, obedecia sem questionar... não deixa de serem publicações dos idos de 1350, outros tempos, se for não ler, não se esqueça disso para não se ofender. Tentar ver com nossa moral de hoje os costumes de outra época e ofender a evolução civilizatória humana conquistada com tanto suor, sangue e esforço pelas gerações seguintes. Fala muito também de fé em Deus, de generosidade, tem novelas cômicas, de Reis e pessoas muito ricas. Belíssimo registro desse época, não a toa é tão aclamado.
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Khaolinha 30/07/2022

Ainda bem que o séc. 14 ficou para atrás (pelo menos em parte)
Necrofilia, estupro, agressão física e vários outros tipos de violência absolutamente normalizados aqui.

Me senti CHOCADA-SURPRESA-PERTURBADA-ENOJADA-INDIGNADA-COM ASCO- COM RAIVA-VULNERÁVEL- PERPLEXA... com esse livro.

Não tinha expectativa alguma para este livro, acabei gostando muito, mas vale frisar que não é para a turma canceladora, a sociedade do SÉC 14 apresenta uma série de questões problemáticas.
Como não sou do time que acha que se deve cancelar a história consigo ficar de boa com o livro, mas acho que muita coisa que tem aqui não deve mais ser aceita na literatura atual, por isso repudio Julia Quinn e aprecio Boccaccio.
Coisa que eu realmente não esperava era encontrar novelas que me lembrasse obras contemporâneas e aconteceu com 2 autores: a Julia Quinn, com livros muito problemáticos pros dias atuais e o Ariano Suassuna, foi um prazer encontrar situações tão absolutamente semelhantes entre as obras sabendo que o brasileiro não tinha conhecimento, portanto não se inspirou no italiano.
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Eric Silva - Blog Conhecer Tudo 07/02/2021

Por Eric Silva para a 4ª Campanha Anual de Literatura do Conhecer Tudo
10 de janeiro de 2021, Ano da Itália

Cercados pela desolação provocada pela peste bubônica (negra) que matara grande parte da população florentina e dizimara um terço da população europeia , dez jovens de classes abastadas afastam-se da cidade e por quinze dias se dedicam ao lazer e à narração de cem pequenas histórias contadas ao longo de dez jornadas (dias). Livro que influenciou grandes nomes das artes a exemplo de Vivaldi e Molière, O Decamerão não é apenas uma obra que marca a fundação da narrativa moderna , como um testemunho escrito com humor e muita ironia e que documenta uma época na história da Europa e um retrato cultural, cotidiano e social de uma sociedade que migrava do feudalismo em direção a consolidação da burguesia.

Confira a resenha completa do primeiro livro da IV Campanha Anual de Literatura do Conhecer Tudo que no ano de 2021 homenageia a literatura italiana.


site: https://conhecertudoemais.blogspot.com/2021/01/opiniao-o-decamerao-em-tempos-de.html
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Felipe 17/05/2012

Boccaccio é o pai espiritual de todos os prosadores do Ocidente. Arquitetou o primeiro e mais completo compêndio da perversidade – ou deveria dizer da glória? – humana. O Decameron não é apenas um conjunto de cem novelas dispersas. É e não é só isso. É, talvez, o primeiro grande romance europeu, pois Boccaccio usou de uma inteligentíssima engenharia para construir sua obra. Em vez de encontrarmos uma coleção dispersa de anedotas, temos, pelo contrário, a mais rigorosa organização: personagens que acompanham o livro do começo ao fim e uma trama coerente sobre o porquê deles estarem ali, reunidos, a contar histórias.

