Henrico.Iturriet 25/03/2023
O que é e o que pode a literatura?
Partindo do início, gostaria de apresentar esse texto assim como a sua premissa inicial: ser uma reflexão diante do objetivo do belo, do artístico e de tudo aquilo que se delimita como dialógico, ou seja, em contato perene com o outro.
Todorov se contradiz em algumas partes, em primeiro lugar a sua critica do marxismo-leninismo que confunde com estalinismo. Essa confusão não é prática para sua análise, aliás, é contraprodutivo. O regime soviético e a sua ?pseudo-coletivização? não teve no comunismo seu auge, mas sim, a burocracia como modelo estatal. Ao não perceber as amarras ideológicas que formulava a propaganda ideológica e as consequências dela para o ensino de literatura, Todorov carrega uma amargura que deixa suas cicatrizes expostas. Eu respeito isso. No entanto, esse simples erro me incomoda porque pauta as análises de conceitos historicamente construídos como banais e operativas apenas com um materialismo-ideal, ou seja, que não compreende dados empíricos e não responde suas contradições.
Exemplo disso é quando levanta o ponto: ?toda obra de arte trabalha com a verdade, com o autor e sua respectiva obra, portanto, sempre é uma interação, mas que permite reconhecer o bom e o Belo? isto quer dizer ?a moral?. Aí que está, se temos essas concorrências durante os movimentos de interpretação literária durante a história europeia, temos que ter uma consciência de quando as coisas começaram a ser influentes tanto dentro quanto fora das obras. Não quer dizer que seu livro é ruim para uma introdução, mas o viés crítico é demandado principalmente para não confundirmos o que ele chama de ideologia e seu impacto na percepção.
Veja, se a obra de arte, seja qual o respectivo de sua produção atinge o espectador/perceptor/consumidor independente de provar ou não sua sincronicidade com a verdade absoluta, isto é, a verdade do autor e da obra em si, e em diálogo com o externo, não podemos compreender as consequências de determinada obra sem analisar suas capacidades de afirmação e mobilização. No momento em que uma obra como o ?Manifesto do Partido Comunista? influi sobre a consciência de muitos e transforma estruturas, tais quais influenciam pensamento como ?Utopia? de Thromas More, fico refletindo até que ponto a pseudo-individualidade das obras de arte serão ou não reconhecidas como transformadoras ou interacionais.
Se devemos ensinar, abarca-de uma moral, se há moral há estruturas e processos, além de conflitos. O bom é historicamente entendido e construído, fluido, transformasse. Se a imaginação não pode ficar na pendência de um mundo novo mas a ele recorre a construção de uma coerência interna de obra, a que conflito ou diálogo interno isso responde?
São perguntas que sempre se interpelam e voltam uma a outra em conflitos com a obra, o autor e suas respectivas condições sociais de produção artística e cultural. Ora, não seja por isso que o valor individual é eliminado, afinal, é dele que extraímos a experiência e a beleza literária da arte.
Li esse texto para a cadeira da faculdade e fico feliz por estar sendo submetido a tais reflexões. Então, fica a pergunta:
O que é literatura?
Para mim, literatura é relação.