Diferentemente de seus conterrâneos e contemporâneos, como Dante e Petrarca, Boccaccio não constrói transcendências, pelo contrário, a sua meta é o mundo de cá, o mundo dos vivos e pulsantes seres humanos. O amor em Boccaccio é carne, é sangue, é arrepio. A sua lógica é a lógica mundana, biológica, real. O amoralismo diante das situações é um verdadeiro pontapé na bunda de todos os escrúpulos e pudores, um amoralismo só igualado em Petrônio. A crítica social, literária e moral de suas novelas chegam ao paroxismo e fazem de Boccaccio um grande moralista que polui tudo que gozava de grande credibilidade à época.
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Carla Valle 25/01/2009

Algumas histórias são tão engraçadas que você não sente estar lendo um livro de centenas de anos. Vale a pena ler!!


ffearful 27/06/2020

Um excelente livro!
Simplesmente fantástico! Não é à toa que Boccaccio é considerado o pai da prosa italiana e, juntamente com Petrarca e Dante Alighieri, expoente do Renascimento Italiano. Há tempos ansiava por essa leitura. Aconteceu dela me ser oportuna, devido à pandemia do Corona Vírus, nisso, afirmo que: decorridos séculos após a escrita de O Decamerão (Príncipe Galeotto), seu objetivo principal, até mesmo único, foi mantido, o entretenimento dos ociosos. Levando em consideração o contexto em que as novelas foram escritas (contadas, Boccaccio, afirma apenas ter escrito), são sensacionais, além de ser um quadro perfeito da sociedade da época, seja no aspecto político, social ou econômico. Me diverti horrores, dei boas gargalhadas. Em, "Conclusão do autor", temos a cereja do bolo desse grande clássico da literatura italiana. Indico muito!

A edição que eu li, foi a da Nova Fronteira, embora seja linda e até "luxuosa", a revisão do texto deixou algumas arestas.
Naiana 05/12/2022minha estante
Li essa edição da Nova Fronteira também, você foi gentil, há alguns erros que a revisão deixou passar que doem e quase me fizeram abandonar a leitura.




Naiana 05/12/2022

Tradução dos costumes e vida de uma época
Com quase 700 anos que foi escrito, O Decamerão é o livro mais antigo que já li, retrata um período histórico bem específico e marcante, o final da Idade Média com os surtos da epidemia de peste e a grande mortalidade europeia. Iniciei essa leitura acreditando que o livro iria tratar exatamente deste período e me surpreendi ao ver que não era exatamente assim.

O Decamerão inicia dando um breve relato em como a peste assolou a Europa e mais especificamente a cidade de Florença, onde a narrativa se passa, e através dessa ambientação somos apresentados a um grupo de sete jovens moças (Pampineia, Fiammetta, Filomena, Emília, Laurinha, Neifile e Elisa) que estavam agrupadas na igreja de Santa Maria Novella e em meio a discussão sobre vida e morte resolvem sair da cidade para gozar um pouco da vida que ainda lhes cabe e tentar esquecer as angustias que aquele cenário de mortes constante as envolve. Encontrando três jovens rapazes (Pânfilo, Filóstrato e Dioneio), enamorados de umas e parentes de outras, decidem ir para um pequeno vilarejo próximo a cidade de Florença, onde ocupam um castelo com seus servos e ali passam 15 dias a se deliciar com os prazeres do campo. Ao primeiro dia decidem nomear uma rainha ou rei que irá governar a cada dia, definindo como iriam passar o dia, em meio a passeio, jogos e piqueniques, e ordenando aos servos como proceder, com apenas uma constante a cada dia, após a sesta iriam se reunir para contar pequenas novelas a respeito de um tema escolhido pela rainha ou rei na véspera, findando o dia com a escolha do novo reinado, com muita música, cantoria e danças. Desta forma somos introduzidos a novelas sobre o amor, tragédias, comédias, críticas sociais e ao clero, burlas e atos de magnificência, entre outros, mas sempre demostrando o quanto aquele grupo de atém as normas sociais de conduta e honra, apesar dos personagens de suas novelas não obedecerem a mesma ordem em sua maior parte.

Ao todo temos 10 jornadas condizentes aos reinados de cada um dos jovens do grupo e a um dia, sendo os outros 5 dias referentes aos dias santos e de cuidados das mulheres, onde não há um soberano reinando. A cada jornada são narradas 10 novelas e ao todo somos presenteados com 100 narrativas de cunho histórico, baseado em fatos ou anedotas da época.

Não é um livro para ser lido às pressas, ele retrata a sociedade e costumes de uma época, seja pela forma como os jovens se comportam e conduzem o seu isolamento em meio a epidemia que os assola, quanto através de suas narrativas, nas críticas a um clero corrompido e cheio de lascívia, ao retrato familiar onde a traição é comum e o engodo é comum, às burlas cometidas entre casais, amigos e conhecidos, atitudes de honra, cavalheirismo, entre tantos outros. Nem todas as novelas são fáceis de ser lidas, algumas a violência domestica é tratada como algo banal e comum, direito do esposo e defendido pelas jovens ali presentes. Estupro e atentado a inocência também são retratados como coisas cotidianas e para conseguir ir até o fim precisei lembrar sempre que se tratava de um livro escrito há 700 anos, onde existe muitas semelhanças com a nossa sociedade, principalmente em relação a narrativa inicial sobre como a peste assolou a Europa e o comportamento da população em relação a isso (as semelhanças chegam a ser absurdas quando lembramos quanto tempo se passou entre as duas calamidades), mas também ao comportamento da família tradicional e conservadora, assim como diferenças gigantescas relacionadas a sociedade, as ideias e ideologias vigentes em cada época. Não que não ocorra mais violência doméstica, estupro, machismo (seria ótimo que não ocorressem mais), mas isso não é mais tolerado nem aceito como antes, ainda bem.

Avaliando o livro por este lado, onde vemos um retrato de uma época, de uma sociedade, é um livro excelente, muito bem escrito, de fácil entendimento (claro que a tradução colabora muito para isso) e que não é difícil observar que ainda persistem certos hábitos e costumes. Me diverti bastante com algumas novelas, odiei outras e gostei muito de que a cada nova novela há um pequeno resumo do que será abordado, isso nos prepara para que tipo de texto iremos ler.

Sobre a edição: li a edição de luxo da Nova Fronteira de 2018 em capa dura. A edição em si é belíssima, tanto o box, quanto os dois volumes, uma boa diagramação, tamanho da letra e papel confortáveis a leitura, senti falta do fitilho, mas dá para passar sem ele. As notas sobre os personagens históricos ou baseados neles ficam ao rodapé, que para mim facilita muito a leitura, mas a edição deixou a desejar na revisão, há alguns erros de tradução, grafia, concordância, e alguns destes chegam a ser grotesco como dividir a palavra consequência na quebra de linha em “conseq- ência” e esquecer de colocar a primeira letra do nome do personagem. Pode ser parecer bobagem, mas para uma edição de luxo e uma editora de renome como a Nova Fronteira são grandes erros e me incomodaram a ponto de querer desistir de ler.

Enfim, não amei pelas questões de divergências de opinião de época, mas não me arrependo de ter lido, me trouxe um conhecimento maior de como era a sociedade no final da Idade Média, seus hábitos, costumes, as mudanças na nobreza com casamentos por dinheiro com membros da burguesia emergente. Ter um aprofundamento do que aprendemos nos livros de História, que deixou de se algo que imaginava através de pontos citados, e passei a ver através de uma leitura que demonstra como esses pontos de fato ocorriam.

Se tem interesse em clássico e em narrativas que traduzem o comportamento e vida de uma época da História, vale ser lido.
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jota 30/03/2020

Dez dias, cem histórias...

Giovanni Boccaccio (1313-1375) é um dos mais importantes autores do Trecento (período inicial do Renascimento italiano) juntamente com Dante Alighieri (1265-1321) e Francesco Petrarca (1304-1374). Sua obra mais famosa é Decamerão (ou Decameron), escrita entre os anos de 1348 e 1353. Ela se desenrola numa vila isolada de Florença durante dez dias, ou dez jornadas, conforme os vocábulos do grego antigo “deca” e “hemeron”. Nesse período sete moças e três rapazes, fugindo da devastadora peste negra que assolava a Europa desde 1340, passam muitas horas contando histórias perfazendo uma centena delas, dez por dia, cada jovem narrando uma diariamente. De um modo geral são narrativas curtas, de poucas páginas e algumas podem ser consideradas simples anedotas, nem sempre lá muito engraçadas, espirituosas talvez. É o caso das novelas da Sétima Jornada, quase todas extremamente curtas.

Para Edoardo Bizzarri, autor da Introdução à Leitura de O Decamerão (edição 2018, Nova Fronteira): “As novelas de O Decamerão apresentam os mais diferentes tipos de narração; vão do conto complexo, rico de enredo, à simples anedota e à piada; obedecem às mais variadas inspirações, do cômico ao trágico, do burlesco ao heroico; tratam dos mais diferentes assuntos. Tanto é assim que nelas se reflete toda a sociedade contemporânea, nos seus múltiplos aspectos, do plebeu ao cavalheiresco, da burguesia culta àquela exclusivamente mercantil.” Certo, é isso mesmo, mas o conjunto das narrativas me pareceu meio desigual quanto ao interesse que pode despertar no leitor comum para prosseguir a leitura até o final do volume. Afinal de contas, são cem histórias, muita coisa. É verdade que não há nenhuma narrativa enfadonha, mas algumas parecem um tanto ingênuas, com muitas coincidências e desfechos resolvidos de modo rápido, homens e mulheres que se apaixonam perdidamente, sem remorso por traírem seus cônjuges ou noivos, raptos de donzelas e esposas, religiosos entregues ao sexo etc. A se levar ao pé da letra as histórias de Boccaccio, parece que a Idade Média de seu tempo não foi tão entrevada assim, teve muita diversão...

Uma característica bastante acentuada nos textos de Boccaccio é que os religiosos são quase sempre mostrados em ângulos desfavoráveis: são lascivos, hipócritas, desonestos, apegados a bens materiais, pecadores, o que tornou a obra suspeita entre as autoridades católicas. Na Décima Novela da Nona Jornada, um padre, “Donno Gianni, por instância do compadre Pedro, faz o feitiço destinado a transformar sua esposa em égua; quando vai para aplicar a cauda, o compadre Pedro, dizendo que não quer cauda, arruína o efeito todo da mandinga.” No filme homônimo de Pier Paolo Pasolini, rodado em 1970 e baseado em nove histórias do livro, essa novela foi muito bem transportada para a tela e provoca risos no espectador. Ela é apenas um dos textos em que Boccaccio fustiga os religiosos, há vários outros. Veja abaixo um trecho da Terceira Novela da Sétima Jornada em que “O frade Rinaldo deita-se com a comadre; o marido encontra-o na alcova com ela; e ela e o frade fazem-no crer que estavam encantando os vermes do afilhado.” Boccaccio escreve:

“Ah! Vitupério deste mundo arruinado! Esses frades não se envergonham de aparecer gordos, de aparecer com rostos corados, de aparecer efeminados em suas roupas e em todas as suas coisas; e eles não o fazem como as pombas, e sim como procedem os galos cheios de empáfia, de crista erguida e peito empolado; e isto é ainda pior. Deixemos de lado a circunstância de eles terem suas celas repletas de frascos, de pomadas e de unguentos; nelas abundam as caixinhas cheias de doces, as ampolas e as pequenas garrafas contendo águas cheirosas e óleos aromáticos; abundam os garrafões de malvasia, de vinhos gregos, bem como de outros vinhos; tanto é assim que tais celas nem parecem mais celas de frades, e sim lojas de especiarias, ou casa de unguentários, àqueles que as contemplam.”

Mesmo com toda sua crítica aos membros da igreja católica as histórias de Boccaccio sempre foram apreciadas pelos leitores (ou ouvintes) desde sua época, quase seiscentos e setenta anos atrás, senão não seriam tão conhecidas ainda hoje em dia. Grande parte delas traz, entre vários temas tratados, episódios amorosos, eróticos, aventureiros e casos pitorescos com tons dramáticos ou cômicos etc. Alguns críticos acham possível que Boccaccio tenha influenciado autores ingleses como Geoffrey Chaucer (de Os Contos de Cantuária) e até mesmo Shakespeare. Impossível não recordarmos Romeu e Julieta, deste último, no enredo da Sétima Novela da Quarta Jornada. Vejamos: “Simona ama Pasquino; os dois se encontram juntos, num horto. Pasquino esfrega, nos próprios dentes, uma folha de salva; e morre. Simona é presa; e, desejando mostrar ao juiz como foi que Pasquino morreu, também esfrega nos dentes uma daquelas folhas; e, semelhantemente, morre.” Esta é apenas uma de algumas histórias ditas tristes, de amores impossíveis ou finais trágicos, que encontramos no volume. Mas a maioria termina bem ou de modo engraçado, destaque-se.

Algumas novelas dariam, não sei se ótimos filmes, mas certamente alguns roteiros bastante movimentados. É o caso da Sétima Novela da Segunda Jornada, num resumo do próprio Boccaccio: “O sultão da Babilônia põe uma filha em viagem, para ela se casar com o rei do Garbo. Através de numerosas peripécias no decorrer de quatro anos, a moça cai nas mãos de nove homens diferentes, em lugares diversos. Finalmente, restituída ao pai, ainda como pucela [donzela, virgem], vai a moça para junto do rei do Garbo, como tencionara antes, para ser sua esposa.” Esta, como as demais histórias, até mesmo as bem curtas, são abertas com uma pequena sinopse onde Boccaccio as resume e antecipa o final. Melhor não ler as sinopses, portanto.

Já que se falou em Pasolini acima, o diretor italiano filmou algumas dessas novelas, nove dentre as cem, especialmente aquelas em que podia exibir cenas de nudez e sexo (como quase sempre fazia em suas obras) ou com alguma comicidade. De certo modo ele conseguiu captar um tanto do espírito da obra boccacciana sem alterar muita coisa na versão do texto para a tela. Ver o filme pode ser útil para quem não pretende encarar o texto volumoso mas deseja conhecer um pouco desse importante autor florentino. A Primeira Novela da Terceira Jornada teve sua transposição fiel para o cinema com a história de “Masetto de Lamporecchio [rapaz forte e bem apessoado que] faz-se mudo e torna-se hortelão de um convento para mulheres; e elas competem entre si para se deitarem com ele”, nas palavras do próprio Boccaccio. Temos aqui a combinação perfeita de erotismo (ou sexo mesmo) com a pesada crítica aos religiosos de sua época – como já foi destacado antes -, no caso freiras sacanas que tornam possível a realização de um “milagre”.

Vi no IMDb que essa mesma novela sozinha ganhou em 2017 um longa-metragem canadense, The Little Hours, cujo título brasileiro ficou sendo A Comédia dos Pecados, mas que não foi muito bem avaliado por críticos ou espectadores. Boccaccio até que foi bastante levado ao cinema e isso desde o início do século passado. Em 1910, na própria Itália, foi rodado um curta-metragem contando as aventuras de “Andreuccio de Perúsia, [que] indo a Nápoles, a fim de comprar cavalos, é surpreendido, numa noite, por três graves acidentes; escapando com vida de todos, regressa à própria casa com um rubi.” Essa história é a Quinta Novela da Segunda Jornada e também está no filme de Pasolini, num de seus episódios mais engraçados. Bem, mas era para falar do livro, não tanto de filmes, não é mesmo?

Lido entre 06 e 29/03/2020. Minha avaliação da leitura: 3,5.
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